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Sem bebedouros, alunos pagam pela água em escola no Rio Grande do Norte

Carteirinha de um aluno - Arquivo pessoal
Carteirinha de um aluno Imagem: Arquivo pessoal

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

21/07/2016 11h13Atualizada em 21/07/2016 12h25

Para evitar o consumo de água imprópria, pais de alunos do Centro Educacional Ironaldo Guedes Alcoforado, no município de São Gonçalo do Amarante (região metropolitana de Natal), estão pagando pela água dos seus filhos dentro do colégio.

O rateio gera uma taxa de R$ 4 por mês para cada aluno, segundo informou a secretaria do centro educacional, que atende 40 estudantes, com idades de 4 e 5 anos.

Pais entrevistados pelo UOL consideram essa taxa é abusiva. Eles argumentam que os filhos estudam na escola pública exatamente porque eles não têm condições financeiras.

A escola não possui filtros ou bebedouros.

Controle de quem paga

O verso das carteiras de identificação dos alunos, que é apresentada na entrada da escola, traz impresso o controle de pagamento da taxa com os meses do ano.

“Minha filha chegou em casa constrangida porque disse que os coleguinhas começaram a rir quando viram que ela estava com pagamento atrasado. A coordenação da escola passou na sala lembrando que quem estivesse devendo deveria fazer o pagamento o quanto antes e os colegas começaram a se olhar, observando quem pagou e quem não pagou”, disse a mãe de uma aluna. Ela pediu para não ter o nome informado para preservar a filha.

A mãe de um aluno de 5 anos, que também pediu para não ter o nome revelado, contou que se surpreendeu ao receber a carteira de identificação do filho com o controle de pagamento da taxa da água.

“Eu acho errado cobrar pela água. Na minha casa não compramos água mineral. Temos um filtro porque tudo está caro e a despesa é grande, sou assalariada. Agora, porque vou comprar água para a escola? Se a caixas d'água é suja, a escola tem de resolver esse problema. Até lá a escola é quem tem de pagar pela água mineral e não os pais”, afirmou a mãe do aluno.

Ela afirma que foi até o colégio para questionar a cobrança. Porém, o centro educacional informou que a medida foi acordada durante uma reunião de pais. “A direção disse que, como eu faltei à reunião, eu não podia reclamar do que foi acertado”, acrescentou.

A direção da escola ressalta que a cobrança não é obrigatória e que não houve constrangimento de nenhum aluno. Além disso, o controle do pagamento é feito numa lista guardada na secretaria e apenas pais e gestores têm acesso. 

A secretaria da unidade disse ainda que todos os alunos, adimplentes ou inadimplentes, têm acesso à água e não existe controle da quantidade que eles desejam tomar.

Taxa desde 2003

A gestora do colégio, Francisca Soares dos Santos, justificou que o controle da taxa da água foi impresso nas carteiras de identificação dos alunos por sugestão da mãe de um estudante e que a manutenção da taxa foi acordada em reunião com os pais no início do ano.

De acordo com ela, essa taxa vem sendo paga desde o ano de 2003, quando a escola era administrada por outra equipe.

Em 2009, quando Santos assumiu o cargo, os funcionários explicaram que a água da caixa não era apropriada para ser consumida pelos alunos e funcionários. Então, ela fez uma reunião, e as mães concordaram em continuar pagando a taxa.

“A água mineral é utilizada para fazer suco, fazer achocolatado e cozinhar porque a água da caixa de água não é recomendada para ser usada na alimentação dos alunos. Passei para as mães que a água não é usada somente para beber, é usada para cozinhar. As mães acharam também que levar uma garrafinha era pouco para os filhos passassem o tempo na escola. Então, elas decidiram que poderíamos continuar com a taxa”, explicou.

A Secretaria de Comunicação de São Gonçalo do Amarante informou que a limpeza na caixa d' água é feita normalmente. Além disso, explica que os bebedouros não foram instalados porque os pais optaram pela compra da água mineral para os filhos.

O órgão ainda informou que o colégio recebe água fornecida pela Caern (Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte) e que o líquido que chega às torneiras não é potável. Por isso, alega que a escola não achou necessária a instalação de filtros de água.

A reportagem entrou em contato com a Caern e foi informada de que ela não opera o sistema de abastecimento de água em São Gonçalo do Amarante. Segundo a Caern, a água do município é de responsabilidade do SAAE (Serviço Autônomo de Agua e Esgoto), operado pela prefeitura.