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Palavrão, hino do time, crônica. Veja o que pode zerar sua redação no Enem

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

26/10/2016 15h41

Para fazer uma redação bem-sucedida no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), o estudante precisa expor sua opinião sobre o tema proposto, apresentar argumentos que a defenda e propor como aquele problema poderia ser solucionado --tudo isso em uma média de 30 linhas.

Todo esse esforço argumentativo, no entanto, pode vir por água abaixo se:

  • com o texto o participante ferir os direitos humanos;
  • fugir ao tema; não atender à estrutura dissertativo-argumentativa;
  • deixar a "Folha de Redação" em branco;
  • escrever um texto com até sete linhas;
  • colocar palavrões ou palavras de calão e desenhos na redação ou
  • parte do texto estiver deliberadamente desconectada com tema proposto.

Na edição do ano passado, mais de 53 mil candidatos tiraram zero na redação do Enem. Coordenadores de redação de cursinhos dão dicas de como não zerar essa parte da prova. Confira.

1) Leia a Declaração Universal

“Se a banca detectar trechos com posicionamentos contra os direitos humanos, ou seja, racistas, machistas, homofóbicos, xenofóbicos, esse candidato certamente tirará zero na redação”, afirma o coordenador de redação do Anglo, Sérgio de Lima Paganim.

Para que isso não aconteça, a coordenadora de redação do Poliedro, Gabriela de Araújo Carvalho, aconselha os candidatos a estudarem a Declaração Universal dos Direitos Humanos. O texto não é longo e pode ser encontrado neste link: http://bit.ly/2f7Mo6E (o link encurtado é seguro).

“O Enem se baseia na Declaração Universal, tem um direcionamento humanista, que busca no candidato que ele queira fazer parte de uma mudança na realidade social brasileira. Então, eu aconselho aos alunos lerem pelo menos os 15 primeiros artigos da declaração”, explica Carvalho.

Ela cita como exemplo algumas redações feitas na edição de 2012 do exame, cujo tema foi “O Movimento Imigratório para o Brasil no Século 21”.

“Os textos que dão base para que o estudante faça a redação traziam alguns problemas enfrentados pelos imigrantes no Brasil. Então algumas redações defenderam que era melhor não deixar os imigrantes entrarem no país. Só que isso fere os direitos humanos”, exemplifica.

2) Foco no tema

O aluno precisa ler atentamente todas as recomendações dadas no enunciado do caderno de redação, além dos textos de apoio dados pela banca para não correr o risco de fugir ao tema.

“É preciso aproveitar os recursos dados pela banca nos textos de apoio. Além disso, ele precisa recorrer aos conhecimentos acumulados na experiência de vida e no ensino médio, como nas disciplinas de história, sociologia, literatura. Ele precisa ser capaz de selecionar o que é pertinente para discutir o tema”, diz Paganim.

3) Tenha uma opinião, mostre-a

Toda essa capacidade argumentativa tem que vir na forma de um texto dissertativo-argumentativo, ou seja, quem escrever um poema, uma crônica, uma narrativa, vai levar zero nessa parte da prova. “Esse texto não pode ser genérico e ter comentários variados sem uma opinião sólida. O estudante precisa tomar partido”, diz.

Segundo Paganim, o principal problema das redações costuma ser a falta de opinião sobre o tema. “Costumam aparecer textos que falam diversos aspectos do assunto, sem definir ideia dorsal. Outro problema comum são os raciocínios simplistas. Não adianta ter uma estrutura organizada se a visão de mundo é bastante simplificada, se o texto tem argumentos fracos, questionáveis, que carecem de fundamentação”, afirma.

Carvalho acrescenta que o aluno precisa lembrar-se de fazer uma proposta de intervenção no final do seu texto. “O candidato precisa dizer quem vai resolver aquele problema levantado, se vai ser o governo, se será no âmbito familiar. Essa solução precisa estar conectada com o texto. Não adianta ele argumentar no texto que cabe ao governo resolver determinada questão, e sugerir no final que o problema seja tratado na família”, explica.

Paganim aconselha aos estudantes que nos dias que antecedem o Enem intensifiquem a leitura de textos opinativos de veículos de comunicação. “Editorial, artigos de opinião, entrevistas podem trazer análises de temas parecidos aos da prova. Isso pode ajudar o candidato”, explica.

4) Até 30 linhas de texto

Se o candidato escrever um texto a partir de oito linhas terá a redação considerada pela banca, mas segundo Paganim é pouco provável que ele consiga defender suas ideias com tão poucas palavras. “Escrever pouco pode significar que o aluno deixou de argumentar. Ele não deve perder a oportunidade de mostrar à banca o repertório acumulado”, diz.

Uma média de 30 linhas é o ideal, segundo ele. “Dá para estruturar o texto de maneira organizada, estruturada, que começa dando a opinião sobre o tema proposto, expor os argumentos e reflexões sobre ele e sustentar um parágrafo de fechamento que proponha uma intervenção sobre o problema exposto. Essa estrutura facilita a apresentação do raciocínio”, diz.

Vale lembrar que após serem encontradas redações com receita (de miojo) e trecho do hino do Palmeiras, o MEC definiu que textos com ter partes desconectadas podem ficar com zero.

5) Nem sempre rascunho é uma boa ideia

No Enem, o estudante tem cerca de 3 minutos para responder cada pergunta. Por isso, só dá para reservar uma hora para conseguir ler as instruções e os textos de apoio da redação, refletir sobre o tema e escrever o texto na "Folha de Redação". Administrar o tempo é essencial, dizem os professores.

“Escrever rascunho pode ser um problema. Aconselhamos os estudantes a treinarem antes, cronometrarem quanto tempo levam para fazer o texto e levar em consideração a importância que a redação tem para o curso escolhido”, afirma Gabriela.

Se o aluno fizer um rascunho e por algum motivo não conseguir passá-lo para a "Folha de Redação", ela será considerada em branco e ele levará zero nessa parte da prova.

No entanto, para aqueles que já treinaram usando rascunho, Paganim aconselha que mantenham a estratégia. “Leva 15 a 20 minutos para passar a limpo a redação. Se vai fazer assim, o aluno precisa saber controlar melhor o tempo”, diz.

Segundo ele, uma boa dica é ficar de olho da troca das placas de meia hora por parte dos fiscais para a contagem do tempo, já que não se pode usar relógio no local de prova.

“Quem vai fazer rascunho pode dividir o tempo em até 20 minutos para reflexão, 20 minutos para fazer o rascunho e 20 minutos para passar para a Folha de Redação”, diz.

Quem não vai fazer rascunho pode usar dois blocos de meia hora. “O primeiro para ler os textos de apoio, refletir sobre o tema e organizar as ideias em um plano de texto. A segunda para escrever diretamente na Folha de Redação”, aconselha.