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Adiamento do Enem cria maratona para quem vai fazer vestibular em dezembro

A alagoana Fernanda Kelly Mello Freitas, 22, teve a prova adiada e vai fazer o Enem junto com outros vestibulares em dezembro - Arquivo pessoal
A alagoana Fernanda Kelly Mello Freitas, 22, teve a prova adiada e vai fazer o Enem junto com outros vestibulares em dezembro Imagem: Arquivo pessoal

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

02/11/2016 16h05

Esta será a quinta vez que Fernanda Kelly Mello Freitas, 22, vai fazer o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Ela já estava na fase de revisão dos conteúdos quando recebeu a notícia de que só vai fazer a prova daqui um mês. Fernanda faz parte dos 191.494 candidatos que farão o exame apenas nos dias 3 e 4 de dezembro. A medida foi anunciada pelo Inep nesta terça-feira (1º) em resposta à ocupação de 304 locais de prova em 20 unidades da federação.

A notícia não agradou a estudante, que sonha em estudar medicina.

“Será que eu vou ter vontade de sentar e estudar? Pensei que ia me livrar dessa prova no próximo final de semana, para focar nos outros vestibulares que tenho para fazer. Agora vou fazer o Enem bem próximo da data dos outros exames”, contou. Além do Enem, Fernanda vai tentar os vestibulares da Universidade Estadual de Alagoas e de uma faculdade privada.

“Isso pode ser um problema para quem vai tentar vestibular. A maratona vai ficar ainda mais cansativa”, avalia Gabriela de Araújo Carvalho, coordenadora de redação do Poliedro.

A estudante alagoana não chegou nem a receber a mensagem no Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), responsável por aplicar a prova, informando sobre o adiamento. Ela disse que soube que a Escola Estadual Lions Club, em Arapiraca (AL), havia sido ocupada e que esse seria seu local de prova. Juntou os pontos, entrou na Página do Estudante e lá havia uma mensagem de que a prova dela havia sido adiada.

“Fiz todo um planejamento para fazer a prova agora em novembro. Este último mês seria de revisão, mas recebo a notícia de que terei mais um mês para fazer a prova. Se eu já estava com o meu sistema nervoso abalado, agora estou mais ainda. Não sou um robô, sou feita de carne e osso”, desabafa.

Insatisfação

Enem 1 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O carioca Matheus Fidelis, 19, disse que o adiamento da prova acabou com seu planejamento
Imagem: Arquivo pessoal
O SMS chegou na manhã desta quarta-feira (2) para o estudante carioca Matheus Fidelis, 19. Ele prestaria o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) na unidade do Colégio Pedro 2º que fica no centro do Rio de Janeiro, mas a escola está ocupada por estudantes secundaristas contrários à PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 241 e à reforma do ensino médio proposta pelo MEC (Ministério da Educação).

“Quando eu vi a mensagem, pensei que era mentira, que fosse um trote. Mas fui pesquisar na internet, entrei no Twitter,e vi que era verdade que a prova tinha sido adiada para algumas pessoas e que eu era uma delas”, disse. Fidelis recebeu, além do SMS, um e-mail do Inep. “Também entrei na Página do Estudante e estava lá a informação”, acrescenta.

O estudante não ficou feliz com o adiamento. “Sei que é um mês a mais de estudo, mas o adiamento da prova acabou com o meu planejamento para esta semana. Eu ia fazer a prova no próximo final de semana e depois disso ia ficar mais tranquilo, relaxado. Agora vou ter mais um mês pela frente”, disse.

Fidelis disse que, “apesar dos pesares”, vai aproveitar esse tempo a mais para estudar para a redação. “É o que eu tenho mais dificuldade. Vou ter mais um mês, mas não acho que isso vai me dar vantagem em relação aos candidatos que farão a prova no próximo final de semana”, disse o estudante, que sonha em entrar no curso de educação física com a nota do Enem.

Vantagens?

Apesar de o adiamento significar um mês a mais de estudo para mais de 191 mil inscritos, professores ouvidos pelo UOL afirmam que isso não fere a isonomia do exame nem fará diferença nos resultados que serão obtidos pelos estudantes.

“O Inep tem um banco de questões. Se acontece algo com a prova que vai ser aplicada, eles têm condições de substituí-la por outra prova que tenha as mesmas características. Então a prova que vai ser aplicada em dezembro deve ter o mesmo nível de dificuldade, as mesmas características, daquela que vai ser aplicada no próximo fim de semana”, explica Paulo Moraes, diretor de ensino do Anglo.

O Inep já disse que os resultados do Enem serão divulgados, igualmente, no dia 19 de janeiro e que os alunos que fizerem as provas nos dias 3 e 4 de dezembro não serão prejudicados pela mudança no calendário da prova.

Sobre a “vantagem” de ter um mês a mais para estudar, os professores dizem que esses dias não farão diferença na hora do resultado. “Quem vai fazer a prova em dezembro em teoria teria a vantagem de ter mais tempo, mas isso também prolonga a ansiedade dele sobre o exame. Quem vai fazer a prova agora também pode ficar ansioso com a ideia de que outras pessoas terão mais tempo para estudar. Isso pode atrapalhar ambos os grupos na hora da prova”, opina Moraes.

Era necessário adiar?

A medida do Inep causou insatisfação para Fernanda, mas ela não culpa as ocupações. “Eles estão certos em ocupar as escolas e os apoio, porque também penso no meu futuro como estudante. Se não estou lá com eles, é porque preciso estudar. Também sou contra a PEC”, disse.

A estudante afirmou que o Inep poderia ter lidado melhor com as ocupações, sem precisar adiar a prova para tanta gente. “O Inep não deveria lesar os alunos. Poderiam ter remanejado essas pessoas para outras escolas. Não entendo por que não fizeram isso.”

Isso também é uma questão para a Gabriela Carvalho. “Essa era uma questão que já existia na época das eleições [municipais]. Foi tranquilo, houve diálogo com as ocupações. Na condição de educadora, vejo que o Inep nem tentou dialogar com o movimento, encontrar outras saídas que não fosse adiar as provas. Me aparece que existe uma estratégia para colocar a opinião pública contra as ocupações.”

Durante o anúncio do adiamento, a presidente do Inep, Maria Inês Fini, afirmou que não seria possível simplesmente substituir os locais de prova. "Não se trata de trocar A por B. A aplicação do Enem exige um trabalho de logística do espaço físico muito grande para atender alunos inscritos que têm necessidades especiais, lactantes... É desenhada a aplicação de uma maneira dependendo da necessidade dos alunos. Vamos fazer uma nova pesquisa e ver quais serão os novos locais para esses alunos", explicou.

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