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Há 46 anos, professora prepara alunos para o vestibular: "Amo o que faço"

Professora Vera Antunes, coordenadora do Curso e Colégio Objetivo - Divulgação
Professora Vera Antunes, coordenadora do Curso e Colégio Objetivo Imagem: Divulgação

Marcelle Souza

Colaboração para o UOL, em São Paulo

04/11/2016 06h00

Na maior cidade do país, uma professora tem quase status de celebridade, não pelas aparições na televisão (que ficam mais frequentes nesta época do ano), mas pelos seus 46 anos dedicados a turmas de ensino médio e de cursinho pré-vestibular.

Vera Lucia da Costa Antunes, professora e coordenadora do Curso e Colégio Objetivo, não caminha pela praia nem vai buscar a neta na escola sem reconhecida por um ex-aluno. “Muitos hoje são juízes, médicos, jornalistas, tem o governador de São Paulo [Geraldo Alckmin (PSDB)]”, lembra. “Quando a minha sobrinha nasceu, o médico que fez o parto me disse: professora, fui seu aluno.”

Aos 68 anos e sem planos de deixar a sala de aula, ela diz que os vestibulares e o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) mudaram muito nas últimas décadas e exigem que o aluno saiba o conteúdo, consiga interpretar o enunciado com clareza e seja capaz de apresentar soluções aos problemas que envolvem temas da atualidade. Aos professores, cabe ensinar o conteúdo, motivar os vestibulandos e ajudá-los naquilo que for necessário, afirma.

Na entrevista a seguir, ela se lembra das aulas que dava para as bonecas na infância, dos professores que a inspiraram e diz que o segredo para ter motivação depois de tantos anos de carreira é a relação que estabelece com os alunos “de amor, de carinho”. 

UOL - Por que a senhora decidiu se tornar professora?

Vera Lucia Antunes - Desde menina eu sentava as minhas bonecas e dava aulas para elas. Sempre gostei e quis ser professora. Daí, quando eu já estava fazendo a escola normal, que hoje é o ensino médio, eu decidi que queria dar aula para crianças. Quando terminei a escola normal, pensei ‘quero fazer faculdade’. Nessa época, dei aula para o supletivo, de alfabetização, mas quando entrei na faculdade [ela estudou na Universidade de São Paulo], eu já comecei a lecionar para o ensino médio. Daí, o Objetivo me convidou para escrever o material [didático], e já faz 46 anos que eu dou aula lá. Eu adoro o que eu faço, sou felicíssima como professora. 

Nesse período, por quais mudanças passaram o ensino médio e os vestibulares?

O ensino médio sofreu uma evolução à medida em que os vestibulares também mudaram. Antigamente, as questões eram muito mais simples, hoje elas exigem raciocínio do aluno, que ele saiba contextualizar o problema da atualidade, relacionar com o conhecimento dele. Não que as questões fossem fáceis antes, mas agora o vestibular não pode só ficar perguntando da matéria, é preciso que os alunos saibam relacionar os fatos. 

O Enem faz 18 anos em 2016. Ele também mudou muito nesse período?

O Enem começou em 1998 com aquela coisa de que o aluno tinha que ler um texto e saber interpretar, o que é muito importante, porque se o aluno não compreende uma questão de matemática, por exemplo, ele não consegue resolvê-la. Então, o Enem tinha essa preocupação com a compreensão do aluno, mas à medida em que os anos passaram, o Enem se aproximou dos vestibulares, era preciso ter conteúdo, dominar física, matemática, ter os conteúdos fundamentais. Não adianta só compreender, agora tem que ter conhecimento, tem que saber aplicar esse conhecimento que você aprendeu. Então, as universidades passaram a confiar no Enem, porque viram que ele realmente diferencia o aluno preparado. 

Como um professor percebe que um aluno está preparado para o Enem e as provas de vestibular? 

Na verdade, hoje a maioria dos vestibulares vai cobrar a compreensão de texto do aluno, que ele saiba aplicar o que aprendeu, e está na mesma linha do Enem. Então, hoje a maneira de estudar é muito semelhante. Os professores têm que perceber se o aluno está preparado, se tem dificuldade.

Cabe ao professor notar se ele tem um problema e ajudar a resolver, passar exercícios, tirar dúvidas. As pessoas que estão ligadas ao magistério sabem que têm esse papel, esse compromisso, e os alunos que têm um professor preocupado com o seu desempenho ficam mais motivados. Nesse sentido, o Enem conseguiu mostrar a todas as escolas que é necessário esse empenho, não dá para passar por passar, o aluno tem que aprender, e é importante mostrar para o aluno que ele é capaz.

Nessa reta final, como os professores, a escola e a família podem ajudar o vestibulando?

Você tem que falar: ‘tenha calma’, ‘você já estudou’. Tem que ir devagar, relaxar um pouco, tirar as dúvidas, tentar solucionar alguma dificuldade. Os professores e a escola têm que mostrar que os alunos são capazes, aumentar a autoestima deles, que têm que ir com tranquilidade. É importante que a família confie no filho, não cobre demais, ele já está se sentindo cobrado pela própria situação. 

Quais professores serviram de inspiração para a senhora?

Eu lembro de muita gente, a professora dona Ofélia, a dona Dulcília, a dona Guimar, o professor Negrão, e da faculdade tem o professor Aziz Ab'Saber, com quem fiz pesquisa de campo, e muitos outros. Eu acho que todos me ensinaram a ter um amor pelos alunos, nunca ter preguiça de atender um aluno, o compromisso com a aprendizagem, que tem que se atualizar, evoluir. Aprendi muito com esses mestres.

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