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Confusão entre estudantes na UTFPR termina em delegacia

Rafael Moro Martins

Colaboração para o UOL, em Curitiba

23/11/2016 15h32Atualizada em 23/11/2016 17h52

Um início de confronto entre estudantes favoráveis e contrários à ocupação do campus central da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), em Curitiba, ontem à noite, terminou com registro de ocorrência numa delegacia da cidade na madrugada desta quarta-feira (23).

Em postagem em rede social, o movimento Ocupa UTFPR afirmou que "indivíduos contrários à ocupação chegaram em grupo frente à entrada da Silva Jardim e, mesmo com a presença da ronda da Polícia Militar na quadra, mulheres e companheiros também foram agredidos"

A PM, que foi acionada e impediu o conflito, localizou no local uma bolsa que continha uma faca, pedras de calçada, "bombinhas caseiras" e uma touca balaclava. A corporação informou que ninguém assumiu a propriedade do material apreendido. Na revista pessoal dos envolvidos, não foram encontrados "objetos ilícitos", segundo a PM, que registrou boletim de ocorrência no local. Ninguém foi preso ou detido.

Ao UOL, a polícia civil informou que alguns estudantes foram a uma delegacia na Vila Lindóia, zona sul de Curitiba. Ali, receberam guias para realizar exame de corpo de delito para comprovar agressão no IML (Instituto Médico Legal).

"Muito medo"

As histórias que a reportagem colheu de quem estava na UTFPR no momento do confronto, ontem à noite, variam conforme o lado em que estavam.

"Estávamos recolhendo a barraca [onde ocupantes ficam do lado de fora do campus] no início da noite. De repente, eles chegaram. Pareciam cerca de uns 20. Vieram reunidos, rasgando nossos cartazes e indo para cima de quem estava ali. No meio da confusão, um deles tentou agredir um professor", narrou uma estudante de 25 anos, que cursa na UTFPR seu segundo curso de graduação e participa da ocupação.

"Eu e um amigo interviemos. Dois dos caras [do grupo contra a ocupação] vieram e começaram a chutar minha perna. Levei vários chutes. Minha perna tem hematomas, meu amigo teve cortes na perna. Não parece ser só de queda. E ele estava usando jeans", disse ela, que, no final da tarde desta quarta, se preparava para ir ao IML realizar o exame de corpo de delito.

"Quando vimos que a coisa ia pegar fogo, gritamos pela PM, havia uma viatura na esquina. Mas eles demoraram a agir. Estamos com muito medo", falou a estudante.

Um jovem de 20 anos, contrário à ocupação, contou história diferente. "Eu e um grupo de alunos que se conheceu ali, na hora, resolvemos nos organizar para tirar os cartazes [com dizeres de protestos dos ocupantes], que denigrem nossa universidade, e sujam um lugar público. De repente, um grupo [favorável à ocupação] que estava do lado de fora e outro que saiu de dentro da UTFPR começou a agredir dois garotos que estavam com a gente. Um deles estava levando um mata-leão. Voltamos para tirá-lo dali."

"Dois dos nossos foram agredidos, mas nada muito grave", disse o estudante, que, como a colega, pediu para não ser identificado temendo represálias. Da mesma forma, nenhum deles diz ter visto alguém portando as pedras, bombas e faca que a PM apreendeu no local.

"Não posso acusar ninguém de ser dono daquilo", afirmou o estudante contrário à ocupação. Ele também disse não fazer parte do UTFPR Livre, grupo a que os ocupantes atribuem a responsabilidade pelo confronto.

Segundo o advogado Vitor Leme, os agredidos, que deveriam ir ao IML ainda nesta quarta, fazem parte do grupo que ocupa o campus da UTPFR. A secretaria da Segurança Pública não soube informar se os estudantes haviam ido ao IML até o início da tarde desta quarta. Até o momento, nenhuma queixa foi registrada.

O estudante Luciano Cesar, 25, aluno de engenharia ambiental e porta-voz do grupo UTFPR Livre, classificou de "mentira deslavada" a acusação. "Não estávamos lá no momento em que houve a confusão. O que chegou até nós é que não havia ninguém portando bombas."

Uma pessoa que esteve dentro da ocupação nesta manhã relatou ao UOL que os ocupantes estão "tranquilos". "Eles pedem um diálogo com o MEC (Ministério da Educação)", disse a fonte, que pediu para não se identificar por temer que isso prejudique o diálogo com os estudantes, avessos à exposição do caso na imprensa.

Ontem, a Justiça Federal deu mais 48 horas de prazo para que a polícia federal cumpra mandado de reintegração de posse da UTPFR. A instituição está sem aulas desde a segunda-feira (21).