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Em 10 anos, cai fluxo de jovens de 18 a 29 anos que frequentam a escola

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

02/12/2016 10h00

Dados da pesquisa SIS 2016 (Síntese de Indicadores Sociais), produzida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostram que o percentual de jovens com idade entre 18 e 29 anos que deixaram de frequentar a escola em dez anos aumentou. As informações foram divulgadas nesta sexta-feira (2) e compreendem números obtidos entre 2005 e 2015.

Segundo o estudo, 31,5% dos jovens de 18 a 24 anos frequentavam regularmente a escola em 2005. Dez anos depois, o percentual caiu para 30,7%. No mesmo período, fluxo de jovens de 25 a 29 anos na escola foi de 12,6% para 11,4%, respectivamente.

Em relação aos mais novos, os dados mostraram o volume de estudantes com idades entre 15 a 17 anos frequentando a escola cresceu pouco --de 81,6% para 85%. Apesar disso, em 2015, 1,6 milhão de jovens dessa faixa etária haviam abandonado a escola.

Os organizadores da pesquisa não justificam os dados, mas apontam algumas tendências que podem ajudar a refletir sobre os números divulgados.

Uma linha de raciocínio destaca o alto índice de repetência no sistema de ensino nacional como um dos fatores para o abandono da escola. O problema impacta diretamente a relação entre a idade do aluno e a série em que ele está matriculado –mais conhecida como distorção idade-série.

“Esse indicador representa a proporção de estudantes de 15 a 17 anos de idade no ensino regular com idade dois anos ou mais acima da esperada para a série/ano que frequentavam, em relação ao total de estudantes dessa faixa etária”, explicam os organizadores do relatório.

Com base nisso, é possível apontar que os jovens, principalmente os mais velhos, podem ter deixado de frequentar a escola por não estarem na série tida como adequada para a idade.

Além disso, a evasão escolar também pode ser resultado do impacto da renda familiar do aluno. Em 2015, 69,7% dos jovens de 15 a 17 anos pertencentes ao grupo com menor renda mensal domiciliar per capita abandonaram a escola e não concluíram o ensino fundamental.

Esse percentual foi de 39,4% para o grupo na mesma faixa etária que possuía a maior renda, conforme parâmetros definidos pelo instituto.

Fernando Messias Lavrini, de 23 anos, largou a faculdade para se dedicar à empresa familiar - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Fernando passou a trabalhar menos nos últimos anos
Imagem: Arquivo pessoal

Jovens trabalham menos

Outro destaque do SIS 2016 é que os aspectos em relação às condições de trabalho desses jovens melhoraram. Muitos deles passaram a ficar menos tempo no trabalho. Foi o que aconteceu com Fernando Messias Lavrini, 23.

O jovem atualmente trabalha no setor de vendas e de compras da distribuidora de vidros automotivos da família. Nos últimos anos, principalmente de 2015 para cá, viu o tempo que passava se dedicando ao trabalho diminuir consideravelmente.

“Apesar da crise, a empresa está melhor estruturada agora. Depois de muito trabalho, onde eu passava mais de 12 horas por dia ajudando meu pai, posso me dedicar a outras coisas e tenho mais tempo. Agora não costumo ficar mais do que nove, dez horas na distribuidora”, explica.

“Há cerca de nove anos estávamos praticamente falidos, mas conseguimos reorganizar a empresa e agora posso respirar”, acrescenta Lavrini, que chegou a largar a faculdade três vezes por conta do excesso de trabalho e da falta de tempo para se dedicar aos estudos. Hoje, a relação tempo de trabalho X renda se tornou mais vantajosa para ele com a melhora nos negócios.

Os dados do IBGE indicam que 37,2% dos jovens de 15 a 29 anos trabalhavam em média 45 horas ou mais em 2005. Dez anos depois, esse percentual caiu para 20,1%. Na mesma perspectiva, os jovens que passaram a trabalhar dentro da jornada de 40 a 44 horas semanais aumentou significativamente, indo de 37,2% para 50,9%.