SP: Greve de docentes e falta de uniforme preocupam pais da rede municipal

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

  • Arquivo Pessoal

    Para Raoni, greve e falta de uniforme está sendo "difícil e penoso" para ele e o filho

    Para Raoni, greve e falta de uniforme está sendo "difícil e penoso" para ele e o filho

As aulas das escolas municipais de São Paulo começaram no dia 6 de fevereiro, mas até agora a gestão do prefeito João Doria (PSDB) não entregou todos os uniformes e materiais escolares às unidades de sua administração. Ao todo, 987.305 alunos fazem parte da rede municipal. Destes, 576 mil recebem os uniformes da Prefeitura e 928 mil estudantes utilizam os materiais escolares, de acordo com a Secretaria Municipal de Educação.

Para agravar a situação, professores municipais votaram na noite de terça-feira (27) pela continuidade da greve, iniciada no último dia 15, dia da paralisação nacional contra a Reforma da Previdência. A categoria também é contra um projeto da Prefeitura que prevê mudanças na aposentadoria dos servidores municipais.

A combinação entre falta de uniformes, ausência de materiais e greve de professores tem preocupado pais dos alunos afetados. "As mães que trabalham e não têm suporte para as crianças têm se estressado muito", afirmou Lis Teixeira, mãe de um aluno de cinco anos que estuda na EMEF Tenente Paulo Alves.

A Secretaria Municipal de Educação informou nesta terça-feira (28) que os uniformes das EMEIs e EMEFs serão entregues o final de maio: roupas de verão até 30 de abril, e de inverno, até 31 de maio. Os materiais escolares serão entregues até o dia 15 de abril. 

Greve

Lis Teixeira conta que o filho deixou de frequentar a escola há duas semanas. Normalmente, ele teria aula das 13h às 19h, mas com a greve de professores o aluno só tem aula das 13h às 15h. Por morar longe e para não ter que custear a passagem para o filho ficar pouco tempo na escola, os pais decidiram aguardar os desfechos da paralisação dos professores. "Meu filho tem ido a todos os meus compromissos comigo", disse a mãe, que está desempregada atualmente.

Pamella Panta, mãe de uma aluna da Emei (Escola Municipal de Educação Infantil) Mitsutani, diz se sentir de "mãos atadas". Ela também está desempregada e já perdeu uma entrevista de emprego por não ter com quem deixar sua filha.

"Como pais, não temos nem opção do que fazer. A escola está 100% parada. Na minha rua tem sete crianças dessa mesma escola divididas em período de manhã e tarde. Estão todos em casa há três semanas. Eu pago perua [transporte escolar] para a minha filha. São R$ 100 perdidos porque pagamos o perueiro [motorista] e as crianças não estão tendo aula", explicou.

"Cansa muito. É óbvio que a criança sente. Aí ficamos no meio. Professores que precisam ter seus direitos preservados, mães que precisam que os filhos sejam cuidados para que possam trabalhar e sustentar a casa e as crianças que precisam aprender e se socializar", acrescentou Teixeira. Apesar da preocupação com a greve, a mãe diz apoiar as reivindicações dos professores.

Falta de uniforme

Outra mãe que está preocupada com os problemas da Emef é Camila Avanço, 35, mãe de uma aluna de cinco anos que também estuda na escola Tenente Paulo Alves. De acordo com Avanço, além da greve, a preocupação com a falta de uniforme e material escolar também é grande.

O uniforme escolar entregue pela Prefeitura é composto por cinco camisetas, uma calça, uma bermuda, uma jaqueta, um moletom, um par de tênis e cinco pares de meia. No kit do material escolar, os alunos recebem cadernos, lápis de cor, giz de cera, sulfite, entre outros.

"Tem muita criança indo de chinelo porque não tem tênis" disse. "Tem o atraso do material escolar, atraso do uniforme. Não tem um parecer fixo da delegacia de ensino [ou da secretaria de educação]. Dizem que até o final de março vai receber, mas liga na delegacia de ensino e ela não sabe informar se tem ou não um prazo", afirmou.

Ela conta que para amenizar a falta do uniforme a filha tem usado roupas antigas e "baratinhas" que ela compra, uma vez que está desempregada. "É o jeito", declarou.

Sobre o material escolar, a mãe afirmou que os professores estão utilizando as sobras dos materiais do ano passado para conseguirem manter as atividades com os alunos. "Acho que a escola até já tinha se programado, porque a professora da minha filha está usando os resíduos do ano passado."

Raoni Machado também tem um filho de cinco anos matriculado na rede municipal e conta que tudo está sendo "difícil e penoso" para todo mundo. Para ele, a falta de uniforme reflete em mais uma despesa para os pais.

"Pode parecer um tempo pequeno, mas as crianças têm uma rotatividade de roupa muito grande. Em vista a essa demora, a manutenção da roupa acaba sendo mais uma despesa. A gente vai levando porque não temos outra saída, dependemos do sistema público. Mas, sem dúvida, é estressante, é custoso, é muitas vezes desanimador como cidadão", disse.

Entrega dos uniformes e materiais escolares já começou

De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, os uniformes escolares das EMEIs e EMEFs começaram a ser entregues no dia 15 de fevereiro, e a distribuição está sendo feita em duas etapas. "Os kits de verão devem terminar em 30/4, e os de inverno, em 31/5", afirmou em nota.

Já os materiais escolares devem ser entregues nas EMEIs, EMEFs e EJA até o dia 15 de abril. A pasta informou que os kits começaram a ser entregues em 21 de fevereiro diretamente nas 13 Diretorias Regionais de Educação.

"A Secretaria Municipal de Educação esclarece que nenhum aluno pode ser impedido de frequentar as aulas se não estiver uniformizado", acrescentou.

O atraso na entrega dos kits se deu, de acordo com a Secretaria Municipal de Educação, porque quando a atual gestão assumiu, a licitação para compra do material escolar e kits de uniforme não estava concluída. A previsão de gastos em 2017 para material escolar e uniforme é de aproximadamente R$ 137 milhões.

Sobre a greve, a pasta, também por meio de nota, afirmou que ela "ostenta uma pauta de reivindicações focada em assuntos nacionais. Para os assuntos de âmbito local, a Prefeitura e a Secretaria de Educação estão, como sempre estiveram, abertas ao diálogo e à negociação com os professores."  

Problema recorrente

O atraso na entrega dos uniformes e materiais escolares não é novidade para pais e alunos. Em 2016, a Prefeitura, então comandada por Fernando Haddad (PT), também distribuiu os kits depois do início do ano letivo.

O atraso na entrega das roupas e calçados atingiu cerca de 124 mil crianças. Já o de materiais prejudicou 541 mil estudantes. Na época, o atraso foi atribuído a problemas de logística e ao tamanho da rede.

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