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RJ: secretário se demite e acusa governo de discriminar professores da Uerj

19.jun.2017 - Servidores protestam contra atraso de salário - Antônio Scorza/Agência O Globo
19.jun.2017 - Servidores protestam contra atraso de salário Imagem: Antônio Scorza/Agência O Globo

Giovani Lettiere

Colaboração para o UOL, no Rio

11/07/2017 17h46Atualizada em 11/07/2017 17h46

Durou pouco mais de cinco meses a gestão de Pedro Fernandes, 34, à frente da Secretaria de Ciência e Tecnologia e Desenvolvimento Social do Estado do Rio de Janeiro. Na segunda-feira (10), Fernandes se reuniu com o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) e pediu desligamento do cargo por não concordar com o esquema atual de pagamento dos servidores. Ele vinha criticando o Executivo fluminense quanto à diferença de tratamento dos professores da rede pública em relação aos da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

"Pedi demissão por não concordar com os critérios de pagamento de servidores. Os da Fazenda, Segurança Pública, Educação, Meio Ambiente e outros recebendo em dia e os nossos com quase quatro meses de salário atrasados. Não dá, para dentro do mesmo, Estado professores receberem tratamentos diferentes. Os da rede recebendo em dia e os da Uerj [Universidade do Estado do Rio de Janeiro] com atraso? Nossos servidores também são importantes", questionou Fernandes em entrevista ao UOL na tarde desta terça-feira (11).

O secretário garantiu que a conversa com o governador foi amistosa. "É uma posição do governo. Respeito, mas não concordo. Quero isonomia ao menos na mesma função dentro do Estado. Não há motivo para ter essa discriminação. Um médico que receba pela Secretaria de Saúde tem salário, e o meu, do hospital Pedro Ernesto, ligado à Uerj, sem pagamento. Isso inviabiliza a minha permanência no cargo. Não consigo explicar para o meu servidor que ele é menos importante do que os de outros hospitais e de outras escolas. Meu profissional está passando fome, sendo despejado de casa, numa situação muito complicada. Já havia falado que se continuasse assim eu iria sair. Agora ficou insustentável. Pezão entendeu tudo e vou ficar no cargo até ele conseguir um substituto. Ele pediu que eu fizesse a transição", explicou o secretário.

Fernandes deve ficar no posto até 31 de julho, já que em 1º de agosto ele pretende reassumir seu mandato de deputado estadual pelo mesmo PMDB na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro).

Ele afirmou ainda que não dava mais para esperar o acordo financeiro com a União, que está para ser assinado em Brasília e deve regularizar, em até 60 dias, o salário dos servidores do Rio.

"Eu acredito que vá acontecer o acordo com a União. Mas estiquei a corda e disse que ia sair. Não posso pensar no meu cargo. Tenho que pensar na minha palavra. Não estava conseguindo mais. Cheguei ao meu estopim. Achei que ia conseguir convencer o governo a acabar com esse tratamento diferenciado. Não posso ficar criticando o meu superior o tempo todo. Como deputado eu vou ter autonomia. Mesmo sendo do mesmo partido do governador. Sempre fui independente, mais crítico do que governista", disse ele, acrescentando que colocou em prática política de austeridade assim que assumiu a pasta, em fevereiro, acabando com carro oficial, com celular para os servidores de alto escalão e deixando o prédio alugado por R$ 500 mil mensais em que a secretaria funcionava na Glória, zona sul do Rio, e indo para um prédio do governo no centro.

Segundo ele, a dívida atual da secretaria com pagamento de servidores e fornecedores passa de R$ 500 milhões.

O UOL questionou Fernandes sobre como ficará a situação da Uerj, que passa por dificuldades e pode não começar o ano letivo de 2017 em 1º de agosto por falta de pagamentos. "A Uerj tem autonomia administrativa. Só mesmo a reitoria para dar essa resposta. Não passa pela secretaria", limitou-se a dizer Fernandes. 

O vestibular da instituição de ensino está marcado para este fim de semana. A pasta de Ciência e Tecnologia é responsável ainda pela Uenf (Universidade Estadual do Norte Fluminense) e pela Uezo (Centro Universitário Estadual da Zona Oeste).

Procurada pelo UOL, a assessoria de imprensa do governador disse que "ainda não há substituto" de Pedro Fernandes e não quis comentar as declarações do secretário demissionário.