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Professores criticam operação da PF na UFMG e lembram morte de reitor de SC

O reitor da UFMG, Jayme Arturo Ramirez, deixa a sede da PF em Belo Horizonte - Pedro Gontijo/Hoje Em Dia/Estadão Conteúdo
O reitor da UFMG, Jayme Arturo Ramirez, deixa a sede da PF em Belo Horizonte Imagem: Pedro Gontijo/Hoje Em Dia/Estadão Conteúdo

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

06/12/2017 17h23Atualizada em 07/12/2017 14h02

Membros da comunidade acadêmica criticaram a realização da Operação Esperança Equilibrista, deflagrada pela Polícia Federal nesta quarta-feira (6) na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) para apurar supostos desvios de recursos na construção do Memorial da Anistia Política do Brasil. A ação foi realizada com apoio da CGU (Controladoria Geral da União) e do TCU (Tribunal de Contas da União).

Na operação, Jaime Arturo Ramirez e Sandra Regina Goulart de Almeida, respectivamente reitor e vice-reitora da instituição, foram alvo de condução coercitiva pela PF. Estudantes, professores e membros de movimentos sociais foram até a sede da PF em Belo Horizonte para prestar apoio aos investigados.

De acordo com a PF, teriam sido gastos mais de R$ 19 milhões na construção e em pesquisas de conteúdo para uma exposição, “mas o único produto aparente é um dos prédios anexos, ainda inacabado”.

Em nota, o Sinpro Minas (Sindicato dos Professores de Minas Gerais) afirmou que “não há fatos que justifiquem a condução coercitiva e midiaticamente espetaculosa que se fez dos atuais gestores da universidade”.

O sindicato lembrou ainda a morte do professor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, ex-reitor da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).

Alvo de investigação da PF no âmbito da Operação Ouvidos Moucos, no último dia 14 de setembro, Olivo cometeu suicídio dias depois atirando-se de um shopping em Florianópolis. Na época da operação, 115 policiais foram mobilizados para prender o ex-reitor e outros seis professores da UFSC.

Olivo chegou a passar 30 horas na prisão. Mesmo solto, ele foi afastado do cargo. Dezoito dias depois, cometeu suicídio. “A minha morte foi decretada quando fui banido da universidade”, dizia um bilhete deixado por ele.

Viés político

Para o sindicato, há uma intenção de “viés político e mercadológico” por trás da operação da PF, que teria como objetivo “desconstruir e difamar a universidade pública brasileira para justificar sua privatização e seu desmonte perante a opinião pública”.

“Assim sendo, salta aos olhos o caráter político dessa ação em nível nacional – que já foi observada de forma análoga na Universidade Federal de Santa Catarina e que levou à morte do reitor Prof. Luiz Carlos Cancellier de Olivo”, complementa a nota.

Em nota, a Covemg (Comissão da Verdade em Minas Gerais) também criticou a operação, classificando-a como uma tentativa de “criminalizar” a UFMG.

“A construção do Memorial da Anistia em Belo Horizonte é um complexo projeto arquitetônico e de engenharia que envolve a reforma de prédios antigos e a construção de novos equipamentos em terreno com problemas estruturais. Portanto, o devido acompanhamento dessa obra, paralisada a fórceps pelo atual governo federal, não deveria ser objeto de ação policial e sim, de adequações financeiras, técnicas e administrativas”, diz o texto.

Procurada pelo UOL, a PF afirmou que a condução coercitiva é um instrumento legal de investigação e que por se tratar de uma medida menos onerosa para o Estado opta-se por ela ao invés da prisão temporária. A corporação não respondeu, no entanto, se houve uma mudança intencional na forma de realização da operação em relação ao ocorrido na UFSC.

Já a UFMG disse, em nota, que "por se tratar de apuração que tramita em sigilo, a universidade não pode se manifestar sobre os fatos que motivam a investigação em curso", mas que contribuirá para a apuração do caso.

A obra

Idealizada em 2008 a fim de preservar e difundir a memória política dos períodos de repressão, a obra do Memorial foi financiada pelo Ministério da Justiça e executada pela UFMG.

Em nota, a CGU informou que foram apurados, até o momento, desvios de mais de R$ 3,8 milhões de recursos vinculados ao projeto do Memorial.

Além disso, na execução e na prestação de contas da iniciativa, teriam sido verificadas irregularidades como falsificação de documentos, pagamento de estágio a pessoas sem vínculo estudantil, desvio de valores para outras contas estranhas ao projeto, além de gastos não relacionados ao objeto da obra.

Ainda segundo a CGU, o projeto inicial do museu teria passado de R$ 5 milhões para quase R$ 30 milhões, sendo que o valor gasto até o momento seria de quase R$ 20 milhões.

Na operação desta quarta, mais de 100 policiais federais e auditores da CGU e do TCU cumpriram 11 mandados de busca e apreensão. Pelo menos 8 mandados de condução coercitiva foram cumpridos.