Topo

Anhembi Morumbi demite 150 professores, diz sindicato

Fachada do prédio da Universidade Anhembi Morumbi, na avenida Paulista - Eduardo Anizelli/Folhapress
Fachada do prédio da Universidade Anhembi Morumbi, na avenida Paulista Imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

20/12/2017 15h15Atualizada em 20/12/2017 16h16

Pelo menos 150 profissionais estão sendo demitidos da Universidade Anhembi Morumbi neste fim de ano, de acordo com o Sinpro-SP (Sindicato dos Professores de São Paulo).

Segundo o UOL apurou com fontes internas da instituição, os cortes atingiriam professores, diretores e também coordenadores de cursos.

Em dezembro de 2016, de acordo com Celso Napolitano, diretor do Sinpro-SP, foram demitidos 90 professores. Segundo ele, a Anhembi Morumbi possui hoje cerca de 1.100 professores.

“O vilão da história no caso do ensino superior, na minha opinião, ainda não é a reforma trabalhista, é a reforma curricular”, disse Napolitano.

Administrada pelo grupo americano Laureate, a Anhembi Morumbi passa por um processo de reestruturação curricular, que será implementado na universidade a partir do ano que vem. As mudanças preveem alterações na carga horária dos cursos e também a diminuição de até duas horas de aula por dia. O semestre letivo, no entanto, passaria a ser mais longo.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Universidade Anhembi Morumbi afirmou que está “modernizando seu modelo acadêmico, propondo disciplinas mais voltadas à prática profissional”. De acordo com a instituição, a carga horária dos cursos seguirá os padrões mínimos estabelecidos pelo MEC (Ministério da Educação).

Apesar de não confirmar o número de demissões, a universidade afirmou que as movimentações no quadro de docentes acontecem duas vezes ao ano, em julho e dezembro, e que têm como base uma avaliação de desempenho.

“No encerramento de cada semestre letivo, as instituições de ensino superior promovem alterações no quadro de docentes, com contratações, promoções, realocações, substituições e desligamentos de professores, em função do ciclo natural do segmento”, disse a universidade.

Procurado pelo UOL, o MEC (Ministério da Educação) afirmou que as instituições de ensino superior, tanto públicas como privadas, possuem autonomia em relação a suas matrizes curriculares, desde que respeitem as DCN (diretrizes curriculares nacionais) estabelecidas pela pasta e os pareceres e resoluções emitidos pelo CNE (Conselho Nacional de Educação). Eventuais modificações, segundo o MEC, devem ser comunicadas imediatamente aos estudantes.

O MEC disse ainda que as instituições também têm autonomia para a demissão ou contratação de funcionários. As universidades, no entanto, devem manter por lei pelo menos um terço do corpo docente composto por mestres e doutores. Segundo a pasta, caso haja indícios de descumprimentos desses requisitos, as instituições podem sofrer sanções. 

Clima é de “velório”

Sob condição de anonimato, um professor que foi desligado da instituição disse ao UOL que o clima é de “velório total”. Segundo ele, os docentes estão sendo demitidos sem receber qualquer tipo de explicação.

“Não estão alegando nada. Ontem as pessoas estavam sendo demitidas presencialmente. O diretor geral estava chamando, com a assessora dele, e falando: ‘você está sendo demitido’. A pessoa perguntava ‘mas por quê?’, e a resposta era que simplesmente era uma política da empresa, sem falar o motivo”.

O professor disse ainda que a impressão é de que “não existe um critério claro” para as demissões, já que estão sendo desligados tanto docentes com “longo histórico de casa” como professores mais novos e com menor atribuição de carga horária.

Para ele, o número de demissões não se encontra dentro da média de desligamentos na Anhembi Morumbi nos últimos anos. “No curso em que eu lecionava está saindo metade do quadro de docentes. Nunca vi isso. No máximo, são dois ou três demitidos por semestre, e agora estão saindo nove. É muita gente”, disse.

Para Juliany Bernardo, aluna do curso de jornalismo, o clima entre os estudantes é de “completa ignorância”.

“Os professores podem falar pouco com a gente, para não se queimarem, e os coordenadores enfiaram a cabeça na areia por ordens de cima”, disse a aluna.

Ela classificou o anúncio das demissões no período em que os alunos já se encontram de férias como um “movimento cruel da diretoria”. “As informações estão vindo a conta gotas”, reclamou.

O que diz o Procon

Para Fátima Lemos, assessora técnica do Procon-SP, as mudanças configuram alteração unilateral de contrato --e, portanto, não poderiam ser feitas pela universidade.

“Foi oferecido para o aluno, para que ele ingressasse naquele serviço, um determinado curso: com uma grade horária e uma grade curricular com certa quantidade de aulas. Isso tem que ser cumprido”, disse.

“Reduzir carga horária é acelerar a transmissão do conteúdo. O aluno pode ser prejudicado em relação a isso”, complementou a assessora técnica.

Nesse caso, a orientação de Fátima é os alunos façam reclamações junto ao MEC, órgão responsável pelo acompanhamento pedagógico das universidades. Mas, segundo ela, também é possível reclamar com o Procon, em casos de descumprimento de oferta.

Outras demissões

Em julho deste ano, a FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas), que também pertence à rede Laureate, demitiu 220 docentes após um anúncio de reformulação na grade curricular.

No início deste mês, a Estácio de Sá anunciou a demissão de 1.200 professores por todo o país. Desde então, um embate tem sido travado na Justiça, que concedeu diversas liminares (decisões provisórias) contra as demissões, inclusive uma que suspende todas por 30 dias, mas que foi derrubada nesta segunda-feira (18).

No ABC paulista, a Universidade Metodista de São Paulo demitiu 50 professores, segundo o Sinpro ABC (Sindicato dos Professores do ABC). Para o sindicato, apesar de a instituição alegar corte de custos, a motivação das demissões é política.