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"Objetivo é acalmar os ânimos", diz novo ministro ao tomar posse no MEC

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

09/04/2019 14h42

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) empossou hoje à tarde o novo ministro da Educação, Abraham Weintraub, em cerimônia no Palácio do Planalto. Ele substituirá Ricardo Vélez Rodriguez, exonerado do cargo ontem após uma série de polêmicas na pasta e "falta de gestão", segundo o próprio presidente.

Em discurso, Weintraub disse que seu objetivo primeiro é "acalmar os ânimos" e não ser radical, mas aberto a diálogo.

"Eu tenho convicções políticas e elas guiam meus passos, mas não estou acima do mandato que o presidente recebeu do povo, da República, da Constituição, das leis. [...] Na função de ministro da Educação esse vai ser meu papel: entregar o que foi prometido no plano de governo. Bem sucintamente é [fazer] mais com o mesmo que a gente já gasta", declarou.

"Bem resumidamente, o objetivo é acalmar os ânimos, colocar a bola no chão, pôr para rodar republicanamente respeitando diferentes opiniões. Tem gente que fala que eu sou muito radical. Não sou radical. Sou aberto ao diálogo. O que você não pode é descumprir a lei, pregar a violência e esperar a tolerância", afirmou.

O novo ministro comparou a troca no ministério a um técnico de futebol que está escalando times e disse que, às vezes, alguém sai de campo não porque sej ruim, mas apenas por não ser o mais adequado para a função naquele momento. Vélez não compareceu à solenidade.

"Vejo a substituição como algo natural e, se eventualmente acontecer outras, inclusive comigo, tem de ser visto como algo natural. Não é uma coisa difícil. A gente tende sempre a ver os problemas, e não os acertos", falou, acrescentando não se tratar de algo pessoal.

Segundo ele, o foco do governo tem de ser entregar serviços e produtos melhores para a população em todas as frentes e se disse confiante na missão. "Eu acho que consigo entregar, tenho certeza de que vou conseguir entregar o resultado esperado."

Weintraub reconheceu que a escolha dele não é unanimidade, mas ressaltou que, em suas contas, cerca de 70% dos ministros da Educação nos últimos 16 anos eram professores universitários, como ele próprio o é na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e suas aulas eram extremamente disputadas. Após ser anunciado, o novo ministro foi criticado por alguns setores da educação por ter mais experiência na área financeira.

O novo ministro ressaltou ser técnico, ter experiência internacional, além de capacidade de gestão.

Ainda no discurso, Abraham Weintraub afirmou que o educador Paulo Freire é unanimidade no meio acadêmico e questionou o motivo pelo qual o Brasil não alcança resultados melhores mesmo investindo o mesmo que países ricos proporcionalmente ao PIB (Produto Interno Bruto) no setor. Ele também lamentou os resultados obtidos pelos estudantes brasileiros no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes).

Em determinado momento, de maneira descontraída, brincou com a dificuldade de as pessoas pronunciarem o seu nome. "Eu gostaria de falar também que, assim, as pessoas têm que relaxar um pouco ao falar meu nome, porque não é culpa de ninguém que meus pais resolveram colocar um nome complicado desse. Pode me chamar de 'Abrão' só que está ótimo", disse.

O presidente iniciou o discurso brincando não saber quem é o mais bonito dentre os irmãos Weintraub, mas falou que, se fosse para ver o mais feio, seria difícil escolher entre ambos. Mais tarde, elogiou a inteligência dos irmãos. Bolsonaro contou como se conheceram e a missão de Abraham Weintraub organizar uma viagem para ele - quando ainda deputado e pré-candidato - para conhecer modelos educacionais no Japão, na Coreia do Sul e em Taiwan.

Bolsonaro falou da necessidade de investimentos na geração de conhecimento, como pesquisas em ciência e tecnologia, para tirar as pessoas de crises financeiras. Ele falou que a intenção é recuperar a rede pública de ensino e citou que, hoje, até certas escolas privadas deixam a desejar.

"O que a gente quer é que [o ministro] faça dos nossos jovens, filhos e netos melhores do que seus pais e avós. É isso o que eu espero e toda a sociedade brasileira espera do Abraham. [...] Nós queremos uma garotada que comece a não se interessar por política como é atualmente nas escolas, mas aprender coisas que quem sabe possa levá-la ao espaço no futuro", disse.

Quem é o novo chefe do MEC

O novo ministro não é um nome ligado à educação.

Apesar de atuar como professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Abraham fez sua carreira no mercado financeiro, com mais de 20 anos de atuação no setor bancário, passando pela Quest Investimentos, Banco Votorantim e outras instituições.

Tanto Abraham como seu irmão, Arthur Weintraub, já atuam no governo Bolsonaro.

Abraham ocupava o cargo de secretário-executivo da Casa Civil, pasta comandada por Onyx Lorenzoni (DEM). Ele também fez parte da equipe de transição após a eleição de Bolsonaro, sendo um dos responsáveis pela área da Previdência.

Abraham acompanhou o presidente na viagem internacional a Israel, no começo da semana passada, e compareceu à reunião da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara sobre a reforma da Previdência, na quinta-feira (4).

Abraham é formado em Ciências Econômicas pela USP (Universidade de São Paulo), e tem mestrado e MBA em fundos de investimento e finanças internacionais pela FGV (Fundação Getúlio Vargas).

Desde junho de 2014, atua como professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e atua como diretor Executivo do CES (Centro de Estudos em Seguridade). Ao contrário do que o presidente afirmou, o título de doutor não consta no currículo lattes do novo ministro.