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Entidade de filosofia diz que fala de Bolsonaro é "ignorância inadmissível"

O ministro da Educação, Abraham Weintraub (primeiro à esquerda), durante fala do presidente - Reprodução
O ministro da Educação, Abraham Weintraub (primeiro à esquerda), durante fala do presidente Imagem: Reprodução

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

26/04/2019 15h38Atualizada em 26/04/2019 17h48

Associações ligadas à filosofia e às ciências sociais, junto de outras entidades que representam setores da educação, divulgaram na tarde de hoje uma nota em que chamam de "ignorância inadmissível" a pessoas que ocupam cargos públicos as declarações dadas pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) sobre duas áreas das ciências humanas.

Bolsonaro disse que o MEC (Ministério da Educação) estuda "descentralizar o investimento em faculdades de filosofia e sociologia", com o objetivo de "focar em áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte, como veterinária, engenharia e medicina". Já o ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou que tais cursos são "para pessoas já muito ricas, de elite".

Na nota, as associações afirmam que as falas demonstram ignorância sobre os estudos que são feitos nas áreas, sobre a relevância deles, seus custos, o público e ainda sobre a natureza da universidade. Para elas, esse tipo de "ignorância" não pode ser relevada na gestão pública.

"Esta ignorância, relevável no público em geral, é inadmissível em pessoas que ocupam por um tempo determinado funções públicas tão importantes para a formação escolar e universitária, para a pesquisa acadêmica em geral e para o futuro de nosso país", diz o texto.

As entidades afirmam que profissionais de outras áreas precisam de filosofia e sociologia no exercício da sua profissão para saber lidar com contexto social contra uma visão "tacanha".

Além disso, as entidades reforçam que proposta fere a autonomia universitária, garantida constitucionalmente.

O exemplo japonês é "notícia falsa"

A Anpof (Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia) também rebateu declaração de Weintraub sobre o Japão, citado pelo ministro como exemplo de país que reduziu a oferta de cursos de filosofia.

Em transmissão ao vivo no Facebook feita ontem, o ministro da Educação disse que o Japão tem colocado o dinheiro que seria para filosofia em faculdades que "geram retorno de fato, como enfermagem, veterinária, engenharia, medicina".

A Anpof afirma que a medida chegou a ser uma diretriz do Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia do Japão em 2015, mas a medida foi abandonada após críticas. "O governo recuou e afirmou que foi mal interpretado. A proposta foi inteiramente abandonada quando o ministro da Educação teve de renunciar ao cargo, ainda em 2015, por suspeita de corrupção. Da forma como o ministro Abraham Weintraub apresenta o caso trata-se, portanto, de uma notícia falsa", afirmou a instituição em nota.

Entidades falam em "desconhecimento" da produção científica

Também em nota, associações ligadas às ciências sociais criticaram as declarações de Bolsonaro e Weintraub, classificando-as como uma "demonstração do mais completo desconhecimento sobre a ciência e sobre a produção do conhecimento cientifico".

"A reflexão das ciências humanas e sociais, incluída a filosofia, tem sido tão crucial para a formulação e avaliação de políticas públicas como para o desenvolvimento crítico das demais ciências", diz ainda o texto, que é assinado por representantes da ABA (Associação Brasileira de Antropologia), da SBS (Sociedade Brasileira de Sociologia), da ABCP (Associação Brasileira de Ciência Política) e da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais).

"É inaceitável, portanto, que essas disciplinas sejam consideradas um "luxo", passível de corte em tempos de crise econômica como a que vivemos atualmente no país ou de "rebaixamento" por motivação político-ideológica", concluem as entidades no documento.

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