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Crédito próprio de faculdades privadas substitui Fies e dobra em 3 anos

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

13/06/2019 00h01

Oferecido diretamente pelas faculdades particulares aos alunos, o crédito estudantil próprio vem substituindo o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), programa do governo federal que financia cursos de graduação em instituições privadas de ensino.

Em um período de três anos, o percentual de calouros com um financiamento oferecido pela própria instituição de ensino quase dobrou: enquanto em 2014 eram 14,4%, em 2017 eram 28,3%. No mesmo período, o percentual de ingressantes matriculados com um contrato do Fies despencou de 21,3% para 5,7%.

É o que aponta o Mapa do Ensino Superior no Brasil 2019, levantamento divulgado hoje pelo Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior).

O cenário se completa com uma queda brusca no número de contratos oferecidos pelo Fies após mudanças nas regras do programa, em 2015, em uma tentativa de conter a inadimplência dos alunos. Desde 2014, o número de devedores é maior que o de adimplentes.

No auge do Fies, em 2014, foram 733 mil novos contratos. Já no ano seguinte, o número caiu para 287 mil. Para 2019, a previsão é de 100 mil vagas.

Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp, diz que o crédito educativo oferecido pelas faculdades funciona como um "paliativo" para a redução do Fies.

"Se o aluno tem que pagar, por exemplo, uma mensalidade de mil reais, ele pode parcelar e pagar 50% agora e 50% depois de formado, ou 30% agora e 70% depois de formado", explica.

Segundo ele, o crédito não é terceirizado para nenhum banco. "Um curso de quatro anos vai ser pago pelo aluno em oito anos, só que sem juros, porque a universidade não é uma instituição financeira", diz.

Mas há um reajuste anual na mensalidade. "Quando for pagar a outra parte, ele vai pagar parte da mensalidade vigente daquele curso. Então, se a mensalidade aumentar, ele vai pagar 70% de uma mensalidade maior", afirma. "A grande questão é que as escolas não têm uma capacidade de fazer isso em larga escala."

Ele defende o fortalecimento de uma política de estado para o financiamento estudantil --hoje, cerca de 75% dos estudantes de ensino superior estão em instituições privadas. De 2015 para 2017, o volume de alunos matriculados em cursos presenciais na rede particular passou de 4,81 milhões para 4,65 milhões.

"Nada vai substituir o Fies", diz. "Não tendo Estado, você vai ter que ter um pouco de crédito educativo próprio, um pouco de financiamento de banco e um pouco do Fies que ainda tem. Uma mistura de opções para tentar fazer com que o aluno não desista de cursar o ensino superior."