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Ele largou tudo para ensinar e inspirar, diz irmão de professor assassinado

O professor de geografia Bruno Pires de Oliveira, de 41 anos, assassinado em uma escola municipal em Águas Lindas de Goiás - Arquivo Pessoal
O professor de geografia Bruno Pires de Oliveira, de 41 anos, assassinado em uma escola municipal em Águas Lindas de Goiás Imagem: Arquivo Pessoal

Jéssica Nascimento

Colaboração para o UOL, de Brasília

03/09/2019 04h00

O quarto do professor de geografia Bruno Pires de Oliveira, de 41 anos, morto a facadas na última sexta-feira (30), dentro do Colégio Estadual Machado de Assis, em Águas Lindas de Goiás, está do jeito que ele deixou. A estante, cheia de livros, não esconde o que ele mais gostava de fazer: ensinar. Um aluno foi preso suspeito do assassinato.

Bruno era o irmão do meio. Nasceu em Taguatinga, no Distrito Federal. Morava com a mãe em uma casa perto do colégio, onde atuava como coordenador havia quase dois anos. Namorava com a professora de história Gracielle Tavares, que também trabalhava no colégio. Em uma rede social, ela desabafou: "Gostaria de ter mais um minuto com você".

"Vou sentir sua falta todos os dias e em qualquer instante, amor! Gostaria de ter mais um minuto com você para sentir seu abraço e poder beijar seu rosto nem que fosse pela última vez. Faria tudo, meu bem, para escutar sua voz novamente e sentir uma vez mais felicidade no meu coração", escreveu Gracielle no Facebook.

O Colégio Estadual Machado de Assis amanheceu fechado nesta segunda-feira (2). As aulas só vão voltar na semana que vem. O governo de Goiás decretou luto de cinco dias. No portão do colégio, várias demonstrações de carinho pelo professor. Um pano preto foi colocado e cartazes foram colocados. "Ele não foi o primeiro nem será o último", disse uma mensagem.

Cartazes na Escola Municipal Machado de Assis em homenagem ao professor Bruno de Oliveira, assassinado no colégio, em Águas Lindas de Goiás - Jéssica Nascimento/UOL   - Jéssica Nascimento/UOL
Cartazes na escola Machado de Assis em homenagem ao professor Bruno de Oliveira, assassinado no colégio
Imagem: Jéssica Nascimento/UOL

Otávio Rodrigues, irmão do professor, se emocionou ao falar sobre o crime. Disse que a família está destruída e que precisa buscar forças para cuidar de mãe, já idosa. Segundo ele, Bruno sempre teve o sonho de ser professor e que largou o emprego de comerciante para trabalhar no colégio.

"Nós temos um comércio da família, onde ele ganhava três vezes mais. Porém, preferiu largar tudo para lecionar, ensinar e inspirar. Bruno era muito companheiro, feliz, alegre. Amava a vida, os livros, os alunos. Vai fazer muita falta. Às vezes acho que tudo isso é um pesadelo", disse Rodrigues.

Livros no quarto do professor Bruno de Oliveira assassinado na escola onde lecionava em Águas Lindas de Goiás (GO) - Jéssica Nascimento/UOL - Jéssica Nascimento/UOL
Livros no quarto do professor Bruno de Oliveira assassinado na escola onde lecionava em Águas Lindas de Goiás (GO)
Imagem: Jéssica Nascimento/UOL

O sobrinho do professor Samuel de Oliveira, 20, disse ao UOL que considerava o Bruno como pai. Para ele, se existisse mais segurança nas escolas, o tio poderia ainda estar vivo. "Por que não fazem revistas? O aluno foi para escola com uma faca e tirou a vida do meu tio", afirmou o jovem.

A faca usada no crime por Anderson da Silva Leite Monteiro, 18, segundo a Polícia Civil, teria sido emprestada por outro colega, ainda do lado de dentro da escola.

Anderson foi preso no último sábado (31) e estava escondido na casa de parentes, em uma fazenda no município Nova Roma, a 255 km do local do crime. Em um vídeo gravado pela Polícia Militar, o suspeito diz que nunca foi a intenção matar o coordenador.

Segundo a Polícia Civil, o jovem cometeu o crime porque não gostou de ser retirado de um programa esportivo do colégio e foi tirar satisfação com o coordenador. Ele fugiu do local do crime em uma moto, deixando a faca no colégio. De acordo com a polícia, ele confessou ter fugido para escapar do flagrante.

"Eu não queria matar ele. Nunca foi minha intenção, eu não tenho passagem pela polícia. Sempre fui certo. Matei na hora da discussão. Fui beber água, porque estava passando mal. Tenho problema no coração. Toda minha família é cardíaca, sabe? Pedi pra continuar no projeto. Ele me chamou de vacilão e disse que não podia fazer nada. Era pra ser só um susto. Eu só queria cortar a barriga dele", disse no vídeo.

Ele sempre nos dava conselhos, diz aluno

C.D.O. é estudante do 8º ano e diz que professor Bruno era muito calmo, tranquilo e gostava de dar conselhos para o aluno. Ele afirma que ficou chocado com o crime e está com medo de voltar para a escola.

"Bruno não merecia isso. A sala dele era sempre aberta. Pedíamos conselhos, ele ajudava muito a gente. Vai fazer muita falta, com certeza. Agora, como vai ser voltar para escola e lembrar de tudo que aconteceu? Os alunos e professores precisam de segurança", disse o estudante.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente, do informado no primeiro parágrafo o crime ocorreu no Colégio Estadual Machado de Assis, e não na Escola Municipal Machado de Assis. O texto foi corrigido.