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Enem 2019: o que você pode aprender com quem já venceu o Nobel da Paz?

Vencedores de 2018: a ativista iraquiana Nadia Murad e o médico congolês Denis Mukwege - Getty Images
Vencedores de 2018: a ativista iraquiana Nadia Murad e o médico congolês Denis Mukwege Imagem: Getty Images

Carolina Cunha

Colaboração para o UOL

10/10/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Estude para o Enem 2019 a partir das histórias por trás do Prêmio Nobel da Paz
  • A premiação pode ser atribuída a pessoas ou organizações envolvidas em causas humanitárias
  • O Nobel da Paz é a honraria mais importante para líderes mundiais

Todos os anos, o Prêmio Nobel reconhece pessoas que se destacaram mundialmente em seis categorias: física, química, medicina, literatura, paz e economia. O Nobel da Paz, porém, é a honraria mais importante para líderes mundiais.

Entender a relação de vencedores dessa categoria com questões históricas e da atualidade é uma boa forma de se preparar para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019. Afinal, onde existe a luta pela paz, existe uma história de conflito, por exemplo.

Antes de mais nada, é preciso entender o Prêmio Nobel da Paz. Ele é entregue desde 1901 a homens, mulheres e organizações que trabalharam para o progresso da humanidade. Quem decide os ganhadores é uma comissão com membros da Suécia e da Noruega.

Foi o inventor sueco Alfred Nobel (1833-1896) quem criou o prêmio. Nobel era um rico industrial e químico que se destacou por descobrir a dinamite. Contrariado com o uso bélico da invenção, ele mudou seu testamento e definiu que parte de sua fortuna seria usada para premiar pessoas que prestaram grandes serviços à humanidade.

A partir de temas de história, geografia e atualidades pertinentes ao Enem, o UOL selecionou algumas histórias de vencedores do Prêmio Nobel da Paz. Veja a seguir:

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Nadia Murad e Denis Mukwege foram laureados pela luta contra a violência sexual como arma de guerra
Imagem: Frederick Florin/AFP

2018: Nadia Murad e Denis Mukwege

A jovem iraquiana Nadia Murad e o ginecologista congolês Denis Mukwege ganharam o Nobel da Paz por seus esforços contra o uso da violência sexual como arma de guerra.

Nadia Murad é yazidi, minoria religiosa do Iraque. Em 2014, o grupo terrorista Estado Islâmico (EI) proclamou a criação de um califado e desde então disseminou violência por diferentes cidades do Iraque e da Síria. O EI chegou a dominar grandes e importantes cidades iraquianas e provocou uma crise de refugiados no Oriente Médio.

A iraquiana foi sequestrada, estuprada e se tornou escrava sexual. Depois de conseguir escapar dos terroristas, Nadia se refugiou na Alemanha e se tornou uma das maiores vozes representantes de mulheres que sobreviveram ao cárcere sexual em conflitos.

Atualmente ainda existem meninas e mulheres yazidis que continuam desaparecidas e que provavelmente permanecem em cativeiro.

Denis Mukwege é um médico que ficou conhecido por recuperar mulheres vítimas de estupro durante a guerra civil na República Democrática do Congo. Localizado na África Central, o país sofre com conflitos há mais de uma década. Em 2017, mais de 1 milhão de pessoas foram forçadas a abandonar suas casas e se tornaram refugiadas. É um dos países mais afetados pelo chamado deslocamento em decorrência de conflitos.

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Malala tornou-se símbolo da defesa de educação de meninas
Imagem: Eduardo Anizelli/ Folhapress

2017: Malala Yousafzai

Em 2012, membros do grupo terrorista Talibã atacaram a tiros um ônibus que levava meninas para casa depois de um dia letivo. O alvo era uma das estudantes, Malala Yousafzai, que então tinha 15 anos e defendia publicamente o direito à educação para as meninas.

Dona de um blog no qual publicava seus pensamentos, Malala foi perseguida por ser considerada uma ameaça ao Islã. O regime Talibã adota de forma radical o Sharia (código de leis do islamismo) e as meninas são proibidas de estudar em escolas, universidades ou qualquer outra instituição educacional.

Depois de ser baleada na cabeça pelo Talibã, Malala foi para o Reino Unido e se tornou uma personalidade internacional em defesa do direito à educação para as meninas. Seu trabalho humanitário a levou a diversas partes do mundo onde esse direito é ameaçado. A paquistanesa é a pessoa mais jovem a ganhar o Prêmio Nobel da Paz.

2017: Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares

Existem quase 15 mil armas nucleares no mundo, arsenal mais do que suficiente para destruir o planeta. A Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares (ou Ican na sigla em inglês) é uma organização que trabalha para a eliminação radical do armamento nuclear no planeta, chamando a atenção para as consequências desastrosas para a humanidade e para o meio ambiente do uso das mesmas.

A escolha da Ican como vencedora surgiu num contexto internacional em que a Coreia do Norte realizou ensaios nucleares e disparos de mísseis balísticos.

A organização também redigiu um Tratado de Proibição de Armas Nucleares e faz esforços para obter a adesão dos Estados para sua ratificação. Em julho de 2017, foi firmado na sede da ONU o primeiro acordo internacional legalmente vinculante a proibir as armas nucleares. Ele ainda não está em vigor, pois depende da ratificação de pelo menos mais 55 Estados. O Brasil foi o primeiro país a assinar o tratado, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas.

A Ican também acompanha de perto o acordo nuclear do Irã. O pacto de 2015, assinado pelo Irã, Estados Unidos, Alemanha, China, França, Reino Unido e Rússia, além da União Europeia (UE), estabeleceu limites ao programa nuclear iraniano, em troca de alívios econômicos ao país. Com a saída dos EUA do acordo no ano passado, contudo, essas sanções foram reimpostas ao Irã, que também passou a reduzir seus compromissos.

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Juan Manuel dos Santos: ex-presidente firmou um acordo de paz entre o governo e as FARC
Imagem: Xinhua/Jhon Paz

2016: Juan Manuel Santos

O presidente da Colômbia recebeu o Nobel da Paz pelos esforços de pacificação em seu país, mergulhado num conflito armado que já dura mais de 50 anos e que causou 260 mil mortos.

As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) já foram a maior guerrilha das Américas. Em agosto de 2016, Santos firmou um histórico acordo de paz entre o governo do país e as Farc. A guerrilha concordou em entregar as armas, se tornou um partido político homônimo (tendo participado das últimas eleições) e ex-combatentes estão no processo de voltar para a vida civil.

No entanto, o processo de pacificação da Colômbia é longo e conturbado. Alguns antigos guerrilheiros afirmaram que vão voltar à luta armada. A violência também aumentou no interior do país, com a atuação de milícias em áreas antes ocupadas pela guerrilha, onde o governo falhou em estabelecer o controle territorial.

2012: União Europeia

Pode um bloco econômico contribuir para um mundo melhor? Em 2012, a União Europeia ganhou o Prêmio Nobel pela sua contribuição para o avanço da paz e da democracia na Europa. Para o comitê do prêmio, a UE foi fundamental para a transformação da Europa num continente de guerra para um continente pacífico.

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A União Europeia hoje enfrenta críticas de movimentos nacionalistas e “antieuropeus”
Imagem: Canaltech

A União Europeia foi criada oficialmente em 1992 e se tornou o maior bloco econômico do mundo, com 28 países da Europa. Suas origens remontam à Comunidade Econômica Europeia (CEE), criada em 1957, após a Segunda Guerra Mundial. A CEE tinha dois propósitos fundamentais: integrar a política e a economia da Europa e impedir, por meio dessa integração, o aparecimento de rivalidades semelhantes àquelas que deram origem à Primeira e à Segunda Guerras Mundiais.

O bloco representa hoje um processo bastante avançado de integração econômica, garantindo a livre circulação de pessoas, bens, serviços e capitais. Além disso, diversos membros adotaram uma moeda comum, o euro, e uma plataforma política e de valores democráticos, com o funcionamento de um Parlamento Europeu que possui responsabilidades legislativas.

Atualmente a UE está em meio a uma crise e enfrenta críticas de movimentos nacionalistas e "antieuropeus". Um dos maiores focos de tensão é crise migratória na Europa, a maior desde a Segunda Guerra Mundial. A elevada entrada de migrantes e refugiados na região pressiona a UE a dar respostas sobre sua política migratória e de proteção de fronteiras.

O bloco adota o princípio da livre circulação entre os Estados-Membros e caso os países decidam por novas medidas de contenção de migrantes, o espaço de livre circulação europeu pode estar em risco.

Outro problema é o fenômeno do Brexit. Em 2016, um referendo do Reino Unido votou pela saída da União Europeia. A decisão histórica foi chamada de Brexit. O temor é que essa decisão possa abalar o futuro do bloco e estimular outros países a fazerem o mesmo.

Um dos políticos mais importantes da campanha pró-Brexit foi Boris Johnson. Membro do Partido Conservador inglês e ex-prefeito de Londres, Johnson foi eleito primeiro-ministro do Reino Unido em 2019.

2007: Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas

Fundado em 1988, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) é uma entidade que reúne 2.500 cientistas de mais de 130 países sob a chancela da ONU. Os cientistas reúnem pesquisas que demonstram as descobertas e os efeitos do aquecimento global no planeta.

O trabalho do grupo dividiu o Prêmio Nobel da Paz com o vice-presidente americano Al Gore e foi laureado por seus esforços para aumentar e disseminar conhecimentos a respeito da mudança climática gerada pelo homem.

Os estudos do IPCC servem de base para a definição de políticas públicas de meio ambiente. Desde que Donald Trump assumiu a Presidência dos Estados Unidos (EUA), o IPCC sofre ataques que colocam em xeque sua credibilidade.

O presidente norte-americano já acusou o grupo de mentir sobre o aquecimento global. Em 2017, Trump anunciou a saída dos EUA do Acordo de Paris, tratado que define metas globais de redução de emissões de dióxido de carbono.

1993: Nelson Mandela

O líder da África do Sul foi reconhecido pela atuação pelo fim pacífico do regime do Apartheid e por abrir caminho para uma África do Sul nova e democrática. Mandela (1918-2013) foi líder do movimento contra o Apartheid, o nome dado ao regime segregacionista que vigorou no país a partir da segunda metade do século 20. O sistema negava à população negra direitos sociais, econômicos e políticos.

Mandela liderou uma campanha de desobediência civil e ajudou a consolidar a resistência ao regime como um movimento de massas. Protestos e manifestações, muitas vezes pacíficas, despontavam no país inteiro e eram duramente reprimidos. Mandela ficou preso durante 27 anos, entre 1964 e 1990. Em 1994, assumiu a Presidência da África do Sul e colocou fim aos quase 50 anos de Apartheid.

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Aung San Suu Kyi continua popular em Mianmar
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1991: Aung San Suu Kyi

Em 1988, a exilada política Aung San Suu Kyi retornou a Mianmar, antiga Birmânia, para liderar o movimento pela volta da democracia. O país vivia sob ditadura militar e Suu Kyi foi presa. Ela passou quase 15 anos sob prisão domiciliar, sem poder deixar o país nem receber a família. A estratégia de resistir de maneira pacífica e sua atuação política lhe rendeu um Nobel da Paz.

Em 2012, foi eleita para uma vaga no Parlamento em eleições históricas. Atualmente é Conselheira de Estado de Mianmar, posto da alta administração pública. Apesar do Nobel da Paz, a política é criticada pela comunidade internacional por negar a existência de um genocídio contra uma minoria muçulmana no país.

A etnia rohingya é uma minoria étnica e religiosa de Mianmar, sendo considerada uma das mais perseguidas do mundo. Embora vivam no país há séculos, o governo se recusa a reconhecê-los como cidadãos e negou-lhes status legal. Em 2017, após uma ofensiva do Exército em represália aos ataques de rebeldes ligados à minoria, as comunidades rohingyas foram brutalmente atacadas.

Em 2018, a ONU divulgou um relatório que responsabilizou o estado de Mianmar como responsável por genocídio e outros crimes internacionais contra civis rohingyas. Segundo a ONU, ataques em massa de militares já deixaram inúmeros mortos, além de 700 mil refugiados, a maioria vivendo em Bangladesh.

1964: Martin Luther King

Martin Luther King (1929-1968) foi laureado com o Nobel em 1964 por sua defesa dos direitos civis e sua liderança na resistência pacífica pelo fim do preconceito racial nos Estados Unidos. Com apenas 35 anos de idade, foi a pessoa mais jovem a receber o prêmio.

Em 1963, King proferiu o famoso discurso "I Have a Dream" (eu tenho um sonho), para mais de 250 mil pessoas, em Washington. Pouco tempo depois, em 1968, o ativista foi assassinado e entrou para a história como um símbolo da luta contra o racismo nos Estados Unidos, problema que ainda persiste no país.