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Mortes em baile em Paraisópolis podem cair no vestibular?

Protesto em frente à Secretaria de Segurança Pública de São Paulo contra a violência em Paraisópolis - Rovena Rosa/ABr
Protesto em frente à Secretaria de Segurança Pública de São Paulo contra a violência em Paraisópolis Imagem: Rovena Rosa/ABr

Giorgia Cavicchioli

Colaboração para o UOL

11/12/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Tema dificilmente cairá nas provas devido a antecedência que os exames são elaborados
  • Candidatos podem levar o tema para a prova de redação
  • Mortes podem ser tema de provas do vestibular de 2021

No dia 1º dezembro, 9 jovens morreram e 12 ficaram feridos após uma ação da Polícia Militar (PM) em um baile em Paraisópolis (zona sul de São Paulo). Segundo relatos de pessoas que estavam no local, os policiais tentaram dispersar um público de 5.000 pessoas que participavam do chamado fluxo. Os PMs fizeram uso de cassetetes, bombas de efeito moral, balas de borracha e munição química. O assunto levantou a discussão sobre o abuso e a violência policial na periferia.

Um tema de relevância nacional, como esse, pode cair nas provas de vestibulares que abordam assuntos atuais? Segundo fontes ouvidas pelo UOL, o tema dificilmente irá cair nos próximos exames. O motivo? As provas são feitas com antecedência - no período entre o final de 2018 e primeiro semestre de 2019 - para que possam ser revisadas antes de serem aplicadas.

De acordo com Renan Miranda, diretor pedagógico do curso Anglo, a experiência com anos anteriores mostra que fatos que acontecem tão perto do fim do ano são quase impossíveis de cair no vestibular em vigor. "As provas costumam ser fechadas por volta de setembro. As chances de assuntos do segundo semestre aparecerem é menor", diz.

Segundo Carol Achutti, professora de português e redação do curso Descomplica, no meio do ano, os temas para as provas já foram selecionados e o exame passa por uma revisão que é toda feita por uma banca de professores de diversas áreas do conhecimento (veja aqui temas da atualidade que podem cair). Durante a revisão, os elaboradores analisam a qualidade e pertinência das perguntas e conferem o gabarito.

O candidato a uma vaga no vestibular de 2020, no entanto, pode levar o caso de Paraisópolis para a sua prova - especialmente de redação. Se alguma prova de redação pedir, por exemplo, para que o aluno discuta sobre o processo de urbanização no Brasil, o estudante pode usar o caso de Paraisópolis para argumentar sobre o assunto. "As provas busca os temas da atualidade que trazem grandes reflexões", diz Miranda.

"A redação é a hora em que o aluno pode envolver a argumentação e o repertório. Ter boas referências te facilita para ter serenidade para fazer escolhas", constata Miranda. Segundo ele, quando o aluno traz em sua redação um tema como Paraisópolis, ele está mostrando que esteve atento aos fatos da atualidade e que também observou discussões sobre o assunto.

As universidades, segundo os professores, querem que o estudante seja uma pessoa que tenha boa leitura e interpretação da realidade. Por isso, os vestibulares trabalham com três camadas de abordagem para analisar o candidato. "A primeira é a interpretação, a segunda é comparar com outros eventos históricos que tenham acontecido e a terceira é entender as origens desses problemas atuais", afirma Miranda.

Achutti lembra que os treineiros deste ano podem levar o tema em consideração para provas do ano que vem. "As provas pedem temas de atualidade que tenham a ver com questões raciais, índices econômicos...questões sociais que a gente consiga relacionar com algum conceito", diz.