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Unicamp mantém tom crítico e aborda machismo, Bacurau e descolonização

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Imagem: Divulgação

Carolina Cunha

Colaboração para o UOL

12/01/2020 21h40

Resumo da notícia

  • Temas de redação abordaram micromachismo e a relação entre biodiversidade e sociedade
  • Prova de português trouxe questão sobre o filme Bacurau, de Kléber Mendonça Filho
  • Segundo dia de prova será na segunda (13)

A Unicamp manteve seu tom crítico na primeira prova da segunda fase do vestibular 2020, aplicada neste domingo (12). No exame de redação, os candidatos tiveram que optar por escrever uma crônica sobre micromachismo ou um roteiro de podcast sobre a relação entre biodiverisidade e sociodiversidade.

Os candidatos realizaram também uma prova dissertativa com dez perguntas, que cobrou as disciplinas de Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa e Inglês. Questões como o feminismo e o papel do Estado da comunidade apresentada no filme Bacurau foram cobradas.

Segundo professores de cursinho ouvidos pelo UOL, a prova manteve as suas características (veja aqui). "Foi bastante difícil, exigiu um certo envolvimento do aluno com questões sociais do Brasil. Foi uma prova muito crítica. O interessante da Unicamp é que ela exige o posicionamento do aluno, embora ela não seja tendenciosa", avalia Serginho Henrique, professor de português do Colégio Curso Objetivo.

Prova de português

"As questões de gramática cobraram também conteúdos muito tradicionais, como figuras de linguagem e interpretação de texto. Houve uma questão de interpretação vocabular, sobre o sentido da palavra "gambiarra", diz Henrique.

A pergunta mais polêmica (número 8) trazia uma referência ao filme Bacurau, do cineasta brasileiro Kléber Mendonça Filho e mostrava uma imagem do Instagram com uma palavra e pedia ao aluno para explicar por que "bacuralizar" é um neologismo e qual é o processo de formação dessa palavra.

"É uma interpretação bem ampla e muito atual. Mas mesmo quem não viu o filme poderia resolver a questão. O post tinha uma contextualização da palavra, como se fosse um dicionário. A prova já dá um recorte interpretativo do filme", avalia Henrique, do Objetivo.

Para o professor Vitor Ricci, do Cursinho Poliedro, essa foi uma prova coerente com a trajetória da Unicamp. "Ela trouxe questões interdisciplinares, em que gramática e literatura e interpretação se conversam. Foi uma prova extremamente atualizada. Isso se reflete nos temas das questões e nas redações. Esse ano a questão política aparece com clareza na pergunta sobre o filme Bacurau", afirma.

A prova tratou do colonialismo (questão 6), tema muito em voga na atualidade, e trouxe um relato sobre o dicionarista e historiador Nei Lopes, autor do Dicionário banto do Brasil, que propunha "descolonizar" o dicionário.

Uma questão que se destacou, a de número 7, foi a que trouxe duas letras de Caetano Veloso, a segunda em parceria com Gilberto Gil: Menino do Rio e Haiti. O estudante deveria mostrar as duas visões dos compositores."O Haiti é uma região geográfica diferente do Brasil, mas com questões parecidas na formação do seu povo", afirma Serginho Henrique.

A Unicamp abordou temas sociais de diferentes formas. A questão 4, trouxe o poema Um útero é do tamanho de um punho, de Angélica Freitas. O poema contemporâneo fala de gênero e a questão pedia para o aluno explicar as ambiguidades presentes no poema e figuras de linguagem.

Em Literatura, a Unicamp cobrou três obras obrigatórias: A teus pés, poema de Ana Cristina César, Quarto de Despejo, de Carolina de Jesus, e A Falência, de Júlia Lopes de Almeida.

As questões tiveram abordagens diferentes. "Um exemplo é o fragmento do texto que foi extraído do Quarto de Despejo. Há uma expectativa que o estudante reconheça tanto os recursos linguísticos quanto o contexto social",explica o professor de português Henrique Braga, do Anglo.

Para o professor Marcelo Maluf, do Oficina do Estudante, a questão de português mais difícil foi sobre a escritora Ana Cristina César. "É um texto moderno, contemporâneo, com uma linguagem absolutamente ágil. Dependendo do aluno, ele teve dificuldade de entender o que estava acontecendo dentro desse texto", acredita o professor de português Marcelo Maluf, do Oficina do Estudante.

Redação

A prova de redação trouxe duas propostas para o candidato: escrever um texto para podcast sobre biodiversidade ou uma crônica sobre micromachismos na sociedade.

Maria Aparecida Custódio, professora do laboratório de redação do Objetivo, avalia que a universidade manteve a sua característica. "Sem dúvida foram temas progressistas. A Unicamp está sempre antenada e traz propostas da atualidade, com temas que ela acredita que estejam presentes no cotidiano".

Segundo a professora, os temas não foram difíceis, mas os textos exigiram tempo do candidato. "Os temas foram fáceis. Mas achei a prova densa e longa, que testa a capacidade de leitura do candidato. Se o candidato não for bom leitor, pode ter problemas".

A primeira proposta pedia para o candidato relacionar biodiversidade e sociobiodiversidade. "Não tinha outro caminho. O candidato deveria defender a importância da sustentabilidade, da preservação da biodiversidade e destacar o papel das comunidades envolvidas na proteção dos biomas, como os indígenas", diz a professora do Objetivo.

A segunda proposta usou uma reportagem do jornal El País, que trazia uma lista com 13 exemplos de micromachismo. O candidato deveria elaborar uma crônica e relatar experiências pessoais ou situações vivenciadas parecidas com o texto de apoio.

"O aluno precisava se posicionar sobre um tema também muito atual, que é o machismo, mas não o machismo que a gente vem enxergando nos últimos tempos, mas o micromachismo - ideias e situações em menor escala, e que muitas vezes passam despercebidas pela maioria das pessoas, mas que ainda assim trazem a ideia nas práticas e posturas", diz o professor Antunes Rafael dos Santos, professor de português e diretor-pedagógico da Oficina do Estudante.

Para os professores, os candidatos devem ter preferido a segunda opção, pelo fato do podcast não ser um gênero muito usado em sala de aula. "A crônica é um gênero textual bastante trabalhado ao longo do ensino médio, treinado com exaustão", avalia o professor Antunes Rafael dos Santos.

Questões de Inglês

A prova de Inglês trouxe duas questões interdisciplinares.Para Aleksander Brunhara, professor de inglês do Colégio e Curso Objetivo, as questões apresentaram um nível alto. "Foi uma prova complexa e bastante difícil. Os alunos estão acostumados a ler o texto em inglês e achar a resposta no próprio texto. Na prova da Unicamp, ele tinha que fazer conexões não só com o inglês, mas saber as respostas corretas das outras áreas de conhecimento que não apareciam nos textos de apoio".

O professor chama a atenção para o enunciado, que pedia que as respostas deveriam ser redigidas em português. "O aluno que respondeu em inglês pode ter resposta anulada", alerta.

A primeira questão apresentava um gráfico sobre limites planetários. O estudante deveria abordar uma atividade de alto risco e relacioná-la à atividade humana. No item B, o estudante deveria explicar o processo biológico da homeostase nos seres humanos. A segunda questão abordava o memorial das Torres Gêmeas, construído após a tragédia do 11 de setembro. "Essas questões exigiram um conhecimento de geografia e política para que elas possam ser respondidas", avalia Vitor Ricci, coordenador do Curso Poliedro Campinas.

Segundo dia de prova

Na segunda (13), todos os candidatos fazem uma prova de com seis questões de matemática e quatro questões interdisciplinares (duas questões de ciências humanas e duas questões de ciências da natureza).

Além disso, o segundo dia traz uma prova de conhecimentos específicos, com 12 questões específicas de acordo com a área escolhida pelo candidato.

  • Candidatos da área de ciências biológicas/saúde: seis questões de biologia e seis questões de química

  • Candidatos da área de ciências exatas/tecnológicas: seis questões de física e seis questões de química

  • Candidatos da área de ciências humanas/artes: seis questões de geografia e seis questões de história, englobando conteúdos de filosofia e sociologia

Prova de habilidades específicas

As avaliações de habilidades específicas são exigidas aos candidatos de arquitetura e urbanismo, artes cênicas, artes visuais e dança. Os exames acontecem entre os dias 20 e 24 de janeiro e serão realizados somente em Campinas (SP).

Datas importantes

. Prova 2ª fase - 12 e 13 de janeiro

. Prova de Habilidades Específicas - 20 a 24 de janeiro

. Divulgação da 1ª chamada (para matrícula não presencial) - 10 de fevereiro

. Matrícula não presencial - 11 de fevereiro

. Divulgação da 2ª chamada - 13 de fevereiro

. Matrícula não presencial da 2ª chamada - 14 de fevereiro

.Período para cancelamento de matrícula - 17 a 19 de fevereiro

. Divulgação da 3ª chamada - 18 de fevereiro

. Matrícula não presencial da 3ª chamada - 19 de fevereiro

. Divulgação da 4ª chamada - 21 de fevereiro

.Matrícula presencial da 4ª chamada - 2 de março