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'Sempre tem aula vaga': pais criticam escola onde PM agrediu jovem em SP

Escola estadual Emygdio de Barros, na zona oeste, onde PMs agrediram estudantes - Carolina Marins / UOL
Escola estadual Emygdio de Barros, na zona oeste, onde PMs agrediram estudantes Imagem: Carolina Marins / UOL

Carolina Marins e Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

19/02/2020 17h55Atualizada em 20/02/2020 13h17

Palco de uma ação truculenta da Polícia Militar ontem (18), a escola estadual Emygdio de Barros, na zona oeste de São Paulo, com 1.500 alunos, tem os dias — e as noites — marcadas por aulas vagas e por reclamações de baixa qualidade do ensino.

Segundo a então diretora da instituição (que pediu para deixar o cargo hoje), um aluno de 18 anos havia sido expulso por excesso de faltas, mas se recusou a deixar a escola, e por isso a polícia foi acionada.

Na escola, policiais chutaram o aluno e apontaram arma para outro. A Secretaria Estadual de Educação afirma que o aluno ainda estava matriculado e que apura a situação.

Hoje, após vídeo com o episódio ter ganhado os jornais de todo o país, pais foram à escola hoje saber se haveria aula e se queixar da administração da escola.

Vídeo mostra PMS agredindo jovens em escola

"Não é de agora que o [colégio] Emygdio não está tendo aula direito. Não tem todas as aulas da manhã, nem de tarde e nem de noite. Quase toda sexta-feira eles são liberados", disse Daniela, cujo filho Carlos Eduardo, está matriculado na escola.

Ela também se queixou da falta de rigor no ensino. "Não vejo nem lição de casa", afirmou.

Ela e a mulher, Amanda, tentavam transferir Calos Eduardo para o período diurno. "Não dá para ele ficar de noite com essa situação", disse Amanda.

O relato foi corroborado pelo aposentado José Carlos, que tem dois bisnetos matriculados na escola no período da tarde. "O meu bisneto sempre volta para casa e fala que não não teve aula", disse.

Baixo desempenho e sem biblioteca

No Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, a Emygdio de Barros teve nota 4,1 no ensino fundamental em 2017, abaixo da média do estado de São Paulo, de 6,5.

Localizada no distrito do Rio Pequeno, no bairro do Butantã, a instituição recebe alunos também dos bairros vizinhos Jaguaré e da comunidade São Remo.

O edifício tem dois andares e 20 salas de aulas em que estudam 46 turmas em diferentes turnos: alunos do ensino médio de manhã e à noite, e alunos do sexto ao nono ano do fundamental. Apesar do tamanho, não tem biblioteca e laboratório de ciências. Mas conta com sala de leitura, um laboratório de informática com ao menos 16 computadores para os alunos e quadras poliesportivas, segundo dados do censo escolar de 2018.

Na escola, trabalham 120 funcionários e 68 docentes. As turmas são divididas em turnos, de manhã e de noite estão os alunos do ensino médio e a tarde os estudantes do 6º ao 9º do fundamental.

Famílias criticam ação da PM

O episódio de ontem ocorreu no período noturno, na entrada de algumas salas de aula do segundo andar. O estudante Matheus, 17, afirma que estava na sala quando os policiais chegaram procurando por um dos alunos da classe. Segundo ele, o rapaz se recusou a sair com os agentes e foi quando começaram as agressões.

Segundo o boletim de ocorrência, o aluno em questão diz que a escola tentou desligá-lo em janeiro, mas recorreu à Secretaria de Ensino, tendo sido reintegrado ao corpo de estudantes.

Seu horário de aula teria mudado do período da manhã para o da noite, o que o teria prejudicado, já "que trabalhava até as 20h". Ele teria perdido duas semanas de aula.

Hoje, familiares e alunos criticam a ação da PM.

"Achei errado tirar a arma. Se ele [o jovem] errou, tudo bem, mas não tinha que estar batendo, chutando a criança e nem puxar uma arma", disse José Carlos.

A aluna Beatriz, 13, considerou a ação uma "falta de respeito".

"O moleque saiu da sala de boa e o policial foi do nada e deu o soco na cara dele? O outro foi tentar defender o amigo e foi mais agredido, na escola! Falam que a escola é nossa segunda casa, mas como na minha casa vem policial apontar a arma na minha cara?", disse.

Pela manhã, alunos quiseram conversar com a diretora da escola para discutir a situação. Mas ela não estava — pela tarde, soube-se que ela pediu para deixar o cargo.

Um dia após a publicação desta reportagem, a secretaria de educação respondeu que "as faltas não justificadas [de professores] são descontadas e um professor eventual é chamado para cobrir ausências. Caso não haja professor disponível no momento, é feito cronograma de reposição de modo a não haver prejuízo pedagógico aos alunos".