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Decotelli oficializa saída do MEC após inconsistências no currículo

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Educação Carlos Alberto Decotelli - Marcos Corrêa/PR
O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Educação Carlos Alberto Decotelli Imagem: Marcos Corrêa/PR

Carla Araújo e Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

30/06/2020 16h50Atualizada em 30/06/2020 18h15

Nomeado ministro da Educação na última quinta-feira (25), Carlos Alberto Decotelli entregou sua carta de demissão hoje e será exonerado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) depois das acusações de que ele enfeitou o currículo com cursos acadêmicos não realizados. A informação foi confirmada pelo UOL.

Em entrevista para a CNN, o ministro ser um profissional de "gestão e de ambiente de sala de aula". Ele afirmou ter agradecido a confiança do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e que começou a desenhar um projeto para sua gestão no MEC.

Segundo ele, o que fez tomar a decisão de sair da pasta foi a Fundação Getúlio Vargas (FGV) ter informado que o economista nunca foi professor da instituição — o que Decotelli diz ser uma informação falsa.

Ele também afirmou que as "inconsistências" no seu currículo são consideradas, "no mundo acadêmico, como dissertações".

"O presidente me chamou e disse: 'Se até a FGV está negando que o senhor não é professor, então é impossível o governo continuar sendo questionado pelas inconsistências'. Foi aí que tornou-se inviável a minha continuidade", declarou em trecho de entrevista divulgado pela emissora.

O demissionário deixa o cargo antes mesmo de tomar posse. O atual secretário-executivo do ministério, Antônio Paulo Vogel, deve assumir a função interinamente. Antes de Decotelli, ele havia cumprido função semelhante.

O agora ex-ministro é economista, reservista da Marinha e se apresentava com uma larga experiência acadêmica, o que incluiria, segundo ele, os títulos de doutor pela Universidade de Rosário, na Argentina, e de pós-doutorado pela Universidade de Wuppertal, na Alemanha.

No entanto, após a nomeação, as duas instituições contestaram suas informações curriculares. O reitor da Universidade de Rosário, Franco Bartolacci, disse que Decotelli não concluiu o doutorado. Já a instituição alemã negou que ele tenha cursado pós-doutorado.

Após os questionamentos, o então ministro se apressou em fazer alterações em seu currículo disponível na plataforma Lattes. As controvérsias criaram um clima de pressão política que resultaram na queda de Decotelli.

A última pá de cal na passagem relâmpago pela chefia do MEC veio quando a FGV (Fundação Getúlio Vargas) negou que ele teria sido professor da universidade. A notícia irritou Bolsonaro e acirrou o lobby pela queda do ex-ministro.

O presidente chegou a elogiar o ministro publicamente, ontem à noite, e indicou que poderia bancá-lo no cargo. Segundo o mandatário, o subordinado estaria "enfrentando todas as formas de deslegitimação". Ressaltou, por outro lado, que Decotelli estava ciente de seu "equívoco" e do mal-estar causado por "inadequações curriculares".

Auxiliares, principalmente os ligados ao núcleo militar, ficaram incomodados com o desgaste trazido pelo novo ministro.

Além dos títulos não obtidos, Decotelli também exagerou ao se autodenominar oficial da Marinha, segundo revelou hoje a colunista do UOL Thaís Oyama.

Na verdade, ele pertence à categoria da reserva de Segunda Classe da Marinha —é um "RM2". Isso significa que ingressou sem concurso na Força para prestar lá um serviço militar temporário (no caso do ministro, um período bastante curto).

Ao contrário dos militares de carreira, os temporários não passam pelas escolas de formação de oficiais e vão para a reserva sem remuneração.