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Escolas particulares vivem incerteza e não sabem se abrirão em setembro

Filipe Redondo/Folhapress
Imagem: Filipe Redondo/Folhapress

Alex Tajra e Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

13/08/2020 04h00

Escolas particulares da capital paulista ainda não sabem se querem ou mesmo se poderão abrir as portas em setembro para a realização de atividades de reforço e acolhimento.

A possibilidade desta reabertura parcial foi anunciada pelo governador João Doria (PSDB) na última sexta-feira (7), quando também foi confirmado o adiamento da retomada das aulas presenciais para o dia 7 de outubro em todo o estado.

A Secretaria Estadual da Educação informou à reportagem que poderão ser realizadas, a partir de 8 setembro, atividades de reforço, recuperação, acolhimento individualizado, atividades esportivas, tutoria, plantão de dúvidas, laboratório de informática e ciências, sem que seja aplicado conteúdo curricular.

Essa reabertura no primeiro mês será opcional e permitida para escolas públicas e particulares que estiverem em regiões do estado que tenham permanecido na fase amarela do Plano São Paulo por pelo menos 28 dias.

O plano de reabertura econômica do governo estadual prevê cinco fases — a vermelha é a situação mais crítica em relação à curva de contágio do novo coronavírus e a azul, é o cenário controlado. Na fase amarela, que é a terceira, há liberação do funcionamento de shopping centers, bares, restaurantes e comércio com restrições.

Decreto editado pelo governo

Um decreto que deve especificar as atividades que serão autorizadas em setembro, além de formalizar as novas regras e datas, deve ser editado pelo governo paulista apenas na semana que vem.

Há ainda incerteza com relação à liberação da Prefeitura de São Paulo para o funcionamento das escolas particulares na capital. Após a definição de diretrizes e da autorização por parte do estado, a reabertura depende de protocolos municipais —e os prefeitos têm a liberdade de adotar condutas mais restritivas do que o plano estabelecido pelo estado.

A gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB) aguarda o resultado de um inquérito sorológico para apresentar uma decisão sobre a retomada das aulas na capital. Covas já afirmou, no entanto, que a data de retorno será a mesma para escolas públicas e privadas.

Na capital paulista, vereadores aprovaram na semana passada um projeto que regulamenta a volta às aulas na cidade. Não há uma data estipulada, e pontos controversos —como a compra de vagas em escolas particulares, incluindo aquelas com fins lucrativos, para crianças de 4 a 5 anos — foram aprovados. O projeto foi criticado por pais, professores, sindicatos e representantes do setor.

Presidente do Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo), Benjamin Ribeiro afirma que as escolas particulares estão prontas para atender os alunos. "Estamos com as pernas e as mãos amarradas, dependendo especialmente do poder público", diz.

O sindicato representa cerca de 10 mil escolas particulares no estado. Segundo ele, 80% desses colégios têm menos de 500 alunos e a maioria atende às famílias das classes C, D e E.

"Vemos que os alunos têm tido problemas, especialmente em cidades como São Paulo", diz ele, citando casos de crianças que moram em apartamentos muito pequenos ou não têm condições adequadas de moradia.

Discussão e protocolos

Diretor da unidade de Higienópolis do Colégio Rio Branco, Renato Júdice de Andrade diz que o anúncio do adiamento da retomada para outubro foi recebido com naturalidade pela equipe da escola. "Mas a possibilidade de antecipar, com algum tipo de reforço, isso foi uma surpresa para nós", diz.

Segundo ele, a discussão sobre a possibilidade de reabertura parcial do colégio, em setembro, ainda está "muito fluida" porque não se tem clareza sobre quais atividades poderão ser oferecidas. Uma eventual retomada parcial também envolveria os custos relativos à implementação dos protocolos de segurança na escola, que vão desde o fornecimento de álcool em gel até o distanciamento dentro da unidade escolar.

Assim como outros colégios particulares da capital, o Rio Branco firmou uma parceria com o Hospital Sírio Libanês para a elaboração desses protocolos.

Colégios como Dante Alighieri, Santa Cruz e o bilíngue Avenues disseram estar em discussão interna sobre as decisões que irão tomar, envolvendo a possibilidade de retorno em setembro, e preferiram não conversar com a reportagem.

A despeito das incertezas e de não ter uma data concreta para retorno, alguns colégios já têm um protocolo definido. O biligue St. Paul's estabeleceu diretrizes para casos suspeitos e confirmados, além de uma política ampla de testagem dos alunos e funcionários.

O colégio, no entanto, diz que as aulas retornarão em "momento oportuno", levando em consideração a autorização do poder público e as diretrizes das autoridade sanitárias. Não há uma data para retorno, mesmo com os acenos dos governos estadual e municipal. No protocolo, também consta uma política de revezamento, na qual alunos alternam entre aulas presenciais e aulas remotas.

No protocolo de reabertura do St. Paul's, constam também outras normas:

  • Caso o aluno esteja com suspeita, mas não teste positivo, poderá retornar as aulas somente sem sintomas e com atestado;
  • Se o aluno testar positivo, o aluno deve ficar fora da escola por ao menos dez dias, e só retornará com atestado;
  • Máscaras cirúrgicas deverão ser trocadas de quatro em quatro horas, com estações disponíveis para que elas sejam descartadas;
  • A escola construiu também uma área de isolamento para alunos que apresentem sintomas da covid-19; os profissionais do local foram treinados em parceria com o Hospital Sírio-Libanês

"O que o aluno faz em casa, ele faria no colégio"

Mantenedora do Colégio Renovação, que atende 1.350 alunos em uma unidade na capital e cerca de 4 mil em outras duas unidades no interior do estado, Sueli Bravo Conte diz que o resultado de uma pesquisa a ser realizada com os pais será o eixo principal para a tomada de uma decisão sobre a reabertura ou não da escola em setembro.

Uma opção de atividade, segundo ela, seria a realização de esportes em espaços abertos e com distanciamento entre os alunos. "No curso em período integral seria um número de alunos muito limitado", diz. "Não seria aula. Teríamos as atividades físicas e as lições. O que o aluno faz em casa, no computador, ele faria no colégio", afirma.

"Se os pais não quiserem, eu continuo com as aulas remotas, on-line. E se tiver dois ou três de cada sala que o pai queira que vá, vou manter a aula e o ensino on-line", diz.

Danyelle Marchini, diretora executiva da Escola Tarsila do Amaral, que atende 150 alunos da educação infantil, diz que a escola está pronta para abrir e aguarda apenas a autorização para isso.

"Fizemos tudo o que pudemos para voltar com segurança. A escola particular, a minha pelo menos, está preparada para voltar e temos condições. Mas não vamos levantar bandeira para abrir ou não, a gente vai esperar os governantes", afirma.

Segundo ela, foram instaladas quatro pias na entrada da escola, para que todos lavem as mãos ao chegar ao local. Além disso, cadernos e agendas não serão mais enviados para casa e a mochila ficará na escola durante a semana. Também serão organizadas caixas individuais para brinquedo e material escolar de forma que não haja compartilhamento de objetos entre as crianças.