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Jovem passa em medicina na UFG revezando 12h de estudo com venda de frutas

Kayan trabalhava vendendo frutas na barraa do pai para pagar os seus estudos - Arquivo pessoal
Kayan trabalhava vendendo frutas na barraa do pai para pagar os seus estudos Imagem: Arquivo pessoal

Colaboração para o UOL, em São Paulo

06/05/2021 15h00Atualizada em 06/05/2021 16h00

Para conquistar uma vaga no curso de medicina da Universidade Federal do Goiás (UFG), Kayan Soares Rocha, de 20 anos, passou um ano inteiro dividindo o tempo entre 12h de estudos e as vendas na barraca de frutas do pai na cidade de Aragarças, no Goiás.

O jovem contou ao UOL que, antes de realizar o Enem, criou uma rotina árdua de 12 horas por dia sobre o computador e os livros, e com o compromisso de fazer simulados todos os sábados da sua própria casa.

Formado no ensino médio em 2018, Kayan passou um ano frequentando um cursinho pré-vestibular e, em 2020, teve que mudar os planos de estudos por conta da pandemia.

"Eu tive alguns cursos particulares, mas grande maioria deles foram cursos gratuitos do próprio Youtube", disse.

Dedicando 12 horas de estudo por dia, quase todos os dias da semana, Kayan também vendia frutas com o pai e utilizava o dinheiro que ganhava no trabalho com a compra de mais livros.

Eu investia tudo em conhecimento. Eu comprava livros e, no ano passado, eu li uma média de 20 livros, de todos os tipos. Eu sabia que para o ENEM isso iria me ajudar bastante.

Kayan - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Kayan sempre sonhou em cursar medicina
Imagem: Arquivo pessoal

Antes de iniciar os estudos, o hábito de leitura não era frequente para Kayan. Entretanto, isso mudou por meio de sua determinação de adentrar na universidade e, agora, ele conta que está se deliciando com a trilogia de Harry Potter, de J.K. Rowling.

Virou um hobby. Eu nunca imaginei que eu ia ler um livro desse tamanho na minha vida. Eu odiava. Depois eu percebi que era essencial e agora tenho a meta de ler um livro por semana"

A escolha de cursar medicina nasceu ainda no ensino médio. Kayan diz que sempre teve em mente adentrar na área da saúde e que chegou a pesquisar diversos cursos na época. "Eu gostei muito de farmácia, mas quando eu cheguei em medicina, eu me apaixonei. Vi que era o que queria, foi o que me fez ficar dois anos a mais estudando."

Para ele, o que mais chamou atenção no curso foi a seriedade da área. "Não existe responsabilidade maior que a vida de uma pessoa na sua mão."

A internet, por sua vez, foi uma grande aliada durante a trajetória. "Por eu não ter um professor para tirar dúvidas, eu acabava assistindo aulas muito variadas na internet, ia para vários canais do Youtube. Achei muitos canais de qualidade."

O cenário da crise sanitária do país também mudou a percepção do jovem em relação a futura profissão. "Eu vi que nem tudo está sob controle dos médicos, mas o que estiver, a gente tem que fazer o possível para cuidar. Eu vejo tanta gente sendo bem cuidada por médicos, mas que no final acaba morrendo porque é doença muito devastadora", opina.

Agora, Kayan quer descansar da rotina árdua de estudos até o início das aulas, que estão marcadas para julho. "Quando eu recebi a notícia, percebi que tudo o que eu tinha feito, de ter abdicado de vida social, criado uma carga horária pesada, dormir pouco... Eu percebi que tudo isso valeu muito a pena."