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Infectologistas questionam plano de ampliação das aulas presenciais em SP

Poucos alunos apareceram nas primeiras horas da aula presencial, em abril, na Escola Estadual Eliza Raquel Macedo de Souza, no Lajeado, em São Paulo - Ana Paula Bimbati/UOL
Poucos alunos apareceram nas primeiras horas da aula presencial, em abril, na Escola Estadual Eliza Raquel Macedo de Souza, no Lajeado, em São Paulo Imagem: Ana Paula Bimbati/UOL

Ana Paula Bimbati

Do UOL, em São Paulo

17/06/2021 04h00

Para garantir a segurança e evitar a transmissão do novo coronavírus com a ampliação das aulas presenciais em agosto, infectologistas avaliam a necessidade de uma melhora nos índices da pandemia e ventilação adequada nas salas de aula. Os pontos não foram colocados como regras em anúncio feito ontem pelo governo de João Doria (PSDB).

A partir do segundo semestre, as escolas poderão receber os alunos de acordo com sua capacidade física. Para isso, protocolos sanitários devem ser cumpridos. Até o momento, as instituições estavam autorizadas a receber 35% dos alunos.

"O ideal é esperar uma porcentagem de profissionais com a imunização completa", disse o médico Paulo Lotufo, professor da USP (Universidade de São Paulo).

Nesta semana, no entanto, o secretário de Educação, Rossieli Soares, já havia falado que não condicionava o retorno das aulas presenciais com a imunização.

Lotufo também aponta que o plano deveria considerar a ventilação nas salas de aula. "Tem escola, inclusive particular, que tem péssima estrutura para ventilação do ar", disse.

O médico do Hospital das Clínicas e diretor da Sociedade Paulista de Infectologia, Evaldo Stanislau, reforçou a importância de "renovação do ar, janelas e portas abertas" e de professores terem condições de dar aula sem precisar falar alto. "Disponibilizar microfone e ter cuidado com essa questão do áudio é fundamental."

Apesar de Rossieli ter falado que, se a escola garantisse o distanciamento, poderia receber 100% dos alunos, a secretária-executiva da Comissão Médica da Educação, Kate Abreu, afirmou ao UOL que as escolas precisarão ter boa ventilação.

"Se for observado uma dificuldade na circulação de ar, a escola vai permanecer cumprindo os protocolos e recebendo os alunos conforme sua capacidade física."

Nossa proposta não é pautada apenas em reduzir um metro [de distanciamento] e considerar a capacidade física, mas também manter os demais protocolos.
Kate Abreu, secretária-executiva da Comissão Médica da Educação

Além do uso de máscaras, as regras definidas pelo governo estadual determinam:

  • Cumprir o distanciamento de 1 m entre os alunos;
  • Plano de retorno com protocolos sanitários contra a covid-19;
  • Presença opcional, sob decisão dos responsáveis pelos alunos.

O infectologista Natanael Adiwardana, da Rede D'Or São Luiz, aponta que o distanciamento "ideal é manter dois metros" e viu com "estranhamento" a ampliação das atividades presenciais em um momento de alta em mortes e casos de covid.

"Por mais que o governo tenha uma projeção otimista de vacinar, não temos panorama para que as crianças sejam vacinadas", disse Adiwardana.

O governo estadual anunciou também que fará ações de testagens e de monitoramento de possíveis casos.

Precisamos de testagem em massa, mas testes de antígeno. Se o percentual de positividade estiver elevado, devemos retroceder no plano. Se estiver pequeno e com alto índice de vacinados, teremos mais segurança.
Evaldo Stanislau, médico do Hospital das Clínicas e diretor da Sociedade Paulista de Infectologia

Em relação aos testes, Kate disse que o governo vai adquirir 3 milhões de unidades. No entanto, esses testes só devem chegar mais perto do início das aulas.

Stanislau sugere também que o governo distribua máscaras PFF2. "O distanciamento tem peso 1, o uso de máscara e boa ventilação tem peso 2."

Kate afirmou que o governo distribuiu e irá distribuir máscaras aos professores, mas não no modelo PFF2 e, sim, as de pano, menos eficazes.

Cautela, crítica e planejamento: como foi visto o anúncio

O UOL levantou a expectativa de dez colégios particulares sobre o anúncio do governo estadual. Avenues, Bandeirantes, Dante Aligheri, Oswald de Andrade, Pentágono, Mary Ward, Maple Bear, Humboldt, Escola Nossa Senhora das Graças (Gracinha) e Santa Maria informaram que estudarão o planejamento para o segundo semestre para cumprir as novas mudanças.

O Santa Maria pretende fazer uma enquete para saber a opinião dos pais. O diretor do Gracinha, Wagner Cafagni, afirmou que o colégio tem "todo o interesse de receber mais alunos", mas que o cenário será olhado com "cautela".

A presidente da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), a deputada estadual Maria Izabel Noronha (PT), criticou a mudança e avaliou que Rossieli "insiste na sua obsessão negacionista pela volta às aulas presenciais, desprezando a vida de professores, funcionários, alunos e suas famílias".

Para Alexandre Schneider, ex-secretário municipal de Educação, se a pandemia estiver em "níveis adequados", o ambiente for seguro e houver testagem disponível, o retorno presencial é bem-vindo.

"Do ponto de vista da aprendizagem, ficou claro que o ensino remoto falhou. Não é um substituto das aulas presenciais", disse.