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Com projeto contra fake news, professor convence famílias a se vacinarem

Projeto do professor Glaucio Ramos impactou diretamente 140 pessoas, que foram incentivadas a tomar vacina contra covid - Arquivo pessoal
Projeto do professor Glaucio Ramos impactou diretamente 140 pessoas, que foram incentivadas a tomar vacina contra covid Imagem: Arquivo pessoal

Ana Paula Bimbati

Do UOL, em São Paulo

15/10/2021 04h00

No início do ano letivo e começo da vacinação contra covid-19 na cidade de Paulista, em Pernambuco, o professor Glaucio Ramos percebeu que deveria conversar com seus alunos a respeito de notícias mentirosas. Ali, nas primeiras aulas remotas em fevereiro, ele constatou que boa parte das famílias não iriam se imunizar após lerem informações falsas.

"Os alunos estavam receosos, então discutimos durante uma aula e fiz um formulário online, um para os estudantes e outro para as famílias", conta Ramos. A maioria dos pais respondeu que não iria tomar a vacina porque não se sentia seguro com as notícias falsas lidas.

Com as informações na mão, o professor decidiu criar o projeto Fuja da Fake, Foco no Fato. "Construí um processo com seis estratégias de checagem de notícias, depois fizemos exercícios práticos e uma campanha educativa com vídeos e memes", explica o professor.

Ao longo do desenvolvimento do projeto, os estudantes conheceram o livro "Esquadrão Curioso: Caçadores de Fake News", de Marcelo Duarte. Como os alunos não conseguiam fazer a leitura do texto em PDF, Ramos conseguiu também arrecadar doações para comprar os exemplares físicos.

Depois de se aprofundarem no assunto, Ramos ensinou os estudantes a criar roteiros para vídeos. A turma então desenvolveu uma série de cards com vídeos e memes acessíveis por QR code, expostos em uma praça da cidade.

Cada card mostrava as produções dos alunos, realizadas com a ajuda das famílias. "A ideia era alcançar os pais e levar a informação, então foi interessante esse envolvimento de todos", relembra o professor.

O projeto focou nos alunos do 8º ano da Escola Municipal Cônego Costa Carvalho. Mas com o impacto positivo, a secretaria municipal de educação quer expandir para todas as escolas da rede. "A partir de 2022, o tema será socializado nas formações dos professores", informou a prefeitura.

"Precisamos formar nosso aluno para ele viver nesse contexto midiático. Então vamos começar com uma formação para todos os professores da rede, e depois criar um formato que possa ser replicado em todas as escolas", explica Ramos.

Ao menos 140 pessoas foram incentivadas diretamente com o trabalho do professor.

A educação não é um processo instantâneo, mas esse projeto possibilitou que a visão das famílias mudasse rapidamente. Fiquei feliz em ver a mudança acontecendo na prática, porque pra mim educação é isso, gera mudança social."
Glaucio Ramos, professor de Língua Portuguesa

Resiliência

Olhar o resultado final do seu projeto deixa Ramos surpreso. "O desafio foi tão grande, dentro de um contexto de pandemia, mas deu certo e tivemos bons resultados", comemora.

Para ele, a pandemia representou resiliência aos professores de todo o país. "Falta estrutura para os alunos, não sabíamos como chegar até nossa turma de maneira remota e ainda envolvê-los nas atividades. Foi um desafio para todos nós", conta.

Ramos explica que ter contato com professores de outros lugares do país o ajuda a entender que os desafios não são apenas seus. "Faço parte da Conectando Saberes [rede que conecta educadores do Brasil] e saber que existem outras pessoas como eu, construindo projetos, repensando a prática, muda meu dia", conta.

O grupo faz, segundo o professor, encontros formativos, o que ajuda a entender as políticas educacionais e fazer trocas de experiências pessoais com profissionais que vivenciam situações semelhantes.

Biblioteca itinerante

O projeto contra fake news não é o primeiro da carreira de Ramos. Formado em Letras desde 2004, ele também tem uma biblioteca itinerante, que transporta mais de 5 mil livros.

"Olhei para minha cidade e vi que tinha poucas bibliotecas. Então saio com um trailer, que fica grudado no meu carro, e vou pela cidade", conta o professor.

Além de fazer empréstimo de livros, ele é contador de história e para em alguns pontos da cidade para fazer leituras.