Topo

Esse conteúdo é antigo

Pastor citado em 'gabinete' do MEC já foi nomeado pelo MDB na Câmara

Fachada do Ministério da Educação, em Brasília (DF) - Marcos Oliveira/Agência Senado
Fachada do Ministério da Educação, em Brasília (DF) Imagem: Marcos Oliveira/Agência Senado

Do UOL, em São Paulo

23/03/2022 20h50

Arilton Moura Correia, um dos dois pastores citados em áudio do "gabinete paralelo" do MEC (Ministério da Educação), foi nomeado para assumir um cargo de liderança do MDB na Câmara, em 2020. As informaçõesforam publicadas pelo colunista Igor Gadelha, do portal Metrópoles e confirmada pelo UOL.

Apesar de ter sido indicado para a vaga, que pagaria cerca de R$ 5,5 mil por mês, o religioso não chegou a tomar posse porque teria se recusado a bater ponto. Ele serviria como assistente técnico de gabinete adjunto do então líder do partido na Câmara.

O UOL tenta contato com a liderança do MDB na Câmara. O texto será atualizado em caso de retorno.

O pastor teria sido indicado por deputados federais do MDB do Maranhão, estado onde ele tem maior influência e atuação.

O caso envolvendo os dois religiosos veio à tona quando um áudio foi divulgado, no qual o ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou que o governo federal prioriza prefeituras ligadas a dois pastores.

Ribeiro disse hoje que acionou a CGU (Controladoria-Geral da União) para investigar uma denúncia anônima sobre a solicitação de propina na pasta. Segundo ele, a informação chegou a seu conhecimento em agosto de 2021.

"Quando, em agosto do ano passado, eu ouvi e recebi uma denúncia anônima a respeito da possibilidade de que eles [os pastores Gilmar e Arilton] estariam praticando algum tipo de ação não republicana, imediatamente eu procurei a CGU. E fiz um ofício em que eu noticio ao senhor ministro da CGU que houve esse tipo de indicação", disse, em entrevista ao programa "Pingos nos Is", da Jovem Pan.

O conteúdo do áudio

Na gravação, Ribeiro fala dos pastores evangélicos Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura Correia. "Foi um pedido especial que o Presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar", diz o ministro no áudio obtido pela Folha de S. Paulo. Sem cargos, eles atuam em um esquema informal de obtenção de verbas do MEC (Ministério da Educação).

Na conversa, participaram prefeitos, os dois religiosos e lideranças do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação). Na reunião, que aconteceu dentro do MEC, o ministro falou sobre o orçamento da pasta, cortes na educação, e ainda sobre a liberação de recursos para essas obras

"Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar", diz o ministro.

Para isso, porém, Milton Ribeiro fala em uma contrapartida: "então o apoio que a gente pede não é segredo, isso pode ser [inaudível] é apoio sobre construção das igrejas". Na gravação obtida pela Folha, porém, o ministro não detalha como isso seria feito.

De acordo com relatos feitos sob anonimato à Folha por gestores e assessores, os pastores negociam a liberação de recursos às prefeituras em restaurantes e hotéis de Brasília, e depois entram em contato com o ministro. O chefe do MEC, então, determina ao FNDE a oficialização do empenho, reservando o recurso.

Ainda conforme informações do jornal, políticos foram recebidos na casa de Milton Ribeiro fora da agenda oficial. O prefeito de Rosário (MA), Calvet Filho (PSC), gravou um vídeo com o ministro no apartamento dele em Brasília. À reportagem da Folha, ele disse que o encontro foi informal. Ele também negou ter negociado obras com os pastores, tendo conversado com eles apenas "para organizar pregações" na cidade.

No ano passado, em evento no MEC com os dois pastores, prefeitos conseguiram a liberação de recursos para novas obras. Um deles, da cidade de Anajatuba (MA), que tem 27 mil habitantes, conseguiu seis obras empenhadas. De acordo com a reportagem, a prefeitura sequer comprou os terrenos.

Segundo o prefeito do município Helder Aragão (MDB), ele se encontrou com o pastor Arilton em um hotel da capital federal, mas disse não ter amizade com ele: "Fui até um hotel em Brasília onde tinha vários prefeitos e ele falava que conseguia obra para o FNDE". Aragão garantiu, porém, que não negociou obras com os pastores nem com pessoas do MEC, e que os empenhos foram garantidos pelos meios corretos.

Vínculo com governo

Os pastores evangélicos Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura Correia conquistaram acesso privilegiado ao governo Jair Bolsonaro. Mesmo sem cargo na máquina pública, eles passaram a atuar informalmente e tiveram acesso ao Ministério da Educação (MEC), chefiado pelo reverendo presbiteriano Milton Ribeiro.

Segundo a Folha, os dois também foram privilegiados com verbas bilionárias da pasta, parte delas concentradas no FNDE, que tem grande dominância do Centrão.