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Com crise financeira da USP, hospital perde servidores e reduz atendimento

Em São Paulo

18/03/2015 08h44

A crise financeira da Universidade de São Paulo (USP) fez o Hospital Universitário (HU), no câmpus do Butantã, zona oeste da capital, reduzir os atendimentos. Depois da adesão de funcionários ao plano de demissão voluntária (PDV), aposta da reitoria para sanar as contas da instituição, o pronto-socorro passou a atender apenas a urgências e emergências. Casos de menor gravidade são encaminhados para postos de saúde. Pacientes já relatam queda da qualidade do atendimento.

Cerca de 200 servidores, segundo fontes da reitoria, aderiram ao programa - o dado oficial não foi informado na terça-feira, 17, pela Superintendência do HU. De acordo com o Sindicato dos Médicos, 213 funcionários da unidade entraram no PDV nos últimos meses. O efetivo equivale a 12% do quadro do hospital, que atende à parte da demanda do Sistema Único de Saúde (SUS) na zona oeste.

Na unidade, uma faixa informa que, conforme a avaliação do médico, poderá haver encaminhamento. Foi o que aconteceu na manhã de ontem com a cabeleireira Fernanda Santos, de 35 anos. Com dor no abdome, ela foi aconselhada a procurar um posto.

"Achei que fosse resolver logo", lamentou. "Meu marido também ia trazer a filha para tratar uma dor de garganta, mas já falei que teremos de ir para outro lugar." Segundo Fernanda, o atendimento piorou nos últimos tempos. "Não é mais como era antigamente", afirmou.

A maior perda é na área de enfermagem, mas também houve adesão de médicos e funcionários da área administrativa. O primeiro grupo já saiu no fim de fevereiro e o restante vai se desligar da unidade entre este mês e abril.

Com as demissões, segundo médicos do HU, houve deslocamento de funcionários para atender às demandas de emergência. Além disso, leitos foram fechados. O Estado apurou que oito dos 20 leitos das unidades de terapia intensiva e semi-intensiva foram desativados. Pacientes confirmam a situação.

O diretor clínico do HU, José Pinhata Otoch, teme que a crise prejudique as atividades de ensino. "O HU tem uma base acadêmica. Por meio da prestação de serviços de saúde, formam-se profissionais de diversas áreas." Segundo ele, as atividades da graduação e pós, por enquanto, seguem normalmente.

Prejuízo

Para Otoch, a retirada de profissionais para os serviços de urgência e emergência, no entanto, vai prejudicar os atendimentos secundários e terciários, mais complexos, obrigações do HU. Segundo Gerson Salvador, médico do hospital e diretor do sindicato, três leitos foram fechados no centro cirúrgico. "Pacientes permaneceram internados em macas de pronto-socorro e cirurgias foram canceladas", disse. Segundo ele, cortes afetaram o pronto-socorro de oftalmologia e o ambulatório de ortopedia.

Além do PDV, após a USP ser obrigada a respeitar o teto constitucional - o salário do governador (R$ 21,6 mil) -, desde setembro, muitos médicos deixaram de fazer horas extras e plantões, o que afetou a escala. Por ora, as vagas no HU não serão repostas porque contratações estão congeladas na universidade desde fevereiro do ano passado.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.