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Nota no Enem varia 343,9 pontos com número igual de acertos

Igor do Vale/Futura Press/Estadão Conteúdo
Imagem: Igor do Vale/Futura Press/Estadão Conteúdo

05/10/2015 09h22

São Paulo - A diferença de nota entre candidatos que acertaram um número igual de questões em uma mesma prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pode chegar a 343,9 pontos. O motivo da variação é o modelo de correção do teste, a Teoria de Resposta ao Item (TRI), em que a nota depende da coerência de acertos do candidato. Atentos a isso, muitos alunos têm até estratégias para resolver a prova com base na TRI.

No Enem, os itens de múltipla escolha são pré-testados e classificados em fáceis, médios e difíceis, com pontuações diversas em uma escala de 0 a 1.000. As notas mínimas e máximas que o estudante pode ter em cada prova, porém, não são 0 e 1.000, mas variam a cada ano segundo calibragem feita pelos elaboradores do exame.

Alunos que acertam perguntas médias e erram as fáceis, por exemplo, têm acréscimo menor de nota. Pela TRI, a interpretação é de baixa coerência pedagógica: se o candidato entende bem itens médios, deveria tirar os fáceis de letra. E o candidato que acerta só uma pergunta complicada no chute ganha pontuação menor do que aquele que solucionou várias de nível alto de dificuldade.

A diferença de mais de 340 pontos foi registrada entre candidatos que acertaram 17 itens (de 45) na prova de Matemática do Enem 2013, o mais recente com microdados disponíveis. A nota máxima, nesse patamar de acertos, foi de 694,4 pontos e a mínima, de 350,5. Essa foi a maior variação das quatro provas objetivas (Ciências Humanas, Ciências da Natureza, Matemática e Linguagens). A redação não é corrigida pela TRI.

Nas provas de Ciências da Natureza e Matemática, mostram os números, a variação de nota entre candidatos que acertaram número igual de questões foi maior do que em Ciências Humanas e Linguagens. Os dados foram tabulados pela Meritt Informação Educacional.

Dicas

Camila Gomes, de 18 anos, fará o Enem pela segunda vez e planeja usar estratégia diferente da utilizada na prova anterior. Para garantir melhor resultado, levando em conta a TRI, ela vai resolver primeiro as questões fáceis e médias. Depois, vai se dedicar às difíceis no tempo restante.

"O Enem não exige do candidato apenas conhecimento, mas também maturidade para saber avaliar quais questões são mais trabalhosas", diz. "É preferível pular para não perder o tempo que poderia gastar para resolver as mais fáceis", diz Camila, interessada em cursar Medicina.

Alexandre Oliveira, especialista em educação da Meritt, também acredita que é melhor resolver a prova por partes, começando por garantir acertos nas questões que parecem mais simples, para garantir a coerência pedagógica. O nível de dificuldade de cada item não fica explícito na prova.

Se o aluno faz as questões na ordem em que aparecem na prova e sobra pouco tempo para responder as últimas, pode ser penalizado. "Se chutar todas as últimas, há risco de errar um item fácil. Isso pesa na definição da nota, pois implica menor coerência", diz Oliveira.

E embora o sistema seja mais "sensível" ao chute, deixar questões em branco não vale a pena. "Questão em branco é computada como erro", afirma. Uma resposta incorreta também não anula o acerto, como acontece em alguns concursos.

Atenção

Para Lilio Paoliello, diretor pedagógico do Cursinho da Poli, a TRI é importante para compreender a prova, mas ele faz ressalvas. "Identificar a complexidade da questão pode virar uma preocupação a mais." É importante, diz, testar essas técnicas antes, nos simulados.

"E o candidato que se preparou muito deve ter cuidado com as questões fáceis", alerta. Muitas vezes, esses se concentram em itens difíceis para ter pontuações maiores e erram outros banais, prejudicando a coerência de seus acertos e a nota.

Decifrar a TRI ainda é útil para evitar frustrações depois do Enem. Como a nota só pode ser calculada por um algoritmo, muitos se decepcionam na tentativa de adivinhar o resultado.

Comparações pelo número de acertos não funcionam. Mauro Araújo, de 23 anos, passou a pesquisar mais sobre a TRI após o Enem passado. "Um colega do cursinho acertou mais questões e eu tirei nota maior. Só depois entendi que foi porque ele chutou algumas."

As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".