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Cheque de R$50 mil foi pagamento de dívida, diz ex-assessor de Capez em CPI

21/09/2016 16h42

São Paulo - Suspeito de envolvimento com a máfia da merenda, o servidor José Merivaldo dos Santos, ex-assessor do presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Fernando Capez (PSDB), negou participação no esquema em depoimento à CPI da Merenda, nesta quarta-feira, 21. Ele afirmou aos deputados que o cheque de R$ 50 mil da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf) que depositou em sua conta bancária foi repassado por outro ex-funcionário do tucano, Jeter Pereira Rodrigues, para pagamento de uma dívida. O cheque voltou porque não tinha fundos.

"Ele (Jeter) sempre teve problema no banco, disse que tinha adotado uma criança com deficiência física e que tinha gasto médico. Também teve problema na casa dele, que caiu por causa da chuva. Então comecei a emprestar dinheiro para ele, mais ou menos R$ 18 mil", disse Merivaldo. "Cobrei ele diversas vezes e em 2014 ele me disse que tinha conseguido um contrato de consultoria e que teria dinheiro para me pagar. Foi aí que ele me deu o cheque de R$ 50 mil. Até aí eu não sabia que era da Coaf", completou.

A versão de Merivaldo contradiz o depoimento de Jeter na CPI. Na semana passada, ele afirmou aos deputados que foi coagido por Merivaldo a repassá-lo o cheque de R$ 50 mil para não ser alvo de uma sindicância interna. Segundo Jeter, o processo seria aberto porque ele rubricou um ofício enviado à Secretaria da Segurança Pública em nome do deputado Fernando Capez pedindo a transferência de um delegado sem a autorização do parlamentar. "Ele é mentiroso", disse Merivaldo.

Jeter assinou um contrato de consultoria de R$ 200 mil com a Coaf quando ainda era assessor de Capez, em 2014. Segundo investigadores da Operação Alba Branca, a cooperativa usava esse expediente para pagar propina a agentes públicos para obter contratos superfaturados para fornecer suco de laranja para merenda escolar para a Secretaria Estadual da Educação e prefeituras paulistas. A comissão de Jeter estava atrelada ao sucesso da Coaf com um contrato de R$ 8 milhões com o governo Geraldo Alckmin (PSDB). Jeter negou ter prestado o serviço.

Merivaldo também negou ter prestado qualquer serviço para a Cooperativa e afirmou que só cobrou o cheque sem fundo de R$ 50 mil do lobista Marcel Ferreira Júlio, que atuava para a Coaf, porque queria o dinheiro da dívida de Jeter. "Não ameacei ninguém. Fui chato com ele (Jeter) e liguei diversas vezes para o Marcel porque queria meu dinheiro", disse Merivaldo. "Não fiz nada de errado. Se cometi algum erro vou pagar por ele. Só não quero ser acusado de corrupto, ladrão, mau caráter porque não sou."

As declarações de Merivaldo não convenceram nem os deputados do PT, que fazem oposição na Alesp, nem parlamentares da base de Alckmin no Legislativo. Os petistas querem fazer uma acareação entre Jeter e Merivaldo, mas antes pretendem ouvir o lobista Marcel Júlio, que faltou ao depoimento na semana passada após obter uma liminar da Justiça que lhe deu o direito de ficar calado na CPI.

Saúde

Merivaldo começou seu depoimento na CPI justificando sua ausência na semana passada, quando já havia sido convocado a depor, e explicando a foto exibida pelo deputado Alencar Santana (PT) na qual aparece sentado em uma tabacaria na zona norte de São Paulo, há duas semanas, ao lado de charutos e copos com uísque. "Não bebi e nem posso fumar porque meu câncer é consequência do cigarro. Fui lá apenas conversar com alguns amigos", disse Merivaldo.

Ele afirmou que faz sessões de quimioterapia para tratar um câncer, que já retirou seis tumores da bexiga neste ano e está com suspeita de tuberculose no pulmão direito.

Meriva, como é conhecido, disse que é funcionário público de Prefeitura de São Paulo e que está cedido para a Alesp desde a década de 1990 a pedido do hoje deputado federal Ricardo Trípoli (PSDB). Ele contou fez campanha para Capez em 2014 por causa de uma "dobradinha" com Trípoli e que desconhece o uso de um carro da Coaf na busca de votos para o tucano.