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Ensino superior a distância avança e valores caem

"O formato EAD veio para solucionar o problema", afirma Joary Carlos Antunes, 58 - Rafael Arbex/Estadão Conteúdo
"O formato EAD veio para solucionar o problema", afirma Joary Carlos Antunes, 58 Imagem: Rafael Arbex/Estadão Conteúdo

Luciana Alvarez, especial para o Estado

São Paulo

11/07/2017 13h05

Flávia Minard estava procurando emprego, ajudava a cuidar do pai com mal de Alzheimer, e ainda tinha as responsabilidades de ser mãe de uma criança pequena quando começou sua graduação em Gestão de Recursos Humanos, em 2014. Conciliar tudo isso é foi possível porque optou pelo ensino a distância, em um polo da Unopar perto de onde mora, em Sete Lagoas, cidade de 230 mil habitantes na região metropolitana de Belo Horizonte, Minas.

"Já fazia 13 anos que eu não estudava. A volta foi bem complicada, mas meu tutor ajudou muito", conta Flávia, hoje com 34 anos. A dificuldade logo passou a ser encarada como oportunidade. "O EAD me fez ver que minha educação depende de mim, me fez explorar minhas capacidades", explica. Com o diploma na mão, Flávia conseguiu um bom emprego e decidiu seguir na vida acadêmica. Hoje é aluna de um MBA, também na modalidade EAD na Unopar. "Nos horários vagos estou sempre estudando. Às vezes, sei que vou para algum lugar sem internet, então imprimo as atividades para levar comigo."

Segundo o Censo da Educação Superior, do Ministério da Educação, havia 189 graduações a distância em 2005. Dez anos depois, mostra o censo mais recente, esse total saltou para 1473 - alta de quase 680%.

A possibilidade de cursar uma graduação perto de casa deve chegar a mais pessoas como Flávia já neste ano, graças a uma portaria do MEC que permitirá às instituições de ensino privado com notas satisfatórias nas avaliações do governo abrirem mais polos de ensino a distância por ano sem necessidade de autorização prévia.

A abertura vai depender do Conceito Institucional, uma medida de qualidade do ministério que varia de 1 a 5, sendo as notas superiores a 3 consideradas satisfatórias. Para grupos com nota 3, a portaria permite abertura de até 50 polos por ano. No caso das notas 4, esse limite sobe para 150. Quem tem nota 5 pode abrir até 250 polos em um ano. A portaria também permite que as bibliotecas e laboratórios sejam apenas virtuais - anteriormente, cada polo precisava ter essa infraestrutura física.

A portaria foi publicada no fim do mês passado e já causou impactos. "Em 48 horas tivemos queda nas mensalidade, porque já vivíamos em um cenário de superoferta e a medida vai aumentar ainda mais. É uma regra básica de economia. Mas caiu também porque as instituições antigas no mercado já amortizaram seus investimentos e conseguem reduzir preços", diz João Vianney, consultor em EAD da Hoper Educacional, que pesquisa a área.

"O MEC desburocratizou o processo de abertura de polos, privilegiando quem já demonstrou qualidade. A instituição vai levantar a demanda - e o tempo será apenas o necessário para montar a estrutura e abrir o polo", afirma Sólon Caldas, diretor executivo da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), para quem a medida é extremamente positiva para o País, pois ajudará a aumentar o número de matrículas no ensino superior.

"O País precisa expandir. Temos a meta do Plano Nacional de Educação (PNE) para cumprir e só 18% de matrícula", diz. O PNE é uma lei que estabelece 20 metas para a educação até 2024. A meta 12, especificamente, prevê que 33% dos jovens de 18 a 24 anos estejam matriculados no ensino superior; em 2015, a taxa era de 18,1%.

Neste semestre

A expansão da oferta em EAD deve começar a ser sentida neste semestre. "Este ano, vamos abrir cerca de 100 polos. São locais para os quais já tínhamos processos encaminhados - estavam parados desde 2013. Devemos abrir mais 200 polos em 2018, sobretudo em Estados onde ainda não estamos, no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, em cidades de 100 mil habitantes", diz Carlos Fernando de Araujo Júnior, pró-reitor de EAD do grupo Cruzeiro do Sul. Além de crescer em total de polos, passará a ofertar cursos que ainda não tinha em seu cardápio EAD, como Nutrição, Arquitetura e Licenciatura em Educação Inclusiva.

Jovem e no interior. O perfil do aluno do EAD tem se aproximado cada vez mais com o perfil do presencial, e o contexto atual pode atrair ainda mais alunos jovens. "A redução na oferta de programas públicos de financiamento estudantil está trazendo uma demanda crescente pelos cursos EAD, já que são mais acessíveis", afirma o vice-presidente acadêmico do grupo Kroton, Mário Ghio.

Ao facilitar a abertura de polos, a portaria do MEC traz um impacto sobretudo para cidades pequenas. A Kroton, por exemplo, diz ter um "plano robusto de expansão", com novas praças já mapeadas. "O Brasil tem ainda muitas cidades de tamanho médio e pequeno, longe dos grandes centros urbanos, sem nenhuma oferta de ensino superior. Nestas cidades podemos iniciar com o portfólio clássico e complementar com os cursos de saúde e engenharias ao longo prazo", diz Ghio.

Ainda assim, o EAD encontra demanda também entre o público mais velho, e nas grandes cidades. "Sou o vovô da sala", diverte-se Joary Carlos Antunes, de 58 anos, que cursa Análise de Sistemas em EAD na Cruzeiro do Sul. Antunes trabalha no setor de vendas e já tinha começado duas faculdades, sem conseguir levar adiante. "Se estava em um cliente no fim da tarde do outro lado da cidade, perdia as aulas. O formato EAD veio para solucionar o problema."

Autonomia

"Libertador" é o termo ainda que Flávio Murilo de Gouvêa, diretor acadêmico de EAD do grupo Estácio usa para se referir à metodologia, que tem base na internet. "O modelo promove emancipação. O aluno adquire autonomia para aprender coisas novas. Isso é importante porque ao fim do ciclo universitário ele terá a necessidade de continuar aprendendo", afirma.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.