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Escola em SP inova ao inverter turno de alunos

Robson Ventura/Folhapress
Imagem: Robson Ventura/Folhapress

21/03/2014 08h12

No Brasil, as escolas dos níveis fundamental e médio são obrigadas a seguir uma carga horária de 800 horas, distribuídas por um mínimo de 200 dias letivos, de acordo com o Ministério da Educação (MEC).

O horário em que essas aulas serão dadas segue diretrizes das secretarias de educação dos Estados e municípios. Mas, apesar de serem apenas diretrizes e não determinações fechadas, poucas escolas fogem à regra de que as aulas do período matutino começam entre 7h e 7h30.

Uma das raras exceções em São Paulo é o da escola estadual Francisco Brasiliense Fusco, no Jardim Umarizal, na zona oeste da capital. Há cinco anos, a diretora Rosangela Macedo Moura resolveu desafiar a lógica predominante - em que alunos a partir do 6º ano (antiga 5ª série) estudam de manhã e os de anos anteriores, à tarde - e inverter de turno os estudantes.

"Depois de 20 anos vendo aluno meu dormir de manhã na aula, cansei e resolvi mudar o horário das crianças e dos adolescentes", diz Rosangela. Assim, os alunos do 1º ao 5º ano do Fundamental (1ª a 4ª série) passaram para a manhã. "As crianças estão cheias de energia nesse horário. Funciona superbem para eles."

E, em contrapartida, os estudantes do 6º ao 9º ano (antigo ginásio) e os do ensino médio (antigo colegial) começaram a estudar à tarde. "Vimos uma melhoria imediata. O nível de faltas entre os alunos mais velhos despencou, enquanto o rendimento melhorou muito", conta a diretora.

Internet na madrugada

Segundo ela, no começo, os resultados rápidos só comprovaram o que já se sabe sobre adolescentes. "Eles têm muita dificuldade em acordar cedo. Eles não costumam 'funcionar' antes das 9h. É principalmente uma questão hormonal, mas também há o fato de que, cada vez mais, eles ficam até de madrugada na internet, dificultando ainda mais acordar de manhãzinha."

Rosangela afirma que, no início, houve resistência por parte de alguns pais e de autoridades do sistema educacional, mas que logo o novo esquema foi aceito. "Mas são pouquíssimas as escolas aqui que se preocupam com esse relógio biológico dos alunos, mesmo vendo que em uma classe com 45 adolescentes, só uns 4 ou 5 estão bem acordados no começo da aula."

"Todos os diretores têm autonomia sobre os horários, mas muito têm medo de mudar. Quando eu alterei os turnos aqui, muitos me criticaram, dizendo que eu estava inventando moda."

Neste ano, todos os estudantes do 6º ao 9º ano do colégio ainda estão estudando à tarde. Mas Rosangela precisou passar para noite os do ensino médio. A diretora explicou que a mudança foi uma estratégia para que ela consiga, no ano que vem, implementar o período integral para todos os anos.

"Eu preciso mostrar que tinha salas livre à tarde, para convencer as autoridades que tenho como encaixar todos os alunos no período integral."

Segundo a diretora, tomar essa decisão foi triste, mas necessário. "Foi por uma boa causa, porque já está mais que provado que as crianças aqui precisam ficar o dia todo na escola."

Ela conta, no entanto, que o período integral também será ao seu estilo. "É claro que a aula vai começar só depois das 9 horas. Depois de todos os bons resultados que tivemos, não faria sentido voltar atrás e fazer as aulas começarem às 7h, com alunos atrasados ou dormindo nas carteiras."