Filosofia e felicidade: o que é ser feliz segundo os grandes filósofos do passado e do presente Página 3 Do antigo pessimismo grego, passando pela filosofia de Platão e Aristóteles, para chegar à Constituição norte-americana e às investigações lógicas do filósofo inglês Bertrand Russell, a ideia de felicidade tem um lugar importante na história da filosofia, da mesma forma que para o senso comum. Veja o que pensavam os grandes filósofos do passado e confira como a filosofia pode ser entendida como um guia para uma vida feliz Reprodução Não foi por acaso que os gregos criaram a tragédia. Um antigo provérbio grego, registrado por Aristóteles, afirma que "a melhor das coisas é não nascer". Quando se pensa no destino de um personagens como Édipo, que, sem saber, matou o pai e dormiu com a própria mãe, fica bem clara a ideia de que é impossível evitar o sofrimento. O quadro acima, de Jean-Antoine T. Girouste, retrata uma cena de Édipo em Colono, uma das tragédias de Sófocles sobre essa personagem mitológica Mais Reprodução Para Sócrates, sofrer uma injustiça era melhor que praticá-la e o homem feliz era essencialmente um justo. Por isso mesmo, ele recebe com tranquilidade a sentença do tribunal que o condenou à morte. No quadro, uma obra-prima de Jacques-Louis David, o filósofo recebe a taça com o veneno, enquanto consola seus discípulos. As reflexões de Sócrates sobre justiça e felicidade encontram-se especialmente no diálogo "Górgias", de Platão, seu mais célebre aluno Mais Reprodução Tanto Platão quanto Aristóteles associavam a felicidade à virtude. Para o primeiro, todas as coisas têm sua função: a do olho é ver; a do ouvido, ouvir; a da alma, ser virtuosa. Já o segundo foi o filósofo que estabeleceu a Ética como uma reflexão sobre a felicidade, num livro escrito para seu filho Nicômaco. No quadro "A Escola de Atenas", de Rafael Sanzio, os dois filósofos são vistos ao centro (e aqui também no detalhe), dialogando. Platão, o mais velho, aponta para o céu, o que simboliza seu idealismo. Aristóteles tem a mão voltada para a terra, o que representa seu realismo Mais Reprodução O prazer, de um modo geral, é exaltado por Epicuro, que o considera essencial para a felicidade. Por isso, o filósofo é considerado o fundador do hedonismo, doutrina que põe o prazer em primeiro lugar. Mas, na Carta a Meneceu, onde trata do tema, Epicuro deixa claro que não se refere "aos prazeres dos dissolutos e dos crápulas". O quadro de Nicolas Poussin ilustra uma cena de dança grega, celebrando os prazeres terrenos Mais Reprodução Com o advento do cristianismo, a ideia de felicidade associada à vida mundana saiu do horizonte dos filósofos, sendo substituída pela noção de bem-aventurança espiritual. O quadro de Velazquez ilustra um episódio da vida de São Tomás de Aquino - o maior expoente da filosofia cristã. Nele, o filósofo despreza a tentação da carne, representada pela mulher que sai pela porta, contando para isso com o apoio dos anjos. Não por acaso, Aquino recebeu o cognome de Doutor Angélico Mais Reprodução Na obra "Crítica da Razão Prática", filósofo alemão Immanuel Kant definiu a felicidade como a "condição do ser racional no mundo, para quem, ao longo da vida, tudo acontece de acordo com seu desejo e vontade". Porém, considerando que a felicidade se dá no âmbito da satisfação dos desejos, ele a excluiu da reflexão ética e, desde então, a filosofia se afastou do tema. Isso não quer dizer que o filósofo rejeitasse os prazeres da mesa e da boa companhia, como se vê no quadro "Kant e Amigos à Mesa", de Emil Doerstling Mais Reprodução Já na Antiguidade os filósofos consideravam a felicidade um assunto relacionado à política. No entanto, foi a Constituição dos Estados Unidos, que data de 1787, que incluiu a busca da felicidade entre os direitos do homem, com base em reflexões filosóficas que se originam no pensamento de David Hume e nas ideias iluministas que inspiraram os responsáveis pela independência das colônias britânicas na América. O quadro de John Trumbull retrata os fundadores do Estado norte-americano Mais Reprodução Retratado aqui numa imagem da história em quadrinhos "Logicomix", sobre sua vida e obra, o filósofo inglês Bertrand Russell trouxe de volta a felicidade ao âmbito da reflexão filosófica. Em "A Conquista da Felicidade", ele põe em ação o método da investigação lógica para descobrir o que pode fazer alguém feliz. Em síntese, ele conclui que é preciso deixar de lado o egocentrismo e abrir-se para o maior número de interesses e de relações, tanto com as coisas quanto com outras pessoas Mais