Luís Carlos Prestes
3 de janeiro de 1898, Porto Alegre, RS (Brasil)<br>7 de março de 1990, Rio de Janeiro, RJ (Brasil)
Autor Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
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Folhapress
Luís Carlos Prestes foi um militar e político brasileiro. Prestes estudou engenharia na Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, atual Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN).
Em outubro de 1924, já como capitão, Prestes liderou a revolta tenentista na região das Missões, em Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul. Lutando contra o governo de Arthur Bernardes, os jovens oficiais do Exército, os "tenentes", pretendiam levantar a população contra o poder da oligarquia governante e, por meio da revolução, exigir reformas políticas e sociais, como a renúncia de Bernardes, a convocação de uma Assembléia Constituinte e o voto secreto.
Cortando as linhas do cerco militar do governo, Prestes se dirigiu para Foz do Iguaçu, onde se uniu aos paulistas, formando o contingente rebelde denominado Coluna Prestes, que percorreu, com 1.500 homens, durante dois anos e cinco meses, cerca de 25.000 km do Brasil. A marcha terminou em 1927, quando os revoltosos se exilaram na Bolívia e na Argentina.
Na Bolívia, Prestes dedicou-se a leituras em busca de explicações para a situação de atraso e miséria que vira no interior brasileiro. A marcha pelo Brasil, segundo ele, o levou a compreender que problemas tão sérios não podiam ser resolvidos com uma simples mudança de homens na presidência da República.
Em dezembro de 1927 foi procurado por Astrojildo Pereira, secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro, que fora incumbido de convidá-lo a firmar uma aliança entre "o proletariado revolucionário, sob a influência do PCB, e as massas populares, especialmente as massas camponesas, sob a influência da coluna e de seu comandante". Prestes, contudo, não aceitou essa aliança. Foi nesse encontro que obteve as primeiras informações sobre a Revolução Russa, o movimento comunista e a União Soviética.
A seguir, muda-se para a Argentina, onde lê Marx e Lênin. Convidado a assumir a chefia militar da Revolução de 1930, nega-se a participar do movimento liderado por Getúlio Vargas.
Convidado pelo Partido Comunista Uruguaio, muda-se para a ex-União Soviética em 1931, trabalhando ali como engenheiro e dedicando-se ao estudo do marxismo-leninismo.
Eleito membro da Comissão Executiva da Internacional Comunista, Prestes regressou clandestinamente ao Brasil em abril de 1935 com a identidade de Antônio Vilar, cidadão português que tinha como esposa Maria Bergner Vilar. Na realidade, sua mulher chamava-se Olga Benário, era alemã, pertencia ao Partido Comunista Alemão e vivia em Moscou.
O PCB e a Aliança Nacional Libertadora
No Brasil, a recém-constituída Aliança Nacional Libertadora (ANL), organização política de âmbito nacional liderada pelo PCB e fundada oficialmente em 12 de março de 1935, tornou-se uma ampla frente da qual participaram socialistas, comunistas, católicos e democratas.
Escolhido como presidente de honra da ANL, Prestes divulga, em julho de 1935, um manifesto incendiário, exigindo o fim do governo Vargas. Aproveitando a oportunidade, Getúlio declara a ANL ilegal, mas não impede que ocorra a Intentona Comunista.
No dia 5 de março de 1936, Prestes foi preso, juntamente com Olga Benário. Em setembro do mesmo ano, Olga, em adiantado estado de gravidez, foi entregue a agentes do governo nazista alemão. A filha do casal, Anita, nasceu na prisão, na Alemanha, em 27 de novembro seguinte e, após grande campanha desencadeada pela mãe de Prestes, foi entregue à avó. Olga Benário viria a falecer numa câmara de gás do campo de concentração de Bernburg, em abril de 1942.
Com o fim do Estado Novo, Prestes foi anistiado e eleito senador. Contudo, meses depois o registro do PCB foi cancelado e Prestes teve de retornar à clandestinidade. Em 1951, conheceu sua segunda companheira, Maria, com quem teve vários filhos. O casal conviveu durante 40 anos, até a morte de Prestes.
Golpe de 1964
Identificado com as reformas de base propostas por João Goulart, Prestes foi cassado pelo governo militar que passou a dirigir o país depois do Golpe de 1964. Em junho de 1966, num processo conduzido pela 2ª Auditoria do Exército de São Paulo, foi condenado à revelia a 15 anos de prisão, acusado de tentar reorganizar o PCB.
Com a promulgação do AI-5 em 13 de dezembro de 1968, aumentou a repressão aos grupos de contestação ao regime. Esse mesmo ato suspendeu importantes garantias constitucionais relativas às liberdades individuais, conferindo ao Poder Executivo proeminência sobre os poderes Legislativo e Judiciário.
Em fevereiro de 1971 o comitê central do PCB decidiu que Prestes deveria deixar o país, pois sua segurança estava ameaçada. Partiu então de São Paulo com destino à Argentina, via Rio Grande do Sul. De Buenos Aires tomou um avião até Paris, viajando em seguida para Moscou.
Com a decretação da anistia em agosto de 1979, Prestes, após oito anos de exílio, desembarcou no Rio de Janeiro em 20 de outubro seguinte. Os militantes do PCB, contudo, já não acatavam mais suas orientações, considerando-as rígidas e anacrônicas.
Iniciando uma controvérsia pública com a direção do PCB, Prestes escreve uma "Carta aos comunistas", na qual defendeu, dentre outros pontos, a reconstrução do movimento comunista no país. Em 1982, acompanhado por vários militantes, retira-se do PCB.
Embora tenha atravessado períodos de descrença sobre a eficácia do voto livre no Brasil, sobretudo quando, na Intentona Comunista de 1935, supunha que a conquista do poder dispensava a ida às urnas, Prestes já expressava um pensamento totalmente contrário. Para ele, com 90 anos, "a luta pelo socialismo pressupõe o voto", pois este "continua a ser um importante instrumento de mudança".
Agindo sem se filiar a qualquer partido, Prestes passou a militar em diversas causas, apoiando, em 1989, a candidatura de Leonel Brizola à presidência da República.
Em janeiro do ano seguinte Luís Carlos Prestes foi internado numa clínica no Rio de Janeiro para tratamento de insuficiência renal e princípio de desidratação, segundo versão divulgada pela imprensa. Seu estado de saúde, no entanto, agravou-se no início de março, quando voltou a ser internado. Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 7 de março de 1990. Nessa data a Justiça Eleitoral concedeu o registro definitivo ao PCB.
Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro (Fundação Getúlio Vargas)