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Mobutu Ditador do Zaire (hoje República Democrática do Congo)

14 de outubro de 1930, Lisala (Congo belga, hoje República Democrática do Congo)

7 de setembro de 1997, Rabat (Marrocos)

Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

22/08/2008 09h54

Mobutu nasceu no antigo Congo belga, hoje República Democrática do Congo, em uma família da etnia Ngbandi. O pai de Mobutu, cozinheiro de um juiz belga, morreu antes que seu filho nascesse. Sua mãe faleceu quando ele tinha oito anos. Graças à esposa do juiz, Mobutu aprendeu a falar, ler e escrever em francês.

Rebelde desde a infância, inicialmente estudou em um internato católico, mas logo foi transferido pelos padres para o Exército, como um castigo por sua rebeldia incontrolável. Contudo, anos depois, o próprio Mobutu diria que os anos passados no Exército foram os melhores de sua vida, pois ali descobriu a importância da disciplina e encontrou um substituto da figura paterna na pessoa do sargento Joseph Bobozo.

Com o passar dos anos, tornou-se um leitor atento de Charles de Gaulle, Winston Churchill e Maquiavel. Também estudou contabilidade e, ainda no Exército, começou a trabalhar como jornalista, dedicando-se, principalmente, à política. Em 1956, optou por deixar as forças armadas e dedicar-se ao jornalismo em tempo integral.
 

Movimento anticolonialista

Durante uma viagem à Bélgica, para cobrir a Expo Mundo de 1958, passou a manter contato com alguns jovens intelectuais congolenses que se opunham ao colonialismo (naquela época, o Congo ainda era uma colônia belga). Dentre eles, Patrice Lumumba, líder do movimento anticolonialista. Torna-se, então, secretário pessoal de Lumumba.

Quando a independência do Congo foi outorgada pela Bélgica, depois de vários anos de pressões internacionais e de seguidas manifestações - algumas violentas - de movimentos sociais do próprio Congo, formou-se um governo de coalizão, unindo os dois partidos nacionalistas: o Movimento Congolês Nacional (MCN) e o ABAKO. Representando o MCN, no papel de primeiro-ministro, estava Lumumba. Como presidente, foi escolhido Joseph Kasavubu, do ABAKO.

Diante de uma inesperada rebelião do Exército, Lumumba, que era socialista, nomeou Mobutu comandante-em-chefe. Ao mesmo tempo, solicitava ajuda à União Soviética, para desespero dos empresários belgas, que pretendiam manter seus negócios no país, apesar da independência. Kasavubu, no entanto, mantinha-se pró-EUA. As duas principais potências da época, vivendo em plena Guerra Fria, disputavam assim a região central da África.
 

Tomada do poder

Em meio à crise, Lumumba ordenou que Mobutu prendesse Kasavubu - mas não sabia que o presidente havia ordenado a Mobutu que fizesse o mesmo com Lumumba. Sofrendo pressões de todos os lados, tentando controlar as resistências do Exército, Mobutu toma o poder em 14 de setembro de 1960, coloca Lumumba sob prisão domiciliar e mantém Kasavubu na presidência.

Esquecendo-se de seus ideais socialistas, Mobutu não só depôs seu protetor, mas também o entregou aos rebeldes separatistas da província de Katanga, que o assassinaram. Mobutu estava a um passo de se transformar no ditador de idéias conservadoras e alinhado politicamente aos EUA. Para tanto, primeiro expulsou do Congo os conselheiros militares soviéticos que lá estavam a convite de Lumumba. Mais tarde, em 1965, aproveitando-se de uma crise entre Kasavubu e seu primeiro-ministro, Moise Tshombe, depôs ambos e nomeou a si mesmo presidente, centralizando em suas mãos todo o poder.

Em 1971, o Congo passou a se chamar Zaire. E no ano seguinte, Mobutu, cujo nome completo era Joseph-Désiré Mobutu, adotou o nome de Mobutu Sese Seko Nkuku Wa Za Banga, ou, segundo uma das possíveis traduções: "O guerreiro todo-poderoso que, devido à sua resistência e vontade inflexível, caminha de conquista em conquista, deixando atrás de si um rastro de fogo".
 

Cleptocracia

Mobutu criou um tipo raro de governo, uma cleptocracia, ou seja, um regime político-social em que práticas corruptas, especialmente com o dinheiro público, são implicitamente admitidas ou mesmo consagradas. Financiado pelos EUA e pela França - que compravam sua fidelidade por temerem que a União Soviética passasse a controlar o centro da África -, Mobutu amealhou uma fortuna incalculável. Seu longo governo se restringiu a sufocar rebeliões, manter o país em permanente crise econômica, dar emprego a parentes e aumentar sua fortuna pessoal - que, no ano de 1984, protegida em bancos suíços, chegava ao valor da dívida externa do Congo/Zaire.

Enfrentando inesgotáveis problemas econômicos e sociais, Mobutu mostrava-se cada vez mais incapaz de administrar as crises. A entrada no Zaire de uma imensa leva de refugiados da etnia tutsi - vítimas de um genocídio ocorrido em Ruanda (nesse país vizinho do Zaire, membros da etnia hutu assassinaram milhares de tutsis) e da guerra contra o Burundi - levou a instabilidade política ao seu ponto máximo.

Além disso, com o fim da Guerra Fria, o Congo/Zaire já não tinha qualquer importância geopolítica para as potências ocidentais e Mobutu foi abandonado à própria sorte. Em 1997, os rebeldes tutsis e vários outros grupos de oposição tomaram o poder. Mobuto fugiu para o exílio, no Marrocos, onde viria a falecer em setembro do mesmo ano.
 

Folha de S. Paulo e El País