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Motivos para ler

Lucila Cano

20/04/2012 06h00

Não sei o que veio primeiro, se o gosto pela escrita ou pela leitura. O que sei é que desde pequena sempre gostei de ler e de escrever. “Quem lê, escreve bem”, dizia um professor. Sigo a recomendação dele ao pé da letra, com um acréscimo de conta própria: “Quem lê mais deve escrever melhor ainda”.

Quando garota, por volta dos 10, 12 anos de idade, além das obras de Monteiro Lobato, do “Pequeno Príncipe” e companhia, eu lia gibis de aventuras e as revistas de fotonovelas das minhas tias. Também li, às escondidas, alguns títulos considerados proibidos, como o famoso “Eu e o governador”, de Adelaide Carraro.

Em especial, o meu interesse era por resumos biográficos de grandes compositores de música clássica. Estranho, mas explicável. Tínhamos uma vizinha, professora de alemão, que não tinha filhos e que gostava de mim. Todo domingo, ela me levava para assistir aos “Concertos Matinais” no Teatro Municipal de São Paulo. Eu adorava o passeio, a orquestra, a grandiosidade do teatro, e queria saber mais sobre quem tinha criado aquelas músicas.

Nunca quis aprender a tocar nenhum instrumento. Lembrando daquela época, agora sei: minha curiosidade era puramente “jornalística”.

Despertar para a leitura

Em 18 de abril comemoramos o Dia Nacional do Livro Infantil, em alusão ao nascimento de Monteiro Lobato - o grande mestre da literatura infantil brasileira – em 1882. Através de seus personagens no “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, ninguém melhor do que ele demonstrou como a curiosidade ajuda a aprender e, principalmente, a gostar de aprender.

Os livros infantis de Lobato também enaltecem a figura do “instrutor”, seja ele um “sabugo de milho”, seja uma “dona Benta”, ou uma “tia Nastácia”. É a orientação segura que nutre a curiosidade infantil e ajuda a criança a despertar para a leitura.

O Instituto Pró-Livro (IPL), associação criada e mantida por entidades do mercado editorial, lançou em 28 de março passado, em Brasília, a terceira edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. O estudo foi realizado em 2011 com 5.000 entrevistados de 315 municípios de todos os estados do país, além do Distrito Federal.

A pesquisa está disponível para leitura no site do IPL (www.prolivro.org.br) e confirma algumas das minhas certezas. Professores, mães e pais (nesta ordem) são as pessoas que mais influenciam uma pessoa a ler. O fato de os pais (mães e pais) terem uma base escolar também é significativo, porque eles podem ler para os filhos, comentar as histórias e motivar as crianças para os temas dos livros.

A parte triste da pesquisa, pelo menos para mim, é a que revela que em média o brasileiro lê quatro livros por ano. Dos quatro, apenas dois são lidos do começo ao fim, ou seja, de fato, ele lê apenas dois livros por ano.

Felizmente, a grande maioria dos participantes desse estudo afirmou que a leitura é muito importante, porque “ler bastante pode levar uma pessoa a vencer na vida e melhorar a sua condição socioeconômica”.

Primeiro idioma

No mercado de trabalho, a questão da qualificação é grave. Os jovens à procura de estágio ou emprego têm uma preocupação válida e necessária pelo aprendizado de um segundo idioma. Acabam se esquecendo que, antes de tudo, precisam do primeiro, nossa rica e difícil língua portuguesa.

O Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube) divulgou resultados de pesquisa que realizou com 6.716 estudantes e que mostram a falta que faz o hábito de leitura, a começar pelo desempenho dos candidatos em entrevistas.

Segundo a pesquisa do Nube, na área de Jornalismo, cerca de 50% dos jovens cometem erros acima do limite aceitável em testes ortográficos. Alunos de Pedagogia chegam a 50% e os de Matemática a até 67%. Nos segmentos das Artes e Design, o índice alcança 71%. No caminho contrário, mas bem-sucedido, 75% dos estudantes de Engenharia e 83% dos de Direito têm êxito.

Ler não ajuda apenas a escrever, mas a compreender melhor o que se passa ao nosso redor e a expressar o que pensamos de maneira mais clara, sempre.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna