Topo

História do Brasil

A mãe de família - Texto veiculado em jornal fluminense do século 19

Autor desconhecido

Bem poucas são as senhoras que no tempo presente desempenham satisfatoriamente este honroso cargo de mães de família; umas só podem ter este título por terem parido os filhos; outras pela grande preguiça com que vivem e abandono de seus deveres deveriam ser chamadas - monas de família -, e outras pela má educação que dão aos filhos, infundindo-lhes maus exemplos, merecem o nome de - gatas de família -, e a exceção destas, resta uma centésima parte capaz de se incumbir da criação dos filhos. Eis-aqui pois, o motivo porque muitos homens receiam casar-se, na incerteza da mulher que tem lhes caber por sorte, e com razão se intimidam do contrato, porque há mulheres só para bailes; outras, só para quererem governar; outras, só para se inculcarem de sabichonas, e levarem dias inteiros lendo romances e novelas asnáticas, com que adquirem uma indigestão de heroísmo e soberba; outras, fanáticas e cheias de hipocrisia, querem se inculcar de santas e virtuosas, gastando os dias inteiros em missas, romarias, promessas, confissões, novenas, orações mentias, jubileus, indulgências e quanta casta de invenções fradescas há, e estas ainda são mais insuportáveis, pois além dos passeios continuados para as igrejas, na volta da festa trazem consigo uma chusma de beatas de mantilha, que vem servir de parasitas e bisbilhotar a casa, fazendo sempre parede e ajudando a mulher quando se arrufa com o marido, e infelizmente tudo concorre neste tempo para não haverem boas mães de família; a educação das meninas no século presente é mais de ornato do que de utilidade, ensina-se a dança, a música, o francês, e nada de português, apenas uma simples tintura de gramática pouco decorada e mal entendida, aprendem a fazer redes, tapetes, e carapuças de lã, e não cuidam em saber pontear meias de algodão, neste ensino impróprio vai a menina frequentando os tais colégios de formalidades até que, por estar já muito crescida, e com as asas muito grandes, se poe em risco de voar, então o pai retira-a para casa, onde passa os dias a engordar o mestre de piano com lições de dez tostões, para aprender a tocar três ou quatro valsas, sem compasso. Desculpada a bela iaiá com o estudo apurado na música, torna-se um automato na casa; os vestidos é preciso pagar a francesa modista para os alinhar, um rei de roupa suja é o mesmo que uma escrituração por partidas dobradas; e assim se vai criando empada para servir de pastelão ao papalvo que se casa com ela. Que mãe de família só pode esperas de uma moça criada tão alheia aos trabalhos domesticos? É apenas uma mulher para tirar geração, ou uma galinha para pôr ovos. E se ela é por demais achacada de ciúmes? Então só o diabo a pode aturar; é um buscapé de rabo, que leva tudo adiante de si, mete-se em tudo, e incomoda a todos.

Ao contrário, quanto é útil e agradável achar-se em casamento com uma senhora trabalhadeira e econômica, estes dois preciosos dotes oferecem ao marido uma riqueza inextinguível, que o acompanha e consola por toda a vida. Não, é o dinheiro do dote, nem a retórica da mulher que fazem o casamento agradável, é a boa moral da esposa, o cuidado que emprega em preparar o cômodo para o marido que vem da rua fatigado do serviço; a vigilância, e desvelo na criação dos filhos, o temor de Deus; sinceridade para com o companheiro, e sobreindo a engraçada gangorra que inventou Eva no Paraíso terrestre, quando quis engambelar a Adão para comer o fruto caroçado, que ficou engasgado na garganta.

Eis aqui, amabilíssimas brasileiras, um leve esboçou ligeira descrição de uma perfeita mãe de família, patente que vós tanto desejais, e de que tão depressa vos arrependeis!... Acreditai tudo quanto vos dizemos, pois, apesar de que ainda não entramos no templo de Himineo, temos sumo jeito para sermos casados, e feliz da moça que se casar cá com o filho de meu pai, dotado de um coração tão açucarado, que derrete-se todo em xarope de ternura. Por conseguinte, aquela que estiver nas circunstânciais, requeira em termos, que será despachada, conforme os documentos que apresentar, de cujo selo eu mesmo me encarregarei.

História do Brasil