Topo

História do Brasil

Política das salvações - Militares tentaram destituir as oligarquias

Vitor Amorim de Angelo

Especial para a Página 3 Pedagogia e Comunicação

Damos o nome de política das salvações ao processo de intervenções militares desencadeado, em alguns dos estados brasileiros, a partir de 1910, pelo presidente Hermes da Fonseca.

Para entender as razões desse processo, devemos relembrar certos fatos do início do período republicano: os dois primeiros presidentes da República foram os marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, cujo governo terminou em 1894. Pelas ligações que mantinham com o Exército, nada mais natural que os militares tivessem grande participação política naquele período. Afinal, tinha sido pela via militar que o Brasil passara da Monarquia à República.

De 1894 a 1910, porém, o país teve quatro presidentes civis. O envolvimento formal do Exército nas questões políticas foi diminuindo progressivamente, embora os rumos do país continuassem sendo discutidos por um grupo de militares. Naquela época, é importante lembrar, o Exército já havia se tornado o principal meio de ascensão social para a classe média baixa.

Esse grupo de militares fazia severas críticas ao carreirismo, ao nepotismo e à corrupção - valores muito comuns naquele Brasil oligárquico do início do século 20. Em todo o país, a política era dominada basicamente por grandes famílias, ora utilizando-se diretamente do Estado em seu próprio benefício, ora disputando com as oligarquias rivais - como no caso de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo - o controle sobre o Partido Republicano local.

A campanha civilista

Nos debates em torno da sucessão presidencial de 1910 ocorreu a primeira fissura no pacto da política do café-com-leite. Assim, Minas Gerais e São Paulo ficaram em lados diferentes durante a campanha.

Os mineiros, articulados com as oligarquias do Rio Grande do Sul, apoiaram o marechal Hermes da Fonseca - sobrinho do ex-presidente Deodoro da Fonseca. Os paulistas, por sua vez, junto com as oligarquias baianas, lançaram o nome de Rui Barbosa à sucessão de Nilo Peçanha.

A candidatura Rui ficou conhecida como campanha civilista, pois era uma alternativa civil ao lançamento de um militar à Presidência da República. Contudo, o marechal Hermes da Fonseca venceu as eleições e trouxe novamente o Exército para o centro da política nacional. E por todos aqueles valores que compartilhavam, os militares logo deram início a uma política de destituição das oligarquias locais: a chamada política das salvações.

A rigor, a intervenção de tropas federais nos estados buscava moralizar a vida política do país, derrubando as oligarquias locais e substituindo a antiga política dos governadores por um centralismo político. Pela identificação que tinham com o ideário militar, as classes médias urbanas logo passaram a apoiar as intervenções federais.

Durante a década de 1920, no movimento tenentista, ocorreria novamente essa identificação entre militares e classes médias.

Resistência das oligarquias às "salvações"

As intervenções federais ocorreram basicamente nos estados do Nordeste, embora a primeira tentativa de derrubar as oligarquias locais tivesse acontecido em São Paulo.

Inicialmente, o grande prejudicado com a política das salvações foi o gaúcho Pinheiro Machado, tradicional liderança do Rio Grande do Sul, que lançara Hermes da Fonseca à Presidência. Ligado às oligarquias nordestinas, Pinheiro Machado veria sua influência diminuir sensivelmente diante da derrubada de seus aliados políticos.

Esse foi, inclusive, um dos motivos que levou Pinheiro Machado a apoiar movimentos de resistência às "salvações", como no caso do Ceará. Sob a liderança de Cícero Romão Batista, o Padre Cícero (ou "Padim Ciço"), teve início uma violenta rebelião - conhecida como Revolta de Juazeiro - contra a nomeação do coronel Franco Rabelo para presidente da província do Ceará.

Em outros locais, porém, o governo interveio sem maiores problemas. Esse foi o caso de Pernambuco, Alagoas e Bahia. Quanto aos baianos, a intervenção também foi resposta tardia ao apoio dado pelas oligarquias locais a Rui Barbosa, em 1910.

Resistência paulista

O mesmo motivo levou o governo federal a tentar intervir na província de São Paulo. Os paulistas, contudo, organizaram-se rapidamente contra a intervenção militar.

Albuquerque Lins, na época o presidente da província de São Paulo, mobilizou a Força Pública - atual Polícia Militar - para resistir às investidas federais. De outro lado, o Partido Republicano Paulista deu início à formação de grupos de resistência em vários pontos da província. Assim, a intervenção em São Paulo nunca chegou a se concretizar.

A grande contradição da política das salvações foi que, a médio prazo, a derrubada de uma oligarquia apenas cedeu espaço para a ascensão de outra, de modo que pouco ou quase nada mudou na vida política das províncias. Ao mesmo tempo, num país fundamentalmente rural, Hermes da Fonseca quis derrubar as forças políticas baseadas no campo, especialmente os barões do café de São Paulo, que controlavam a produção do café - principal produto da economia brasileira à época.

História do Brasil