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História geral

Comunismo: utopia, ciência e realidade (1) - Da natureza à sociedade

Antonio Carlos Olivieri, Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

"Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos." Com essas palavras, Marx e Engels encerram o "Manifesto do Partido Comunista", lançado em 1848. Nele, clamavam pela união do operariado contra a burguesia, em nome de uma revolução que devia criar uma sociedade sem classes. Trata-se de um panfleto político que somente delineia as ideias dos dois filósofos, expressas de maneira mais extensa em sua obra principal, "O Capital".

Antes de mais nada, é preciso compreender que o pensamento de Marx propunha uma interpretação materialista da História. Na segunda metade do século XIX, a ciência conhecia um momento de grande desenvolvimento, em especial devido às descobertas de Charles Darwin, cujo evolucionismo é a base das ciências biológicas ainda hoje.

Empolgado com o materialismo de Darwin, Marx quis dedicar a ele o segundo volume de "O capital" (mas o cientista inglês rejeitou a oferta). De qualquer modo, Marx acreditava ter descoberto - para a história - aquilo que Darwin descobrira para a biologia: uma lei objetiva que explicava seu funcionamento. Para Darwin, a natureza era movida pela "seleção natural". Para Marx, a história era movida pela economia e pela luta de classes.

Em primeiro lugar, segundo Marx, estão os meios materiais através dos quais os homens garantem sua sobrevivência. Por isso, a organização econômica de uma sociedade seria o elemento determinante de sua política e de sua cultura. O ser humano, porém, é visto como agente capaz de transformar essa realidade. Aliás, Marx dizia que - até ele - a filosofia tinha se limitado a explicar o mundo, agora chegara o momento de transformá-lo.

Revolução reciclada
Para demonstrar essa tese, o marxismo descrevia o que aconteceu durante a Revolução francesa, quando a burguesia teria destronado a nobreza. A nova revolução proposta por Marx daria sequência à marcha da história, erguendo o operariado contra a burguesia, que o explorava.

Mas em que consistiria essa exploração? Segundo Marx. ao vender sua força de trabalho, o operário estaria alienando (transferindo para outro, no caso o patrão) sua capacidade criativa, bem como o produto do seu próprio trabalho. Ou seja, o controle do processo e os lucros gerados pelo trabalho ficam nas mãos do capitalista, proprietário dos meios de produção (as máquinas, as fábricas...).

O papel do intelectual
O operário, contudo, não reconheceria a exploração de que é vítima. Daí a importância do intelectual marxista no processo de formação da consciência de classe, por meio da qual o trabalhador descobriria que seus interesses são divergentes dos da classe dominante. Além disso, o marxismo valoriza também as experiências de reivindicação específica dos trabalhadores, por meio de suas organizações representativas como os sindicatos e partidos políticos.

Enfim, para o marxismo, o operariado revolucionário seria capaz de destruir o capitalismo e o Estado burguês. Construiria, então, o socialismo, que consistiria na superação da contradição entre capitalismo e proletariado. Mas o fim último do socialismo é atingir o comunismo, fase em que a sociedade - sem classes - não precisa mais do Estado, que desapareceria.

Antes de isso acontecer, segundo Marx e Engels, ocorreria uma fase de transição - a ditadura do proletariado - em que é necessária a existência de um Estado forte e centralizador, capaz de planificar a economia. Vale a pena refletir sobre a implantação desse estado forte e centralizador nos locais onde ele ocorreu. Afinal, como disse o filósofo escocês David Hume, no século 18, só podemos compreender as crenças e as doutrinas que configuram o mundo observando a ação de seus pensadores.

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