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Até as freiras gostaram do funk da pilha, conta professor de química

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Felipe Martins

Do UOL, no Rio de Janeiro

10/04/2013 05h00

Silvio Predis é um professor incomum -- ele não reclama do salário, das condições de trabalho, nem tem problemas de disciplina com seus alunos. O carioca ensina química em escolas particulares do Rio de Janeiro e Niterói. Seus vídeos com o Rap da Pilha, um batidão com o conteúdo de química, têm mais de 1 milhão de visualizações no You Tube e mais de 300 mil compartilhamentos no Facebook.

Com o sucesso na rede, Predis passou a ser convidado para dar aulas em outros Estados -- o que lhe rende boas histórias para contar.

Em Santa Catarina, por exemplo, a escola anfitriã era um colégio religioso. Ele confessa que pensou: "Como vou cantar minhas músicas aqui?". Mas, segundo ele, não houve problemas. "A freira logo chegou me perguntando se eu era o professor dos vídeos, se eu iria dançar os funks. Isso é legal porque o meu trabalho não tem nenhuma pornografia, é ligado ao conteúdo da matéria”, disse.

O professor chega a lecionar dez tempos de aula no mesmo dia em até três unidades diferentes de um dos cursos pré-vestibulares que trabalha. Na última sexta-feira, por exemplo, esteve em Niterói, município da região metropolitana do Rio, e em dois bairros da capital: na Tijuca, na zona norte, e na Barra da Tijuca, na zona oeste.

Apesar do deslocamento por regiões distantes, Predis não reclama da rotina. Pelo contrário, acredita que tenha encontrado a fórmula certa para conciliar um trabalho que lhe dá prazer com uma boa dose de tempo livre, quando se dedica ao jiu-jitsu, ao surfe e a uma partida de futebol com os amigos.

“Sempre ouvi que professor não tem vida. Felizmente, comigo isso não acontece. Consegui encontrar trabalho em lugares que me dão uma boa condição. O salário que eu tenho hoje me atende para a vida simples que eu planejei ter. Tenho a noite livre para fazer outras atividades, ficar com a família, praticar esportes. Não sou escravo da aula”, disse.

Rap da Pilha

“Fiz essa música há 10 anos. Estava abordando um assunto complexo que é a pilha e comecei a pensar em alguma coisa para descontrair, que tirasse o clima de estresse e que servisse para resgatar o assunto. Aí surgiu o rap”, contou. “Depois da prova [de vestibular], os alunos vieram me contar que fizeram a prova lembrando da música. Percebi que através do funk eu conseguia prender a atenção e interagir com eles”, disse.

Predis ressalta que a música é “sempre o último recurso” para o aprendizado das matérias que leciona. “Não é a principal ferramenta. Esse ano, por exemplo, eu ainda não cantei . Eu só canto alguma coisa depois que o aluno assistiu a todas as aulas daquele conteúdo e fez uma grande quantidade de exercícios. A música é o último recurso do aprendizado. Serve para lembrar o que já foi dado em sala de aula”, disse.

O professor conta que recebe mensagens de todo o país de professores e estudantes elogiando o seu trabalho como docente. “Quando você se vê em uma mídia de grande acesso que é o Youtube esse retorno dos alunos é absurdamente aumentado. Eu já recebi mensagens dos mais diferentes lugares do país, de alunos de Manaus, por exemplo, até de professores. É gratificante”, comentou.

Além do Rap da Pilha, o professor pode ser visto na internet de chapéu de caubói fazendo versão de uma música do chamado sertanejo universitário e também cantando pagode, mas é o funk o ritmo que mais rende composições. “A maior parte acaba sendo funk porque foi o ritmo que mais ouvi na adolescência, o que mais me influenciou. Acabo conseguindo que o aluno chegue de peito mais aberto para as aulas. Chega muito mais propício a escutar, quebrando a barreira do aprendizado”, disse.