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Sucesso no Facebook, criadora do Diário de Classe escreve livro de papel

Após sua bem sucedida jornada em prol da escola no Facebook, Isadora Faber conta sua história em um livro - Renan Antunes de Oliveira/UOL
Após sua bem sucedida jornada em prol da escola no Facebook, Isadora Faber conta sua história em um livro Imagem: Renan Antunes de Oliveira/UOL

Renan Antunes de Oliveira

Do UOL, em Florianópolis

19/04/2014 06h00Atualizada em 19/04/2014 16h45

Aos 13 anos, a estudante catarinense Isadora Faber se tornou uma celebridade instantânea com seu “Diário de Classe”, publicado no Facebook. Ela só queria soluções para os problemas de infraestrutura da escola pública onde estudava, em Florianópolis, a Maria Tomázia Coelho.

Prestes a fazer 15, ela quer agora a história de sua luta eternizada. Para isto, mudou de mídia: escreveu um livro. Livro, sacou? Aquele de papel, com textos espalhados nas folhas – um objeto que a gente lê sem precisar ligar na tomada.

“O livro é para sempre”, diz, com um sorriso meigo, do jeito delicado com que fala quando está fora dos holofotes.

Ela não tem medo de dar um tiro no pé dizendo isto – afinal, foi na internet que fez 626 mil pessoas curtirem sua história de vida. Mas, aconselha: “O Facebook pode acabar, como acabaram o Orkut e o MSN. Com um livro isso nunca vai acontecer”.

Isadora conta que botou “um ponto final no livro na semana passada”. Sentiu-se aliviada, sem a  pressão do mundo dos adultos: “Eu tenho um contrato com a editora (Gutenberg, de São Paulo). Vamos começar uma maratona de viagens para lançamentos”.

Não parece difícil para a menina que passou o último ano viajando pra cima e pra baixo pelo Brasil, dando palestras sobre como fazer/pensar/bolar/ajudar educadores a melhorar a qualidade do ensino público – tarefa prioritária do Ministério da Educação.

Nas suas andanças, Isadora sentiu a necessidade de uma estrutura pra garantir o trabalho. Com a ajuda dos pais, ela criou então a ONG com seu nome – sede na casa da família na praia do Santinho, a 40 km do centro de  Floripa.

ONG faz uma interação entre o mundo cibernético e o real. Isadora conta que copiou “uma boa ideia da Bahia” e lançou o projeto Aluno Nota 10: a fundação recebe doações de notebooks, tablets, smartphones, bicicletas e repassa para estudantes com bom desempenho. “Estamos começando, é uma boa forma de incentivo”.

E como ela está vivendo?

“Atarefada”, diz, balançando a cabeleira loira que está deixando crescer --era curtinha no ano passado. Vaidade? “Não. Depois que crescer bastante vou doar para as crianças com câncer” – bem Isadora, sempre preocupada com os outros.

O dia dela começa cinco em ponto. Logo está na hora de pegar o ônibus para o Colégio Solução, onde este ano começou o primeiro ano do segundo grau. Viaja uma hora e meia, sonolenta, até chegar ao destino, no centro de Floripa.

“As aulas são puxadas, é uma escola particular”, diz, sem ironia. Os pais pagam mensalidade de R$ 420. Ela conta que volta para almoçar em casa – mais hora e pouco no busão. Divide suas tardes entre  aulas de reforço, inglês na academia Kumon e ajudando a mãe nas tarefas da casa, nos cuidados com a avó com necessidades especiais.

Mudando a plataforma

E a fama? “Aquele assédio dos primeiros meses está passando”, diz, como se estivesse aliviada. Os acessos ao seu Diário "estagnaram um pouco” depois dos 600 mil, agora eles pingam mais devagar, aos atuais 626, contados até o final de semana.

A editora e a autora mirim esperam que destes milhares saiam os futuros compradores do livro. Com tiragem de 10 mil (os destinados à eternidade), eles apostam é no sucesso da versão e-book. Ela não quis falar dos valores do contrato.

Que novidades o leitor pode esperar na obra? “Nenhuma”, diz, candidamente, sem se preocupar com o marketing. “Eu vou contar os bastidores de todas as experiências que tive”.

Se ela acha que é pouco, está enganada. Seu Diário provocou reações violentas de colegas, a fúria de professores e abalou o sistema público catarinense – até ela ser ouvida e respeitada. No ano passado, ficou entre os 25 brasileiros mais influentes, segundo o jornal inglês Financial Times.

Ela não deu bola para a honraria: “Tenho certeza que o resultado do Diário foi para melhor”, afirma, sem modéstia. “As críticas que eu fiz tinham fundamento e muita coisa foi mexida enquanto o blog esteve no auge”.

Ainda hoje ela recebe pedidos para participar de eventos em defesa da qualidade do ensino público. Com a ajuda da mãe, seleciona os melhores e acha tempo na agenda para participar e ajudar.

Num lado mais pessoal, o que faz a menina de 1m60 e 40 quilos quando não está na pele da Isadora autora/palestrante/celebridade? “Não tenho namorado”, vai avisando. Lazer? Muita praia (sempre que tem sol, a 200 metros de casa).

E ler, no conforto de seu quarto, com o bebê poodle Juba no colo. No momento, está lendo “A Menina que Roubava Livros”. Aquele que ela escreveu estará nas livrarias em 16 de maio.