Com histórico até a 7ª série, interno da Fundação Casa aprende a ler aos 17
O pedido do jovem infrator ao chegar na Fundação Casa foi incomum: “senhora, eu queria aprender a ler”. Era seu "sonho", contam as professoras. Sua apreensão também foi pouco usual: ao achar que havia cometido um erro muito grave, Jonas*, 17, resolveu se entregar e cumprir sua pena.
Ele perdeu a liberdade, mas realizou o sonho: prestes a completar 18 anos, após quase um ano de internação, ele começa a ler e a escrever. Até chegar à fundação, Jonas havia estudado até a 7ª série em uma escola pública de São Paulo. Anos na sala de aula, no entanto, não lhe garantiram sequer a leitura e a escrita.
Sem conseguir acompanhar às aulas, ouviu de uma professora que deveria “sentar e apenas copiar”. “Os professores não tinham tempo”, diz. Passava de ano com a aprovação do conselho de classe. Passava, mas não aprendia. “Pegava ônibus só pelo número, não pela letra”.
O histórico escolar registra ainda duas reprovações. Sem aprender e prestes a terminar o ensino fundamental, decidiu abandonar a escola. Cometeu um ato infracional e procurou o fórum da cidade para se entregar. Perdeu a companhia dos amigos, da namorada e o abrigo na casa da mãe.
Na 8ª série sem saber ler
Quando as grades se fecharam, ele 'adotou' um novo corte de cabelo (igual para todos os internos), passou a usar o uniforme e percebeu uma chance de realizar o seu maior sonho. Seu histórico escolar lhe garantiu matrícula na 8ª série, atual 9º ano, do ensino fundamental.
Na sala, sentou na primeira fila e começou a fazer reforços de alfabetização. Os outros meninos zombaram dele, mas ele não ligou. Aos poucos, quem só sabia desenhar umas letras passou também a juntar sílabas: pato, vaca, faca, coelho, foram algumas das primeiras palavras que leu sozinho.
“Eu não sabia nada quando entrei aqui. Minha mãe até chorou quando eu ganhei diploma de melhor aluno”, conta o interno. Fez também cursos de corte de cabelo, artes cênicas, artes plásticas, biojóias e aprendeu a fazer sabonetes e salgados. Também é destaque no time de basquete na unidade.
Mario Volpi, representante da Unicef, afirma que as medidas com mais êxito estão relacionadas a estruturas que não necessitam da internação, mas dependem da articulação entre a escola, a comunidade e o sistema de atendimento socioeducativo. "O ideal é que a instituição não precise prender para ele descobrir suas habilidades", diz.
Logo que entrou na Fundação Casa, Jonas descobriu que seria pai. Perdeu os nove meses de gravidez, o nascimento do bebê e só conheceu a filha quando ela completou três meses. “Agora eu quero trabalhar e cuidar da minha filha. Quero estudar, fazer supletivo e depois fazer uma faculdade, quero ser professor de educação física”, diz.
Jonas ainda não sabe quando sairá da Fundação Casa.
*Nome fictício
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.