EUA: 27% das estudantes já sofreram violência sexual na universidade
Em quatro anos de faculdade, mais de um quarto das estudantes mulheres em um grupo de 27 das principais universidades dos EUA foram atacadas sexualmente à força oquando estavam bêbadas ou tinham usado drogas, segundo um dos maiores estudos do tipo divulgado na última segunda-feira (20).
Respondendo a uma pesquisa encomendada pela Associação de Universidades Americanas (AAU na sigla em inglês), 27,2% das estudantes do último ano do curso superior disseram que desde sua entrada na faculdade experimentaram algum tipo de contato sexual indesejado - qualquer ato entre toque e estupro - por estarem incapacitadas, geralmente devido ao consumo de bebida alcoólica ou drogas. Ou realizado à força. Quase a metade desse grupo, 13,5%, tinha experimentado penetração, tentativa de penetração ou sexo oral.
A pesquisa confirmou conclusões de estudos anteriores, mas se destaca pelo tamanho - 150 mil estudantes de 27 faculdades e universidades participaram, na última primavera - e pela importância das instituições envolvidas: muitas universidades de elite dos EUA, incluindo todos os membros da renomada Ivy League, com exceção de Princeton.
No ano passado, o presidente Barack Obama convocou a primeira força-tarefa da Casa Branca sobre agressão sexual na faculdade, como parte de uma demanda crescente para que as faculdades reconheçam, mensurem e abordem o problema. Essa força-tarefa, que inclui membros do Congresso e defensores das vítimas, pediu que as faculdades realizem pesquisas rigorosas sobre o "clima no campus", com informação detalhada sobre a frequência dos ataques e assédios.
Estudos anteriores calcularam que aproximadamente uma em cada cinco mulheres é atacada sexualmente durante o curso superior, embora as comparações sejam difíceis porque os estudos usam definições variadas de agressão sexual.
O novo estudo advertiu que apenas 19% das estudantes responderam à pesquisa, número muito menor que os de estudos anteriores.
A pesquisa da AAU descobriu que mesmo nas agressões mais graves, que envolvem penetração, quase três quartos das vítimas não relataram o episódio a autoridades, quanto menos à polícia. A razão que as vítimas deram com maior frequência para não denunciar os casos foi que elas não os consideravam sérios o suficiente para relatar; outras disseram que sentiam vergonha ou pensavam que não seriam levadas a sério.
"Essa pesquisa é uma confirmação significativa de um grande problema e corrobora o que temos dito sobre a mentalidade no campus e a recepção que as sobreviventes esperam encontrar", disse Zoe Ridolfi-Starr, vice-diretora da Know Your IX, um grupo que ajuda vítimas de agressão sexual.
A maior parte das instituições que participaram do estudo divulgou seus próprios números a partir da pesquisa, e várias das mais respeitadas tinham os índices mais altos de agressão sexual à força ou por incapacidade das estudantes - 34,6% em Yale, 34,3% na Universidade de Michigan e 29,2% em Harvard.
As conclusões foram "profundamente perturbadoras", disse o presidente de Yale, Peter Salovey. A abordagem da agressão sexual por Yale tem sido avaliada estreitamente nos últimos anos, e a universidade diz ter tomado diversas medidas para combatê-la. Thomas Conroy, um porta-voz da instituição, disse na segunda-feira que como o relatório da AAU é o primeiro desse tipo feito sobre Yale é impossível saber se essas medidas haviam surtido efeito.
A senadora democrata Kirsten Gillibrand, de Nova York, elogiou o estudo, mas manifestou impaciência porque o Congresso não agiu para obrigar as faculdades a melhorar sua reação à agressão sexual. "Quantas pesquisas serão necessárias para que atuemos com a urgência que esses crimes exigem?", perguntou.
Alguns estudos anteriores se concentraram mais no estupro e na tentativa de estupro, mas a pesquisa da AAU abordou categorias muito mais amplas. Ele concluiu que, incluindo atos realizados sem força ou incapacidade, mas com coerção ou falta de consentimento - o que algumas faculdades hoje definem como agressão sexual -, um terço das mulheres do último ano haviam experimentado contato sexual indesejado durante a faculdade.
John D. Foubert, um professor de educação superior na Universidade Estadual de Oklahoma que estuda agressão sexual no campus, disse que ficou perturbado ao ver a baixa porcentagem de respostas e o uso pelo estudo da AAU de definições ligeiramente diferentes das pesquisas anteriores.
"Isto é bastante coerente com o que vimos antes", disse Foubert.
Em todas as 27 universidades os homens experimentaram índices muito mais baixos que as mulheres de agressão sexual - mas ainda significativos: 8,6% dos estudantes homens do último ano disseram ter experimentado algum tipo de contato sexual indesejado, incluindo 2,9% que experimentaram penetração, tentativa de penetração ou sexo oral realizado à força ou por incapacidade.
Estudantes transgêneros e outros que não se identificam como homem ou mulher tiveram índices mais altos de agressão que as mulheres. Especialistas disseram que este foi o primeiro estudo em grande escala a medir a extensão do problema para estudantes transgêneros.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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