Topo

EUA: 27% das estudantes já sofreram violência sexual na universidade

Richard Pérez Peña

23/09/2015 06h00

Em quatro anos de faculdade, mais de um quarto das estudantes mulheres em um grupo de 27 das principais universidades dos EUA foram atacadas sexualmente à força oquando estavam bêbadas ou tinham usado drogas, segundo um dos maiores estudos do tipo divulgado na última segunda-feira (20).

Respondendo a uma pesquisa encomendada pela Associação de Universidades Americanas (AAU na sigla em inglês), 27,2% das estudantes do último ano do curso superior disseram que desde sua entrada na faculdade experimentaram algum tipo de contato sexual indesejado - qualquer ato entre toque e estupro - por estarem incapacitadas, geralmente devido ao consumo de bebida alcoólica ou drogas. Ou realizado à força. Quase a metade desse grupo, 13,5%, tinha experimentado penetração, tentativa de penetração ou sexo oral.

A pesquisa confirmou conclusões de estudos anteriores, mas se destaca pelo tamanho - 150 mil estudantes de 27 faculdades e universidades participaram, na última primavera - e pela importância das instituições envolvidas: muitas universidades de elite dos EUA, incluindo todos os membros da renomada Ivy League, com exceção de Princeton.

No ano passado, o presidente Barack Obama convocou a primeira força-tarefa da Casa Branca sobre agressão sexual na faculdade, como parte de uma demanda crescente para que as faculdades reconheçam, mensurem e abordem o problema. Essa força-tarefa, que inclui membros do Congresso e defensores das vítimas, pediu que as faculdades realizem pesquisas rigorosas sobre o "clima no campus", com informação detalhada sobre a frequência dos ataques e assédios.

Estudos anteriores calcularam que aproximadamente uma em cada cinco mulheres é atacada sexualmente durante o curso superior, embora as comparações sejam difíceis porque os estudos usam definições variadas de agressão sexual.

O novo estudo advertiu que apenas 19% das estudantes responderam à pesquisa, número muito menor que os de estudos anteriores.

A pesquisa da AAU descobriu que mesmo nas agressões mais graves, que envolvem penetração, quase três quartos das vítimas não relataram o episódio a autoridades, quanto menos à polícia. A razão que as vítimas deram com maior frequência para não denunciar os casos foi que elas não os consideravam sérios o suficiente para relatar; outras disseram que sentiam vergonha ou pensavam que não seriam levadas a sério.

"Essa pesquisa é uma confirmação significativa de um grande problema e corrobora o que temos dito sobre a mentalidade no campus e a recepção que as sobreviventes esperam encontrar", disse Zoe Ridolfi-Starr, vice-diretora da Know Your IX, um grupo que ajuda vítimas de agressão sexual.

A maior parte das instituições que participaram do estudo divulgou seus próprios números a partir da pesquisa, e várias das mais respeitadas tinham os índices mais altos de agressão sexual à força ou por incapacidade das estudantes - 34,6% em Yale, 34,3% na Universidade de Michigan e 29,2% em Harvard.

As conclusões foram "profundamente perturbadoras", disse o presidente de Yale, Peter Salovey. A abordagem da agressão sexual por Yale tem sido avaliada estreitamente nos últimos anos, e a universidade diz ter tomado diversas medidas para combatê-la. Thomas Conroy, um porta-voz da instituição, disse na segunda-feira que como o relatório da AAU é o primeiro desse tipo feito sobre Yale é impossível saber se essas medidas haviam surtido efeito.

A senadora democrata Kirsten Gillibrand, de Nova York, elogiou o estudo, mas manifestou impaciência porque o Congresso não agiu para obrigar as faculdades a melhorar sua reação à agressão sexual. "Quantas pesquisas serão necessárias para que atuemos com a urgência que esses crimes exigem?", perguntou.

Alguns estudos anteriores se concentraram mais no estupro e na tentativa de estupro, mas a pesquisa da AAU abordou categorias muito mais amplas. Ele concluiu que, incluindo atos realizados sem força ou incapacidade, mas com coerção ou falta de consentimento - o que algumas faculdades hoje definem como agressão sexual -, um terço das mulheres do último ano haviam experimentado contato sexual indesejado durante a faculdade.

John D. Foubert, um professor de educação superior na Universidade Estadual de Oklahoma que estuda agressão sexual no campus, disse que ficou perturbado ao ver a baixa porcentagem de respostas e o uso pelo estudo da AAU de definições ligeiramente diferentes das pesquisas anteriores.
"Isto é bastante coerente com o que vimos antes", disse Foubert.

Em todas as 27 universidades os homens experimentaram índices muito mais baixos que as mulheres de agressão sexual - mas ainda significativos: 8,6% dos estudantes homens do último ano disseram ter experimentado algum tipo de contato sexual indesejado, incluindo 2,9% que experimentaram penetração, tentativa de penetração ou sexo oral realizado à força ou por incapacidade.

Estudantes transgêneros e outros que não se identificam como homem ou mulher tiveram índices mais altos de agressão que as mulheres. Especialistas disseram que este foi o primeiro estudo em grande escala a medir a extensão do problema para estudantes transgêneros.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves