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"Não queremos nossa escola tratada como sucata", diz estudante de ocupação

Hugo Araújo

Do UOL, em São Paulo

04/05/2016 18h41

A manhã de quarta-feira (4) ainda estava começando quando um grupo de estudantes secundaristas deu início à ocupação da Etec (Escola Técnica) Mandaqui, na zona norte de São Paulo. Do lado de fora, uma faixa estendida na grade da escola anuncia a ocupação. No portão, os alunos se revezam para atender a imprensa e cuidar da segurança do local. Professores e funcionários são barrados.

O prédio é mais um a ser tomado pelos estudantes de São Paulo que já ocupam 15 instituições, segundo o grupo de secundaristas. “Não queremos que a Educação e nossas escolas sejam tratadas como sucata, queremos nossos direitos”, afirma um porta-voz dos alunos da Etec Mandaqui.

O sentimento é comum entre os estudantes das três Etecs visitadas pelo UOL: além da Etec Mandaqui, a Etesp e a Etec Albert Einstein. Destas, só a última não está ocupada. Enquanto isso, o plenário da Assembleia Legislativa de São Paulo continua ocupada por estudantes que exigem a abertura de uma CPI (Comissão parlamentar de Inquérito) sobre desvios de verbas para merenda.

Na Etec Mandaqui, foram realizadas duas assembleias na terça-feira (3). As duas reuniões decidiram pela ocupação. Policiais militares estão presentes do lado de fora da escola, mas, segundo os estudantes, eles não tentaram entrar no local.

A Etesp, localizada na região central da capital, está ocupada desde segunda-feira (2). A organização da ocupação é fragmentada em comissões: limpeza, comunicação, alimentação, diálogo, segurança e atividades.

Durante a madrugada, os estudantes têm dificuldade de enfrentar o frio, afirma um porta-voz. Entretanto, esta não é a principal necessidade da ocupação. “O que a gente mais precisa é de visibilidade. Precisamos que as pessoas fiquem sabendo que nós estamos aqui. A população no geral nem sabe”, explica.

'Merenda é só o começo'

O protesto por uma CPI que investigue a chamada “máfia da merenda” e que o Estado ofereça alimentação de qualidade é comum entre os estudantes. Eles afirmam que passam o dia todo na escola e, caso queiram comer, tem de pagar do próprio bolso.

“Temos uma cantina terceirizada aqui, mas também podemos comer aqui nas redondezas. Geralmente é bem caro”, explica um dos alunos da Etec Mandaqui.

No entanto, a merenda não é a única reivindicação dos estudantes que ocupam as escolas. No caso da Etec Mandaqui, os alunos enumeram uma série de problemas estruturais, como falta de materiais e livros. “Em alguns cursos os alunos têm de comprar materiais caros, porque a escola não oferece”, conta um porta-voz da ocupação.

Na Etesp, os alunos também pedem o fim dos cortes na educação e participação no conselho de classe. “Queremos que o Estado melhore a educação pública, porque ela está muito precarizada”, conta um dos estudantes.

Consequências

Na Etec Albert Einstein, na zona norte da capital, o cenário é diferente: os estudantes não ocupam a escola. “Foram realizadas duas assembleias, mas elas decidiram pela não ocupação”, conta um dos estudantes. No entanto, eles também têm as mesmas reivindicações. “Almoço só se tirarmos do nosso bolso.”

Mesmo sem a manifestação, os estudantes conseguem já ver os efeitos da onda de ocupações na capital paulista: “Nós nunca recebemos merenda seca. Ontem começaram a dar, um biscoitinho e o achocolatado. Já é alguma coisa. E com certeza é reflexo das ocupações.”