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Aluno de escola pública premiado nos EUA quer mudar a vida de amputados

Luiz Fernando ganhou o 1º prêmio da Intel ISEF - Divulgação/Febrace
Luiz Fernando ganhou o 1º prêmio da Intel ISEF Imagem: Divulgação/Febrace

Thiago Varella

Colaboração para o UOL, em Campinas (SP)

06/06/2016 06h00Atualizada em 06/06/2016 15h04

No mês passado, 12 projetos realizados por estudantes brasileiros de ensino médio conquistaram prêmios na Intel ISEF (Internacional Science and Engineering Fair ou, em português, Feira Internacional de Ciência e Engenharia), realizado em Phoenix, no Estado norte-americano do Arizona. Trata-se de um dos mais importantes eventos de ciência do planeta.

Dois desses projetos chamam atenção pelo número de conquistas – três premiações cada um - e também pela sofisticação de ideias. Os autores estão saindo da adolescência, ainda nem entraram no mercado de trabalho e já estão colocando em prática invenções que podem revolucionar suas áreas de atuação.

Aos 17 anos, Luiz Fernando da Silva Borges, de Aquidauana (MS), misturou neurociência e robótica para vencer o primeiro prêmio da Intel ISEF. Seu projeto, talvez, seja o mais ousado: ele criou um software que possibilita uma pessoa amputada movimentar um braço virtual usando impulsos elétricos vindos do próprio músculo. É como se, no ambiente de realidade virtual, o sujeito voltasse a ter um braço normal, como o de qualquer outra pessoa.

Mais do que isso, o projeto de Borges fez com que amputados tivessem sensações no membro que perderam.

Inspiração

E, como um rapaz tão jovem, conseguiu ter uma ideia assim? E mais, como a colocou em prática?

Bem, a inspiração, segundo ele, veio do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis que fez com que uma pessoa paraplégica desse o pontapé inicial da Copa de 2014. E a ideia surgiu assistindo a um episódio da série House em que é relatado um caso de síndrome do membro fantasma em uma pessoa amputada.

"No episódio, o doutor House utiliza a terapia da caixa de espelhos para fazer o tratamento das pessoas com síndrome do membro fantasma. Nesta terapia, você esconde o coto do amputado atrás de um espelho e projeta o braço que ele ainda tem. Quando ele mexe o braço que tem, o cérebro interpreta que o braço que ele perdeu voltou. Com isso, as dores no membro fantasma tendem a diminuir. E isso me deu um insight para meu projeto", explicou.

Borges estuda no sétimo semestre do curso técnico de informática no Instituto Federal de Aquidauana. Com a ajuda de professores, financiamento dos pais e doações, ele conseguiu colocar seu projeto em prática. Primeiramente, criou um programa para coletar dados dos sinais elétricos musculares do braço 'perdido' de amputados usando a técnica dos espelhos.

Depois, com o auxílio do software criado, Borges bolou uma técnica para que o amputado voltasse a ter sensações no braço que já não existe mais. Sofisticado, não?

"Minha intenção é colocar a solução que eu criei na mão das pessoas que precisam. Agora, necessito de apoio financeiro e intelectual. Para passar de uma pesquisa média para um produto em que ortopedistas podem recomendar leva tempo e dinheiro", afirmou.

Nos Estados Unidos, além do 1º lugar em engenharia biomédica, Borges ganhou ainda mais dois prêmios. Filho único de um bombeiro e de uma professora primária, o jovem sempre estudou em escola pública e agora sonha em cursar neurociência ou engenharia biomédica nos EUA. Ah, claro, e ele também tem um sonho mais simples de se alcançar: conhecer Miguel Nicolelis, seu grande inspirador.

"Nunca me encontrei com o Nicolelis. Às vezes converso com ele no Twitter. Na premiação conheci um amigão dele. Seria uma honra poder encontrá-lo pessoalmente", disse.

Revolução na alfabetização

Em Campinas (SP), uma dupla quer revolucionar a alfabetização nas escolas do Brasil. Para isso, também usaram a tecnologia para bolar uma ferramenta que pode ser muito útil em sala de aula. Laura Rúbia Paixão Boscolo e Rafael Eiki Matheus Imamura, de 18 anos, eram estudantes do Colégio Técnico da Unicamp (Cotuca), quando criaram o projeto Yarner.

Com a ajuda de professores, os dois criaram um aplicativo em que o aluno consegue criar seu próprio livro virtual, o e-book, com desenhos e animações. A ideia é auxiliar o processo de letramento, alfabetização e ajudar na escrita das crianças.

"A ideia foi nossa e surgiu porque os hábitos de leitura no Brasil são ruins. Queremos mudar isso", afirmou Laura.

O projeto, inclusive, já foi implantado em uma escola pública da cidade de Campinas. Eles querem agora expandir para outros colégios pelo país.

"A gente quer transformar o projeto em uma startup para continuar a crescer cada vez mais. Na feira dos EUA, teve gente que se propôs a ajudar. A gente ainda não sabe onde que o projeto vai chegar", disse.

Enquanto não conseguem um parceiro ou investidor, Laura e Rafael dedicam-se à universidade. Ela cursa engenharia de produção na Ufscar (Universidade Federal de São Carlos). E ele está no curso de ciência da computação, na Unicamp.