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Professor repreende alunos que protestavam na Federal de Goiás

Jéssica Nascimento

Colaboração para o UOL, em Brasília

10/11/2016 11h57

Um vídeo que mostra um professor da UFG (Universidade Federal de Goiás) apontando o dedo para um estudante e afirmando que vai ter “borrachada” (alusão a bala de borracha) viralizou nas redes sociais. A confusão aconteceu no campus de Catalão, região que fica a 260 km de Goiânia.

Os alunos teriam proibido o docente de entrar na instituição, por conta da greve, que ocorre desde o início do mês, em protesto contra a proposta de emenda Constitucional (PEC) que limita os gastos públicos do Governo Federal.

Nas imagens, o professor de marketing Solon Bevilacqua aponta o dedo para um dos estudantes e diz que vai chamar a polícia. Uma das alunas se defende e pede para que ele respeite o movimento.

Ao UOL, Bevilacqua afirma que não se arrependeu do que disse aos alunos e se surpreendeu com a repercussão das imagens.

“Fiquei surpreso quando vi os milhares de compartilhamentos do vídeo no Facebook. Porém, faria tudo novamente e da mesma forma. Fui coagido por 30 alunos que selvagemente queriam impedir meu direito a liberdade e educação. Eu não fiz greve e avisei aos grevistas sobre isso. Fizeram panelaço e apitaços para impedir meu trabalho”, conta.

Questionado sobre a PEC 241, o educador acredita que a proposta seja uma ação econômica de choque. Segundo ele, a medida funcionou em diversos países em crise. ‘’Há gordura para queimar na educação superior. Doutores lecionando para meia dúzia de alunos. Enquanto isso, nossas crianças e jovens estão abandonados. Não adianta pensar em capacitar nossos desempregados. O país precisa voltar a crescer urgentemente. Nunca houve pátria educadora.”

Além do campus de Catalão, outras 19 unidades de ensino superior estão com as atividades paralisadas. O Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação de Goiás (Sint-ifes) estima que 90% dos prédios e órgãos das instituições de ensino superior foram atingidas.

Estudantes se dividem

O aluno de psicologia da UFG Cleiton da Silva Rodrigues, 20 anos, acredita que a atitude do professor foi “desmedida e desproporcional”. Segundo o jovem, Bevilacqua demonstrou desequilíbrio durante a discussão. “Os estudantes estavam somente realizando uma intervenção como forma de manifestar sobre aqueles professores que mesmo em greve, continuaram suas atividades.”

Para Rodrigues, a greve e as ocupações são uma forma legítima de luta em favor das reivindicações dos estudantes. “Agora é o momento propício para que as manifestações ocorram. É uma forma de demonstrar que estamos cientes e atentos as decisões e propostas governamentais”, explica.

Já a estudante Thais Martins, que é integrante do Movimento Contra a Ocupação da UFG, acredita que a universidade deve ser utilizada apenas com a finalidade de realizar atividades em benefício da comunidade e que não deve como bem público, ser usada para promoção de eventos de “natureza político-partidária e individualizados.”

“Com as ocupações, o acesso de alunos e professores e a realização de atividades como aulas, grupos de estudos e pesquisas, e extensões comunitárias têm sido impedidos arbitrariamente. Entendemos que vários estudantes estão sendo materialmente prejudicados com o atraso de pagamento de bolsas de pesquisa e monitorias, assim como auxílios fornecidos pela própria universidade. Os comércios localizados dentro da universidade também tiveram seu funcionamento paralisado, ameaçando o emprego de vários cidadãos e o sustento de suas famílias, disse.

Greve na UFG

Além do campus de Catalão, as unidades da UFG em Samambaia, Universitário, cidade de Goiás e Jataí estão com as atividades paralisadas.  A PEC, que limita os gastos públicos por 20 anos, limitando o valor sempre ao montante do ano anterior reajustado pela inflação, foi aprovada pela Câmara e ainda vai ser analisada em dois turnos pelo Senado.