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Meses após vencer câncer, jovem de escola pública é aprovada na UFSCar

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Bruna Lavrini

Colaboração para o UOL, em Santo André

26/11/2016 06h00

“Um sonho distante”. Em 2015 esse era o pensamento de Natalia Nascimento, 18, sobre entrar em uma universidade pública, principalmente por ainda estar em se tratando de um câncer ósseo, então recém descoberto.

Hoje, passado o susto e a insegurança, Natalia segue feliz no segundo semestre de terapia ocupacional da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), em São Paulo. A vaga foi conquistada por meio do Sisu (Sistema de Seleção Unificada), que seleciona alunos com base na nota do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

Aluna aplicada

A jovem nasceu em Santo André, região metropolitana de São Paulo, mas foi criada em São Mateus, extremo leste da cidade. Sempre estudou em escolas públicas e, mesmo não tendo tido acesso aos melhores colégios, conseguiu ser aprovada no vestibulinho da Etec (Escola Técnica Estadual) Sapopemba.

Em 2014, aos 15 anos e cursando o segundo ano do ensino médio, Natalia foi diagnosticada com câncer. Para tratar o tumor, localizado na clavícula, a estudante foi submetida a sessões de quimioterapia e radioterapia até meados de julho do ano passado – faltando quatro meses para o Enem 2015.

“Eu já tinha desistido de entrar em uma universidade pública. Enquanto a maioria dos meus colegas de classe estavam se preparando em cursinhos, eu só conseguia me preocupar em estudar para as disciplinas da escola”, relembra.

“Meus planos eram terminar a escola, entrar em um bom cursinho, trabalhar e prestar vestibulares nos próximos anos”, acrescentou.

Para Rita Arantes, coordenadora pedagógica da Etec de Sapopemba, o diferencial da jovem sempre foi a dedicação. “A Natalia sempre foi dedicada e a família apoiou em tudo. Muito presente na escola, apesar do sério problema de saúde, ela nunca desistiu”, diz. “Acredito que as características que distinguem um bom aluno não são nada mirabolantes. Mas sim, atitudes simples como as da Natalia.”

Grande surpresa

Mesmo achando que não tinha chances de conseguir uma boa nota, a estudante decidiu prestar o Enem. A intenção era só treinar. A surpresa veio quando soube da sua nota na redação – 800 pontos. Com sua média, conseguiu ser aprovada na Ufscar.

“Eu sempre tive muita fé em Deus, acredito que ele tenha me ajudado. Mas, em uma perspectiva mais cética, o pensamento positivo e a ideia de que tudo tem um tempo certo me trouxeram calma para fazer a prova. Eu sabia que teria a vida toda para tentar, não estava nervosa e pude dar o melhor de mim”, conta.

Planos

Depois de desafiar o vestibular e a doença, Natalia está curada e segue animada com a graduação. Seu objetivo é voltar para São Paulo e se especializar na área de ontologia ou saúde mental.

“Para mim, tem sido difícil estar longe de todos e fazer tudo por conta própria. Mas tem sido um recomeço. Sinto que já cresci muito e, percebi que faz parte da vida se adaptar”, conclui.