Escola pública não prepara para o Enem, diz candidata em Curitiba
“Havia na prova perguntas sobre coisas que nunca vi [em sala de aula]. Se o Enem serve para avaliar o ensino médio, posso dizer que a escola pública não é capaz de preparar um estudante para o exame”, desabafou neste domingo (4) a candidata Evelyn Rauen, 22, que fez a prova deste fim de semana numa faculdade particular no Santa Cândida, bairro da região norte de Curitiba.
A jovem atualmente estuda música erudita Escola de Música e Belas Artes do Paraná, mas deseja conseguir uma bolsa de estudos – por meio do Enem – para cursar processos gerenciais. Ela quer se preparar para abrir um café com o marido.
Apesar de criticar o ensino que teve na escola pública durante boa parte de sua vida, Evelyn disse achar que não teve um desempenho tão ruim –algo que ela credita aos dois anos em que estudou em colégio particular. “É nítido, para mim, que o que aprendi lá me deu condições de fazer o exame”, afirmou.
Fábio de Andrade, 21, estudou em escolas particulares e disse se sentir em vantagem sobre alunos de escolas públicas que, mesmo em greve e com atraso nos conteúdos que deveriam ter aprendido, tiveram de fazer o Enem em novembro. “É um absurdo. O correto seria todo mundo fazer o exame agora”, opinou.
O jovem cursa engenharia elétrica em instituição particular em Curitiba, mas fez o Enem para tentar uma bolsa de estudos para reduzir o valor que paga na mensalidade de seu curso.
Assim como muitos candidatos, gostou do tema da redação. “[Preconceito racial]É um assunto muito abordado. Mas confesso que esperava que falassem em corrupção, algo que está em voga”, afirmou.
A faculdade Machado de Assis fica a menos de um quilômetro da superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde atualmente cumprem prisão preventiva o ex-presidente da Câmara Federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o empresário Marcelo Odebrecht, e a cinco minutos, de carro, da sede de Justiça Federal, onde neste domingo houve protesto em defesa da operação Lava Jato.
Pela manifestação passou Marli Bogoni, 47, que chegou à faculdade vestida com camisa amarela do grupo “Vem pra rua”. “Trouxe minha filha [para fazer o Enem], fui para o protesto e agora vim buscá-la”, relatou. Questionada sobre sua opinião sobre as ocupações de colégios estaduais no Paraná –que causaram o adiamento do Enem para 43,6 mil estudantes, inclusive a filha dela, Gabriela, 15, que é treineira--, não poupou adjetivos.
“É uma estupidez”, disse. “As escolas foram destruídas”. Ao ouvir da reportagem que houve apenas relatos isolados de danos às unidades ocupadas, rebateu –“Não foi o que ouvi”. Ato contínuo, instou o repórter a fornecer o telefone. “Quero ver se vai sair tudo certo.”
O MEC destinou à faculdade Machado de Assis 672 inscritos no Enem. O UOL apurou que 250 não apareceram para fazer as provas. Não houve registro de incidentes. A segunda etapa do Enem, forçada pelas ocupações de escolas, usou apenas espaços privados –a maioria pequenos, e quase nenhum deles na região central-- em Curitiba. Até o fechamento desta reportagem, às 17h40, o segundo dia de Enem transcorria sem incidentes no Paraná.
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