Topo

Ocupada há seis dias, creche oeste da USP é cercada por tapumes

Divulgação
Imagem: Divulgação

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

23/01/2017 13h36Atualizada em 24/01/2017 11h48

Pais, alunos e funcionários que ocupam a creche oeste da USP (Universidade de São Paulo), localizada na zona oeste da cidade, há quase uma semana foram surpreendidos no domingo (22) pela colocação de tapumes ao redor do prédio.

A creche foi ocupada na última terça-feira (17), em protesto contra o fechamento do local e a transferência de crianças para a unidade central, também no campus Butantã. As unidades atendem crianças de quatro meses a seis anos.

“Eles não apresentaram nenhum documento ou alvará de permissão que formalizasse o trabalho. Chegaram e já foram instalando os tapumes e quebrando as calçadas”, afirmou uma das mães que participam da mobilização. Ela pediu para não ser identificada.

“A gente foi até ver nas comunicações internas se havia a previsão de obras no local, mas ninguém encontrou nada”, disse.

De acordo com ela, por volta das 6h30 uma equipe de funcionários de uma empresa terceirizada começou a quebrar a calçada e a cercar a unidade escolar. Algumas pessoas até chegaram a questionar a ação dos funcionários, mas a resposta foi que estavam cumprindo ordens.

Uma outra mãe que participa do protesto disse que o clima nesta segunda (23) é de atenção. “Estão nos sondando. PM, guarda [do campus] e pessoas que se dizem funcionários da empresa”, comentou. “[Ontem] Não apresentaram nenhuma documentação, nem nada. Foram furando o chão e colocando os tapumes.”

Entenda a polêmica sobre o fechamento da creche

Na terça-feira (24), a ocupação da creche oeste completará uma semana. No último dia 16 de janeiro, funcionários da unidade receberam um comunicado da SAS (Superintendência Assistência Social) da USP informando que entre os dias 17 e 20 de janeiro o departamento estaria transferindo equipamentos, materiais e mobiliário para a creche central.

Frente ao que consideraram uma ameaça de despejo às crianças que frequentam a creche, o grupo decidiu se organizar e ocupar o local no dia seguinte. Segundo uma funcionária ouvida pela reportagem, não houve um comunicado oficial da reitoria sobre a transferência das crianças e dos funcionários.

“Apenas comunicaram [por e-mail] que estariam recolhendo materiais e sugerindo que quem estivesse disponível ajudasse. Até agora não sabemos oficialmente para onde os funcionários e crianças irão", disse.

"O protesto é justamente porque não dá para as crianças serem jogadas de uma hora para outra", acrescentou. 

De acordo com os manifestantes, o fechamento da unidade vai contra a decisão do Conselho Universitário, que exigiu no final do ano passado que todas as vagas ociosas das creches da instituição de ensino fossem preenchidas.

A unidade oeste atende hoje cerca de 40 crianças. Segundo levantamento feito pela Apef (Associação de Pais e Funcionários) do local, a capacidade da creche oeste gira em torno de 120 vagas. A associação calcula que em 2017 a USP teria 157 vagas ociosas em suas cinco unidades de ensino infantil.

“A reitoria impediu a seleção e matrícula de novas crianças para preencher 157 vagas ociosas nas cinco creches para este ano letivo, fato que vem se repetindo há três anos seguidos. A demanda atual de novas vagas é de pelo menos 300 crianças, que preenchem os requisitos exigidos para pleitear atendimento”, defende um dos textos feitos pelos integrantes da ocupação.

O grupo planeja seguir na ocupação até tempo indeterminado. As atividades da creche recomeçam após as férias no dia 31 de janeiro.

“A gente se sente mal porque é um espaço delas. É dramático falar para sua filha que a creche que ela estuda vai fechar. Estão todos arrasados”, disse uma das mães.

A reportagem tenta contato com a USP desde a semana passada, mas só nesta segunda-feira (23) a reitoria informou que a universidade não irá se posicionar sobre o assunto.