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Reitor da UFPR atribui fraude a funcionárias e brecha em sistema federal

Fachada do Prédio Histórico da UFPR, em Curitiba - Karime Xavier/Folhapress
Fachada do Prédio Histórico da UFPR, em Curitiba Imagem: Karime Xavier/Folhapress

Rafael Moro Martins

Colaboração para o UOL, em Curitiba

16/02/2017 11h46

O reitor da UFPR (Universidade Federal do Paraná), Ricardo Marcelo Fonseca, atribuiu a uma falha no Siafi (Sistema Administrativo Financeiro), do governo federal, a brecha que permitiu o desvio de ao menos R$ 7,5 milhões em auxílios e bolsas de pesquisa pagos indevidamente a 27 pessoas sem nenhuma ligação com a instituição.

“Há um momento em que o processo se bifurcava. De um lado ia para o Siafi, para autorização do pagamento. Ali, aparentemente, é que acontecia o descaminho. De outro lado, ia documentação aparentemente correta para o pró-reitor [assinar]”, disse Fonseca, em entrevista coletiva concedida na manhã desta quinta-feira (16) na sede da reitoria, no centro de Curitiba.

Segundo o chefe de Tecnologia da Informação da PRPPG (pró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação) da UFPR, José Henrique Ferreira Pinto, a fraude era feita pelas servidoras responsáveis por cadastrar os nomes dos destinatários dos pagamentos no Siafi. Ambas foram presas, ontem, pela Polícia Federal. O processo tem de ser feito manualmente, com a inserção do CPF de quem receberá o dinheiro.

“A falha está aí. O Siafi deveria importar a lista [de bolsistas e pesquisadores] direto do sistema [da universidade]. Em vez disso, é preciso apenas digitar os CPF. A servidora ludibriou o sistema”, explicou Ferreira Pinto. “[As servidoras presas] trabalhavam na universidade há décadas. Pelo que diz a investigação, estavam envolvidas num esquema que agora veio à luz”, disse o reitor.

Ainda assim, Ferreira Pinto e Fonseca não souberam informar se a lista que o pró-reitor --autoridade máxima da PRPPG-- recebia do setor financeiro e assinava continha os nomes dos 27 beneficiados pela fraude ou não. “Havia um problema de controle. Mas não ausência de controle”, admitiu Fonseca.

Segundo ele, desde dezembro passado, quando tomou posse no cargo, o pagamento das bolsas está sendo conferido “individualizadamente”, com o cruzamento dos dados do Siafi com os do sistema da UFPR. Fonseca falou que irá sugerir ao governo federal mudanças no sistema, que é o principal instrumento de registro, acompanhamento e controle da execução orçamentária, financeira e patrimonial da União.

“Somos vítimas”

Na abertura da entrevista coletiva, Fonseca afirmou que a UFPR é “vítima de esquema criminoso que aconteceu dentro dos nossos muros.”

“Temos todo o interesse em esclarecer os fatos. Não vamos nos omitir. Vamos incrementar nossos sistemas de controle, para que episódios como esses não aconteçam jamais”, afirmou Fonseca.

Ele saiu em defesa de sua vice-reitora, Graciela Bolzon, e de outros sete servidores que foram levados coercitivamente a depor na Polícia Federal, ontem, por ter assinado parte dos documentos que autorizaram o pagamento de bolsas e auxílios de pesquisa irregulares.

“A professora Graciela, quando soube da operação policial, ontem, se apressou em se apresentar à Polícia Federal em Brasília [onde estava, com Fonseca, para reunião com o ministro da Educação, Mendonça Filho] para colocar as informações necessárias à apuração dos fatos”, falou.

“A vice-reitora é uma pesquisadora respeitada nacional e internacionalmente. O juiz federal [Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal de Curitiba, responsável pelo caso] fez questão de frisar que, por enquanto, não existem indícios de participação dolosa no esquema criminoso levado a cabo por duas servidoras da universidade. Parece ao juiz que houve abuso de confiança das duas servidoras”, falou o reitor.

“A universidade é um grande mundo administrativo. Tem o quarto maior orçamento do estado [R$ 1,4 bilhão em 2017, valor inferior apenas ao do estado do Paraná e do municípios de Curitiba e Londrina]. Ao longo do período [em que houve fraudes, 2013 a 2016] foram mais de R$ 700 milhões pagos em bolsas”, comparou. “Mas pode haver descaminho.”