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Esquema criminoso na UFPR era "negócio de família", dizem PF e juiz

Rafael Moro Martins

Colaboração para o UOL, em Curitiba

03/03/2017 11h45Atualizada em 03/03/2017 17h15

O esquema que desviou ao menos R$ 7,5 milhões em recursos que deveriam ser destinados ao pagamento de bolsas e auxílios de pesquisa na Universidade Federal do Paraná (UFPR) parece ter sido engendrado por três servidoras da instituição --uma delas aposentada-- e seus familiares. É o que dizem o delegado da Polícia Federal responsável pelo caso, Felipe Hayashi, e o juiz federal Marcos Josegrei da Silva, responsável pelo caso.

“São três núcleos familiares que atuaram em conluio para cooptar os falsos bolsistas. Mas as famílias eram as destinatárias finais dos recursos desviados da universidade”, disse Hayashi, em entrevista coletiva nesta sexta-feira (3) em Curitiba, após a deflagração da segunda fase da operação Research. Hoje, foram presas provisoriamente a servidora aposentada da UFPR, o filho e o genro dela.

Também foram detidas duas filhas de uma das servidoras da universidade que já está presa --agora preventivamente-- desde que a operação foi deflagrada, em 15 de fevereiro. A PF identificou transferências bancárias de mais de R$ 500 mil entre os beneficiados com bolsas e as filhas desta servidora.

A Polícia Federal também levou para depor, em Curitiba, as duas filhas da outra servidora presa desde fevereiro.

O delegado disse considerar que os 30 "falsos bolsistas" da UFPR podem ser considerados "laranjas conscientes". "Todos tinham, ainda que de forma mínima, consciência da ilicitude. Todos têm grau de participação [no esquema], e receberam parcelas, ainda que mínimas, das bolsas que eram depositadas em suas contas bancárias", justificou.

Por outro lado, os depoimentos colhidos até agora isentam ex-pró-reitores e a vice-reitora da UFPR de participação no caso.

O esquema

“A chefe da Seção de Orçamento e Finanças da Pró-Reitoria de Pós Graduação e Pesquisa (PRPPG) da UFPR, e a secretária da PRPPG [as servidoras presas na primeira fase da Research] operacionalizavam dolosamente as fraudes no âmbito interno da Universidade, na crença de que jamais seriam descobertas, tendo em vista o tempo de trabalho que possuíam, a confiança de que gozavam de seus superiores e a notória ausência de controle e transparência do setor em que trabalhavam, por omissão histórica da instituição”, anota o juiz, no despacho que determinou as prisões, conduções coercitivas e mandados de busca e apreensão desta sexta-feira.

Segundo o despacho, as duas servidoras “atuavam em conluio direto” com as filhas de uma dela --presas hoje-- e com a servidora aposentada, sua filha e seu genro --também detidos na segunda fase da operação--, que por sua vez é dono de uma empresa fornecedora de produtos para laboratórios que mantém contrato com a UFPR.

“Grande parte dos destinatários formais dos recursos públicos desviados afirmou a participação [das três servidoras presas] nas fraudes, isoladamente, em conjunto ou por intermédio de terceiros ou familiares”, anota o juiz.

Nos depoimentos transcritos no despacho do juiz, o filho da servidora aposentada --presa hoje-- afirma à Polícia Federal que outra das servidoras levava “pacotes muito bem embalados, por volta do dia 10 de cada mês” à casa de sua mãe. “Um dia”, transcreve o despacho, “decidiu abrir o pacote e viu que se tratava de uma grande quantidade de dinheiro em espécie”.

Fraudes na Pós-Graduação podem vir desde 2008

A empresa que pertence ao genro da servidora aposentada presa hoje é "fornecedora de materiais para a pós­-graduação da UFPR" e "suspeita de envolvimento em outros crimes na instituição federal", afirma no despacho o juiz Marcos Josegrei da Silva.

"Houve, em 2009, inquérito policial em que foi mencionada uma empresa, cujo dono é um dos destinatários finais dessas bolsas", afirmou o delegado Hayashi. "[Por isso] Acreditamos que possa haver alguma outra fraude ocorrendo desde 2008 na UFPR."