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Pezão culpa professores por Uerj sem aulas e ameaça cortar salários em 30%

Pedro Ladeira/Folhapress
Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Do UOL, no Rio

24/03/2017 17h43

O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, defendeu nesta sexta-feira (24) o corte de 30% do salário dos professores e funcionários da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) como forma de pressionar os profissionais que não estão trabalhando a retornar à universidade. Segundo ele, as aulas -- suspensas desde dezembro do ano passado devido à falta de recursos para manutenção do campus e ao atraso no salário de professores e terceirizados --, só não começaram por causa dos professores.

“O que a gente quer é que retorne a aula. Todo mundo está recebendo com atraso, tem professores de pós-graduação, mestrado e doutorado dando aulas. O que não dá é para ficar cinco meses parado. O Estado está fazendo um esforço imenso, e os alunos sem aula”, afirmou em entrevista à rádio CBN.

O governador disse ainda que consultou a procuradoria do Estado para decidir sobre o corte nos salários e espera uma resposta do órgão até o fim desta sexta-feira (24).

Questionada sobre as declarações do governador, a assessoria da Uerj informou que a universidade não foi oficialmente informada sobre nenhum corte e só irá se pronunciar quando isso ocorrer.

Para o historiador e professor da Uerj Rafael dos Santos, especialista em administração pública, o governador está tentando desviar o foco da crise da universidade ao jogar para os professores a culpa pelo atraso nas aulas. “Não se trata de uma paralisação dos professores, mas de uma decisão do colégio de professores e da reitoria. O que o Pezão está querendo é criar um fato político para retomar as aulas."

Segundo Santos, na situação em que a universidade se encontrar, retomar as aulas é uma "irresponsabilidade". “Não há limpeza, segurança, elevadores... A Uerj não tem condição de funcionar. O elevador que despencou caiu no horário de maior fluxo de alunos. E se caiu um elevador é porque não há manutenção há muito tempo. Tivesse aula, alguém teria morrido. É degradante você achar que pode retomar aulas dessa forma.”

SOS Uerj - Carlos Eduardo Cardoso/Agência O Dia/Estadão Conteúdo - Carlos Eduardo Cardoso/Agência O Dia/Estadão Conteúdo
Em crise, Uerj está há mais de 170 dias sem aulas
Imagem: Carlos Eduardo Cardoso/Agência O Dia/Estadão Conteúdo
170 dias sem aulas

A crise da Universidade Estadual do Rio vem se estendendo há anos e encontrou seu ápice em 2016, quando começou a adiar as aulas por falta de condições mínimas de funcionamento.

No ano passado, os alunos chegaram a ficar 170 dias sem aula devido à falta de verbas de manutenção e de custeio da instituição. Empresas terceirizadas responsáveis por infraestrutura, limpeza, segurança e coleta de lixo deixaram de receber os valores previstos em contrato, o que afetou o funcionamento da universidade, segundo a reitoria.

Professores e técnicos administrativos passaram a receber os salários parcelados. Até hoje, não foram pagos o 13º salário nem os vencimentos referentes aos meses de fevereiro e de março. O governo do Estado do Rio ainda está concluindo o pagamento do mês de janeiro, parcelado em seis vezes.

Desde dezembro, a universidade também não faz o repasse das bolsas estudantis de 7.500 cotistas que dependem do auxílio para a compra de material e pagamentos com alimentação e transporte. O "bandeijão" da instituição também parou de funcionar.

Segundo a Uerj, o governo deixou de repassar à instituição R$ 350 milhões do ano passado. O orçamento da universidade é de R$ 1,1 bilhão. Até agora, nenhum repasse referente ao orçamento de 2017 foi realizado.

Procurada, a Secretaria de Fazenda disse, por meio de nota, que neste ano não houve repasses para a universidade, pois o Estado ainda concentra esforços para quitar os salários do funcionalismo. Segundo a pasta, a Uerj recebeu no ano passado 76% do orçamento total previsto para a instituição, ou seja, R$ 767,4 milhões. "O restante dos repasses não ocorreu devido à crise nas finanças estaduais provocada pela queda na receita de tributos", diz a nota.

No comunicado, o governo do Estado do Rio de Janeiro disse ainda que reconhece a importância da Uerj e tem concentrado esforços para superar as dificuldades que atingem a instituição.

Uerj - Bruna Prado/UOL - Bruna Prado/UOL
Uerj segue sem aulas em 2017 por falta de repasses estatais
Imagem: Bruna Prado/UOL
Próxima do recomeço

Após adiar cinco vezes o retorno às aulas neste ano, a reitoria, juntamente com o Fórum de Diretores de Unidades da Uerj, decidiu que a universidade está mais próxima de recomeçar.

"O que se decidiu na semana passada é que, se a firma de manutenção colocar todos os elevadores funcionantes e se até quarta-feira (22) tivermos a limpeza de volta numa quantidade maior do que a atual, na quinta (23) já teremos um novo Fórum de Diretores e discutiremos a possibilidade de retornarmos às atividades na segunda-feira, dia 27", afirmou o reitor da Uerj, Ruy Garcia.

A universidade também informou que pretende entrar na Justiça para garantir os valores para funcionamento da instituição.

No entanto, os docentes da Uerj decidiram em assembleia nesta quarta-feira (22) que, até o momento, não há condições para o retorno às aulas. A decisão dos professores levou em consideração os serviços como a manutenção, limpeza, segurança e o funcionamento do restaurante universitário que ainda não foram garantidos. Os educadores também repudiaram a nota divulgada pela reitoria da universidade que não considera o pagamento de bolsas e salários como fundamentais para o retorno às aulas.