Trouxe até papel higiênico, diz aluna; como foi a volta às aulas na Uerj
No banheiro do primeiro andar do prédio principal do campus Maracanã, o cheiro é insuportável. Há vazamento de água no chão e as lixeiras estão cheias. Do lado de fora, não há bandejão, cinco de dez elevadores estão funcionando e falta todo o tipo de material para as aulas - de papel a equipamento de som. Essa foi a constatação no primeiro dia de volta às aulas na Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), que tenta reiniciar suas atividades após 3 meses de paralização.
Apesar de apoiar os professores, alunos se sentem inseguros com o futuro. “A gente se sente incapaz. Não sei se vou me formar ou se tenho que fazer o Enem de novo. Eu como no bandejão e vou voltar para casa para comer porque tenho aula à noite”, disse Victoria de Castro, estudante de engenharia química. Mas ela diz compreender a motivação dos professores. “Três meses sem receber, eles estão em dificuldade. É direito de todo trabalhador receber.”
Para alunos ouvidos pela reportagem do UOL, os serviços da universidade, que atende 42 mil estudantes, estão deficientes. “Temos que trazer papel higiênico, a água não é confiável. Um salgado e um refresco custa R$ 4, o bandejão é R$ 3, mas é comida”, disse a estudante de matemática Catharina Gama, que andava com um rolo de papel higiênico.
Adriene Duarte, aluna de engenhara cartográfica, teme perder um estágio porque o departamento administrativo, com a greve, só funciona dois dias por semana. “Só vou conseguir pegar o documento assinado pela universidade na semana que vem por causa do feriado. Espero não perder o estágio. Mas eu acho também que não há condições de voltar às aulas”, disse.
Thaís Abdias, estudante de matemática, afirmou que a greve do departamento de administração, afetou atividades das áreas da biblioteca, secretaria e departamento de estágio. “É difícil. Não têm garantias, não tem manutenção. Muitos alunos que passaram no vestibular e estão pedindo transferência”, contou a aluna, que faz parte do movimento estudantil.
Banheiros de outros andares, entre o 2º e o 8º piso, estavam limpos, porém, com o mesmo odor e sem papel ou sabonete. “Hoje nem é um dos piores dias”, afirmou uma professora que não quis se identificar.
Sem receber salários, os professores têm de arcar com o material de aula, já que o Estado também não está pagando a verba de custeio. “É papel, tonner. Até água a gente tem que trazer porque não dá para confiar nessa aqui”, disse o professor de letras Bruno Deusdará Rodrigues.
Na tarde desta segunda-feira, os professores decidiram em assembleia retomas as aulas. Uma nova assembleia foi marcada para o dia 18.
O serviço de limpeza do campus Maracanã foi contratado de forma emergencial em março. A empresa Appa alocou cerca de 200 trabalhadores terceirizados para limpar a universidade entre 29 de março e a primeira semana de abril, segundo uma funcionária ouvido pela reportagem. A UERJ confirmou o contrato. A empresa é a mesma que já trabalhava para a universidade, porém, o novo contrato tem valor mais baixo. “Nosso contrato é de seis meses só. Tenho medo de não receber”, afirmou uma funcionária que limpava o prédio nesta segunda pela manhã.
A UERJ afirmou que contratou 290 funcionários emergencialmente para cuidar da limpeza de toda universidade. A universidade também afirma que o bandejão deve voltar a ser servido dentro de 20 a 30 dias. Sobre a verba de custeio de materiais, a universidade informou que somente nesta terça poderá fazer o levantamento de quando ela será paga.
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